Erros põem arbitragem brasileira em xeque

Testes físicos de Arbitragem Sul-Americana, parte do curso FIFA CONMEBOL CBF para Árbitros Jovens da FIFA 2015 dia 10 de abril de 2015. Foto: Rafael Ribeiro
Lances polêmicos geram críticas à formação dos juízes, inclusive no Paraná
Por Bernardo Vasques, Gabriel Witiuk e Pedro Freitas
Constantes erros de arbitragem têm atraído a atenção das partidas do Campeonato Brasileiro à atuação dos juízes e assistentes, muito questionados pelo volume de equívocos. Os erros mais marcantes ocorreram em desfavor do Atlético-MG: um pênalti não marcado no jogo contra o Grêmio e um toque de mão ignorado em um gol marcado pela Chapecoense. O time perdeu ambos os jogos, o que permitiu que o Corinthians assumisse a liderança provisória do torneio.
A discussão sobre o nível adequado da arbitragem põe em xeque a preparação desses profissionais. O caminho para atuar nessa atividade começa nas federações estaduais de futebol, responsáveis por formar os árbitros e orientar aqueles que já exercem a função. No caso do Paraná, a tarefa cabe à Federação Paranaense de Futebol (FPF), que a executa por meio da Escola Estadual de Arbitragem Victor Marcassa – órgão cujo estatuto prevê dar suporte técnico à comissão estadual de arbitragem, planejando e promovendo cursos, simpósios, encontros e palestras, e buscando aprimoramento técnico, físico e psicológico dos árbitros aspirantes e pertencentes ao quadro da FPF.
O jornalista Greyson Assunção, coordenador de esportes da rádio Banda B, que trabalha com esportes, afirma que o trabalho da FPF não é feito de maneira adequada. “A escola de arbitragem faz o que pode fazer, apesar de eu achar que a Federação Paranaense dá pouco recurso aos árbitros e, em um contexto geral, trabalha muito mal”.
Segundo Assunção, a estrutura de trabalho de um árbitro profissional no Paraná é extremamente precária, o que ficou claro na partida entre Coritiba e Chapecoense, disputada no último domingo (23). Na ocasião, a FPF não possuía rádios funcionando adequadamente para que a equipe de arbitragem pudesse se comunicar durante a partida.
Por outro lado, o ex-árbitro FIFA Evandro Rogério Roman afirma que a melhoria na formação de novos árbitros depende do próprio profissional, e não da estrutura da federação, por sua vez muito forte, segundo Roman. “O árbitro paranaense, de um modo geral, é muito forte, e a arbitragem paranaense é muito bem vista. Creio que as novas gerações devem se esforçar para ganhar mais experiência”.
Ida para outros estados
Também jornalista da Banda B, Felipe Dalke diz que o trabalho precário da FPF faz com que muitos árbitros paranaenses busquem aprimoramento em outros estados, de forma que o Paraná forme juízes com pouca qualidade. “A arbitragem paranaense em âmbito nacional é quase inexistente. É muito mais fácil você ver árbitros do Espírito Santo, por exemplo, que não tem um futebol forte, do que os paranaenses na Série A do Brasileiro. São poucos que se salvam. E o melhor que tínhamos (Heber Roberto Lopes) perdemos para a Federação Catarinense”.
A arbitragem paranaense, de fato, passa por uma má fase em relação ao cenário nacional. Atualmente, o Paraná não conta com nenhum árbitro principal no quadro da FIFA, sendo representado apenas pelo árbitro assistente Bruno Boschilia. Além disso, o estado não possuía sequer um árbitro aspirante ao quadro FIFA desde 2007, quando o próprio Evandro Rogério Roman foi indicado. Em 2015, o árbitro Felipe Gomes da Silva passou a figurar entre os aspirantes, se tornando uma das esperanças da arbitragem paranaense.
Tanto Dalke quanto Assunção acreditam que a solução seja buscar a profissionalização parcial ou total da arbitragem – quase todos os árbitros do país têm o apito como atividade secundária – ou seja, garantem o sustento com outro emprego e usam a arbitragem como fonte extra de renda. “Enquanto nós tivermos presidentes das federações que pouco sabem de futebol, fica complicado. Para a arbitragem mudar, nós temos que mudar o organograma em um contexto geral do nosso futebol”, pontua Greyson.
A tabela abaixo mostra quanto recebe por partida um árbitro paranaense da série A, explicitando que, se o profissional não figurar no quadro da FIFA e não for constantemente escalado para apitar jogos, a remuneração é realmente baixa e a solução é buscar sustento com outras atividades.
Formação: como se tornar juiz de futebol
Para fazer parte da Escola Estadual de Arbitragem Victor Marcassa, da Federação Paranaense de Futebol (FPF), o candidato deve atender a critérios previamente discriminados em edital pela FPF, lançado sempre antes do início de um novo curso. Para a formação, é necessário que o candidato seja aprovado em exames físico e teórico, seguidos de análise de documentação.
A prova teórica é composta por 20 questões de múltipla escolha e uma redação. Já o exame físico exige que os candidatos percorram correndo uma distância de 20 metros, em várias velocidades. Após os testes, os candidatos são classificados, e de acordo com o número de vagas ofertadas pelo edital, ingressam na escola, caso tenham todos os documentos entregues e regularizados como solicitado.
Uma vez na escola, o candidato realiza um curso de aproximadamente oito meses, dividido em diversas disciplinas, sendo cada uma pré-requisito para a próxima – ou seja, ao final de cada disciplina, o aluno é submetido a uma prova e precisa de um índice suficiente para cursar a seguinte.
Ao final do curso, ao ser aprovado na última disciplina, o aluno realiza o estágio supervisionado, no qual é escalado para apitar partidas de categorias não profissionais. Se, ao término do estágio, o aluno for aprovado, recebe o certificado de árbitro pela Federação Paranaense de Futebol e passa a poder prestar serviços junto à Comissão Estadual de Arbitragem, que é quem futuramente dará diretrizes para que um árbitro federado possa trabalhar em nível nacional, ou seja, nas séries de A a D do Campeonato Brasileiro e outras competições nacionais.