Escolas de circo de Curitiba sofrem crise financeira durante a pandemia

Alunos que não tinham espaço suficiente para as atividades foram prejudicados, os artistas circenses também foram forçados a procurar outras fontes de renda
Vanessa Caroline Guimarães | Foto: Pixabay
Com o agravamento da pandemia do coronavírus, não há previsão de volta das aulas presenciais nas escolas de circo de Curitiba. As escolas se depararam com a crise financeira e a redução no número de alunos, pois nem todos tinham espaço ou os equipamentos necessários para continuar as atividades. Os artistas da cidade também tiveram que procurar outras formas de trabalho.
A instabilidade no setor cultural não é novidade, este foi um dos mais afetados pela paralisação de atividades. As escolas de circo tiveram que migrar para o ambiente virtual na tentativa de continuar com o conteúdo das aulas presenciais, trazendo workshops e aulas abertas de exercícios mais simples.
A Escola de Circo Arte e Performance abriu em 2020, logo no início da pandemia e teve que fechar as portas. No início, a escola conseguiu se adaptar ao sistema de aulas online, a professora de aéreos e equilíbrio Jéssika Winnie afirma que o desânimo de permanecer dentro de casa prejudicou o rendimento das aulas.
“No começo foi legal, muitos alunos abraçaram a ideia e participaram das aulas, mas depois de 3 meses presos dentro de casa as nossas aulas começaram a cair, e o nosso ânimo também. Era uma preocupação que nem sabíamos que iria existir”, afirma Jéssika.
Os exercícios envolvem diversas áreas, como força e flexibilidade entre outros benefícios, tanto para o corpo quanto para a saúde mental. As atividades de circo necessitam de técnica e espaço. Por isso, as atividades online da escola passaram por uma organização diferente, as aulas que necessitavam de equipamentos adequados e grandes espaços foram impossibilitadas para alguns alunos. “O online é limitado. […] Ele não tem a parte social, a interação entre eles. Ficou uma coisa muito ‘o professor faz e o aluno repete’ e eu não gosto dessa estrutura de aula”, diz a proprietária da Arte e Performance, Cristiane Zolet.
Para a Escola Circocan, não houve preocupação com a frequência dos alunos no ambiente virtual. O diretor da escola, Pedro Mello, diz que já estavam preparados quando a pandemia chegou, logo no início da quarentena eles já aderiram ao sistema de aulas online. “Antes da pandemia, a aula online era uma coisa que a gente não cogitava, mas muitas pessoas se desenvolveram até melhor. A gente conseguiu reverter e construir um sistema bem sólido de aulas online”, explica Mello.
Mesmo com o sistema favorável, a situação financeira da Circocan também esteve em crise. Por não utilizarem a estrutura e os equipamentos, a mensalidade foi significativamente baixa. “O retorno financeiro não é equiparável ao retorno do presencial, é uma construção de longo prazo. Em termos financeiros o impacto é grande”, diz o diretor.
Os artistas foram forçados a procurar outras fontes de renda. A professora Jéssika Winnie também trabalhava como artista em eventos e baladas antes da pandemia, ela precisou desenvolver outra forma de trabalho para sobreviver, agora trabalha com a arte do macramê, que consiste na técnica de tecelagem manual utilizando nós.
“Não teria como se manter como artista”, explica Jéssika. “Todos os artistas tiveram que se reinventar. Nossa classe foi drasticamente afetada.”
A proprietária da Arte e Performance, Cristiane Zolet, explica que as aulas de circo possuem um benefício social, por conta da troca de truques e o contato pelos exercícios. Ela acredita que “a diferença entre fazer um exercício em uma academia e fazer um exercício na escola de circo é a integração entre os alunos”.
No Brasil, existem organizações voltadas à inclusão e formação dos cidadãos. A Rede Circo do Mundo Brasil agrupa instituições brasileiras unidas com o objetivo de desenvolvimento “Não teria como se manter como artista. Nossa classe foi drasticamente afetada” Apresentação de contorcionistas circenses. profissional da população através da arte do teatro, da música, da dança e do circo. Este processo visa à educação para crianças, jovens e adultos, e também pessoas em situação de vulnerabilidade social.
O circo cumpre um papel fundamental no setor cultural. Por conta de suas características únicas, ele abrange desde a construção de vínculos sociais ao estímulo da criatividade, além de ser aberto a todos os públicos.
O ambiente circense une a técnica ao entretenimento, ele expõe a diversidade, como comenta Pedro Mello. “O circo tem o caráter de ser muito inclusivo e colaborativo, pessoas de diferentes identidades e culturas se encontram em um espaço para construir algo juntos.”
Circo Tradicional de Curitiba (extra)
O circo da cidade surgiu em 1976, e funcionou com a administração da família Queirollo até 1979. Em 1980, foi nomeado como “Circo da Cidade de Curitiba” pela Fundação Cultural. As passagens nos bairros valorizavam a cultura local e ofereciam oficinas e entretenimento para a população.
No ano de 2008, o circo passou por mudanças em estrutura e equipamentos. O nome foi alterado para Circo da Cidade – Lona Zé Priguiça, em homenagem ao funcionário da Fundação Cultural de Curitiba, Pedro Irineu dos Santos, o Palhaço Zé Priguiça, que faleceu em 2001.
Durante a pandemia, as oficinas também migraram para o ambiente virtual, os conteúdos envolvem práticas circenses como mágicas e acrobacias simples. Alguns exemplos de atividades para se divertir no isolamento social são:
- Mímicas;
- Malabarismo com objetos (que não ofereçam risco a integridade física);
- Mágicas;
- Torre de copos;
- Fantasias (de palhaços, fadas, entre outros personagens).