Em ano de pandemia, Dia Internacional da Enfermagem é marcado por forte pressão emocional

Fatores como longos plantões e a distância de familiares levam enfermeiros a crises de estresse e ansiedade
Por Eduardo Veiga e Letícia Fortes | Foto: Santa Casa Bragança Paulista
Enfermeiros espalhados pelo mundo não imaginavam viver um Dia Internacional da Enfermagem, comemorado nesta terça-feira (12), à beira de uma crise emocional. A responsável pelas mudanças na rotina dos profissionais de saúde é a pandemia de coronavírus. Fatores como a distância de familiares, longos plantões e o medo de serem acometido pelo vírus têm pressionado os trabalhadores. Já inseridos na vida dos profissionais da área, os sentimentos de estresse, ansiedade e apreensão tornaram-se mais presentes.
Esses conflitos emocionais apareceram na vida de Lucimara Alves, técnica de enfermagem que trabalha no Hospital Sugisawa. Ela comenta que a preocupação é transmitir vírus, por estar diariamente exposta. “Há uma carga emocional grande em poder passar o vírus para outras pessoas”, diz Lucimara. “Trazer para dentro de casa era o meu medo.” Ela foi diagnosticada com Covid-19 e permaneceu 14 dias afastada dos plantões. Retornou ao trabalho na última terça-feira (5), depois de se recuperar da doença.
Segundo dados da OMS, 5% dos profissionais de enfermagem do mundo estão contaminados com a Covid-19. De acordo com o Conselho Regional de Enfermagem (Coren-PR), 100 mil profissionais de enfermagem atuam no estado do Paraná. Desses, pelo menos mil enfermeiros atuam nas UTIs do estado, fazendo com que, de acordo com o IBGE, o Paraná fique entre os dez estados com a melhor estrutura profissional do país para o enfrentamento do novo coronavírus. São 128 enfermeiros para cada 100 mil habitantes.
Ainda de acordo com dados do Coren-PR, o estado conta com 81 casos de enfermeiros contaminados com Covid-19. Dos 76 casos ativos, 11 são confirmados e 65, suspeitos, sendo que cinco casos desses profissionais já foram curados e retornaram ao trabalho. Os enfermeiros que não integram essas estatísticas enfrentam não apenas adaptações no ambiente de trabalho, mas também na moradia. Em vez do modelo de plantão com 12 horas trabalhadas e 36 horas de folga, o Hospital Santa Cruz, da rede privada de saúde, implantou o modelo de uma semana ininterrupta de trabalho e uma semana livre, disponibilizando alojamento adequado para que os profissionais permaneçam longe de casa e evitem contaminar suas famílias. Outro exemplo é a iniciativa Hospital de Clínicas, que disponibilizou alojamentos do Estádio do Coritiba para os enfermeiros.
Alojamento para enfermeiros no estádio Couto Pereira – Foto: Vitória Peluso/Hospital de Clínicas
Medidas de apoio psicológico aos enfermeiros também têm sido uma preocupação. Segundo a presidente da Associação Paranaense de Enfermagem (Apenf), Rita Franz, a instituição lançará nesta quarta-feira (13), em parceria com a Plataforma PSI Social, um programa de atendimento aos profissionais, que busca facilitar o acesso ao suporte emocional. “O alto índice de contaminação dos profissionais da saúde vem muito da falta de tempo para o cuidado próprio, o afastamento da família e o descuido de parte da população com o isolamento social. É uma pressão social e psicológica”, afirma Rita. Ela reforça que considera ser extremamente importante o apoio da comunidade aos profissionais.
Quem recebe esse tipo de suporte valoriza o reconhecimento da sociedade. A técnica de enfermagem Lucimara Alves conta que foi presenteada no período em que esteve de quarentena. “Recebi doações de comida na porta da minha casa”, afirma. Ela diz que foi recebida na volta ao hospital com uma comemoração, com faixas personalizadas e manifestações de afeto por parte de seus colegas. “O apoio de todos é muito importante para o nosso trabalho neste momento.”
Homenagens
No Dia Internacional da Enfermagem, diversos setores da sociedade prestaram homenagens aos profissionais da área. Um grupo de representantes da categoria foi recebido nesta terça-feira (12) em uma reunião com o governador Ratinho Júnior. “O momento que vivemos é também uma grande oportunidade para toda a sociedade reconhecer e valorizar o sistema de saúde e a dedicação dos profissionais que atuam nessa área”, disse o governador. “A população está percebendo o trabalho dos nossos heróis da saúde, que trabalham ainda mais agora.”
Durante a reunião, a presidente do Coren, Simone Peruzzo, ressaltou que grande parte da categoria é formada por mulheres, que atuam no atendimento a pacientes desde as unidades de saúde até nos hospitais especializados. “Tenho 40 anos de profissão e mesmo com grandes desafios, como a Aids e a H1N1, e nunca enfrentei uma pandemia que se iguale a esta”, disse em entrevista à Agência de Notícias do Paraná. “Muitos profissionais optaram por não voltar para casa para não contaminar a família, estão em alojamentos ou hotéis. É um convívio direto com a doença e, consequentemente, com o medo. Não tem como não bater a angústia com a evolução dos pacientes e também com o futuro. É um momento delicado, mas estamos apoiando esses trabalhadores o tempo todo.”