Entre catracas e tubos: doenças sem freios

Motoristas e cobradores de ônibus possuem tendência a ter danos na saúde decorrentes do trabalho
Bruna Martins Oliveira
Stress, problemas auditivos, trânsito e condições inapropriadas de trabalho fazem parte da rotina de motoristas e cobradores do transporte coletivo de Curitiba. Casos em que a saúde desses profissionais é prejudicada se tornam cada vez mais decorrentes.
De acordo com Dino Cesar de Mattos, vice-presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (SINDIMOC), cerca de 10% da classe se encontra afastada por complicações do trabalho.
“A nossa categoria gira em torno de 12.500 trabalhadores, e desse valor, dez por cento se encontram afastados para tratamento de saúde, que são relacionados a problemas de articulação, coluna, audição e até depressão. Eu sou motorista há 15 anos e vejo que as condições de trabalho são as piores possíveis, o que influencia isto. O trânsito é caótico, faltam soluções por parte das autoridades e nossa escala de trabalho é de 6 horas por dia, mas é estressante, pois há acidentes, problemas no veículo e outras coisas.”, afirma.
O vice-presidente ainda explica de que forma o sindicato pode auxiliar os profissionais que se sentem prejudicados com questões trabalhistas.
“Todo aquele que se sentir prejudicado no desempenho da sua função, precisa procurar o SINDIMOC. Nós oferecemos assistência médica, assistência jurídica e buscamos os direitos dos trabalhadores para ajuda-los da melhor forma possível”.
Augusto Rodrigues é motorista há um ano e confirma os obstáculos vivenciados no cotidiano, na lista de reclamações: às necessidades básicas para se ter qualidade de vida.
“Eu e todos os meus colegas enfrentamos várias dificuldades. Falta um banheiro decente, uma cadeira mais confortável, mais tempo para alimentação. É complicado, ficamos o tempo todo atendendo as pessoas sem poder se mexer direito. Outra coisa é a questão da audição, quem entrou na empresa sem problema no ouvido ainda vai ter, isso por causa do barulho do motor do ônibus. E de coluna também, mas muitos não reclamam por medo de perder o emprego”, conta.
Rodrigues ainda fala sobre o descaso das empresas e até da própria Urbanização de Curitiba S/A (URBS). “As empresas que contratam não estão nem aí. E a URBS é que menos se importa. Eles querem cobrar a gente, desde o horário até reembolso do caixa em caso de assalto, mas ver o nosso lado ninguém vê. Tem dias tem que comer o que dá, por causa das escalas desreguladas, muitos de nós ficam até sem almoçar”, critica.
Saúde com passagem bloqueada
Segundo o Fisioterapeuta e Técnico de Segurança do Trabalho, Ricardo Friedemann, os motoristas e cobradores estão suscetíveis a vários problemas de saúde.
“O fato de estes trabalhadores permanecerem durante quase todo o tempo sentados implica numa sobrecarga da coluna lombar, podendo gerar desgaste precoce. Poderá também atingir o sistema circulatório deste trabalhador, causando inchaço nos pés e varizes nas pernas, além de um problema ainda pouco divulgado que está relacionado à restrição das suas necessidades fisiológicas, uma vez que em determinadas linhas, o motorista precisa conter suas necessidades, o que provoca, por exemplo, problemas relacionados aos rins”, explica.
Friedemann ainda esclarece como a perda da audição é um problema que aflige a classe.
“A perda auditiva ocorre quando os ruídos advindos da atividade gerarem energia suficiente para atingir pelo menos o nível de ação (NA) previsto nas normas regulamentadoras do trabalho. Podendo ser esse ruído, do motor do veículo ou do próprio trânsito”.
O outro lado
Segundo a assessoria de imprensa da URBS, os vínculos empregatícios de motoristas e cobradores cabem às empresas particulares. Em Curitiba e região metropolitana há aproximadamente 33 empresas diferentes, e, portanto a URBS não se responsabiliza por problemas de trabalho.
“Não cabe à Urbs interferir na relação dos empresários com seus empregados. Isso é atribuição do Ministério do Trabalho. Todos os anos patrões e empregados assinam um acordo no Ministério do Trabalho, estabelecendo esta relação, em casos de irregularidades o sindicato deve ser acionado”.
A equipe de reportagem entrou em contato com algumas empresas, porém não houve retorno sobre o assunto até o momento.
Equipe: Caroline Paulart, Gilberto Stori Junior.