Efeitos da pandemia ainda são sentidos no transporte público de Curitiba

Mesmo com o fim das restrições, o número de usuários segue inferior em comparação à 2019
Por Gabriel dos Reis
Ao longo dos últimos anos, as linhas de ônibus de Curitiba vêm perdendo uma grande quantidade de usuários. De acordo com levantamentos da prefeitura da capital paranaense, a cidade passou por um declínio de cerca de 26% entre 2019 e 2022. Nesse intervalo, o número passou de 203 para 150,1 milhões de passageiros. A pandemia de Covid-19 foi o principal fator responsável por essa grande queda.
Celso Mariano, especialista multidisciplinar em trânsito e ex-diretor de educação da SETRAN (Secretaria de Trânsito de Curitiba), avalia que a circulação do coronavírus impactou no uso do transporte público da cidade. “Com certeza impactou bastante, especialmente nos dois primeiros anos, levando muitas pessoas para outros meios de transportes.’’ Com as restrições impostas pela prefeitura, que chegou a limitar a ocupação dos veículos em até 50%, muitos se viram obrigados a recorrer aos carros de aplicativos, motos e até mesmo bicicletas. Essas pessoas, então, perceberam que esses outros transportes seriam mais eficazes de acordo com suas necessidades, por isso deixaram o ônibus para trás. Além disso, Celso aponta que a pandemia causou mais dois motivos para as pessoas pararem de usar ônibus: alguns foram demitidos de seus empregos, enquanto outros foram mantidos no home-office – onde o trabalhador consegue exercer todas suas funções diretamente de sua casa.
Com as normas do distanciamento, a URBS foi obrigada a realizar mudanças significativas nas rotas e horários dos ônibus. Alguns foram retirados de circulação e outras rotas foram modificadas para atender melhor às necessidades dos usuários. Com isso, mesmo após o fim da pandemia, os veículos continuaram a circular quase lotados em diversos horários. Esse foi um dos motivos que levou o estudante Cristian Rodrigues a parar de andar de ônibus. “Não tinha um horário que não estivesse ‘explodindo’ de gente’’. Ele também comenta outros fatores que pesaram na sua decisão de abandonar o transporte público: o atraso constante dos ônibus e o aumento da tarifa da passagem, que passou de R$ 5,50 para R$ 6.
A também estudante Cecília Kolson, por sua vez, continua a utilizar o ônibus como meio de transporte. Usuária desde 2022, ela diz que nos horários que utiliza esse transporte, os veículos costumam estar mais vazios ‘’os ônibus estão menos lotados nos horários que pego’’. Para justificar o porquê de ainda seguir assim se transportando, ela comenta sobre a facilidade em ir para várias regiões da cidade, pagando o mesmo valor independente da distância. Além disso, elogia a capacidade do ônibus em ajudar no combate à poluição: ‘’são mais pessoas concentradas em um único transporte ao invés de automóveis individuais’’. Mesmo continuando a andar de ônibus, a estudante concorda com Cristian ao falar sobre os atrasos e defende melhorias para o transporte. “Vejo uma necessidade em investimentos em políticas públicas que valorizem o transporte público, criando mais linhas e mais ônibus para acessar outros lugares.
Para os problemas apresentados pelos estudantes, Celso Mariano aponta que a URBS e a prefeitura devem arranjar maneiras de tornar o transporte mais eficaz e confortável, para assim torná-lo mais atrativo e convencer as pessoas a voltarem a preferir os ônibus aos demais veículos. Além disso, o especialista afirma que a prefeitura deve agir como se tivesse que lidar contra uma concorrência, para que não fique acomodada. Por fim, aponta que baixar o preço da passagem é essencial, já que desde 2015 o direito ao transporte é considerado um dos direitos básicos do cidadão.