Dobra o número de reclamações do transporte público no último ano em Curitiba

por Milena de Fátima Chezanoski
Dobra o número de reclamações do transporte público no último ano em Curitiba

Cerca de 40% das queixas dos passageiros é o atraso de horário pelas linhas de ônibus

Por Milena Chezanoski | Foto: Milena Chezanoski

Os números de reclamações sobre o transporte público em Curitiba dobraram em março, na comparação com o último ano. De acordo com os dados do “156”, serviço de ouvidoria da Prefeitura de Curitiba, foram 844 reclamações no período deste ano, em contraste com 308 reclamações efetuadas no mesmo mês em  2021. A época também marca o aumento da passagem, que foi de R$4,50 a R$5,50, em 2022. Dentre as principais reclamações presentes no levantamento, a falta de urbanidade dos motoristas lidera. Os passageiros também estão descontentes com a superlotação nos ônibus da capital.

Conforme levantamento realizado com os dados do “156”, as chamadas que envolvem, além das reclamações, solicitações e também sugestões eram 308 em março de 2021, já no mesmo mês deste ano subiram para 844. Destes números, as reclamações eram apenas 144 no ano passado, já em 2022 passaram a representar mais da metade das chamadas, totalizando 567 reclamações.

Em março deste ano, o preço da passagem aumentou 22% e Curitiba passou a ser a capital com a tarifa mais cara do Brasil, junto com Brasília, conforme levantamento realizado pelo G1. Maria Silva* é usuária do transporte público há mais de cinco anos e declara entender a necessidade do reajuste, considerando o preço do combustível, mas o serviço prestado não é suficiente pelo valor. “Muitas vezes parece que estão carregando um monte de boi, não seres humanos.”

A impressão de Maria não é isolada, pois 98% das reclamações feitas em março de 2022 relatam a falta de urbanidade dos motoristas, cobradores e demais funcionários com passageiros. Dentre os assuntos que envolvem a categoria, o atraso de horários é o que mais afeta os passageiros curitibanos. 

O professor Renato Vaz de Jesus, que utiliza o transporte público todos os dias para se locomover até o trabalho, reclama da lotação em horários de pico e a demora dos ônibus. “Tem pouco espaço e alguns demoram mais.” Durante a produção desta reportagem, dois passageiros ficaram presos na porta dos ônibus biarticulados, pois o motorista as fechou enquanto os usuários entravam no veículo.

Melhorias à frente

A pesquisadora Olga Mara Prestes, Doutora em Gestão Urbana, com foco em transporte público, identifica na rede de transporte público de Curitiba muitos pontos a serem melhorados, mas acredita que o serviço se sobressai a muitas outras cidades do país. “Ele só perde para as cidades que tem metrô, e olha lá!”

A especialista ressalta que parte do problema de atraso relatado pelos usuários diz respeito ao aumento do número de veículos no trânsito de Curitiba, os moradores preferem a comodidade do veículo próprio a utilizar o transporte público, o que também encarece a passagem. Quanto menos passageiros, mais cara é a tarifa, visto a necessidade de diluir os custos para cada usuário.

Em relação aos motoristas e demais funcionários, Olga afirma que a Urbanização de Curitiba (URBS) realiza o pagamento do “índice de qualidade”, que remunera os funcionários de acordo com a qualidade do serviço prestado, medida pelo índice do 156, em que constam as reclamações já mencionadas.

De acordo com a doutora em gestão urbana, uma possível solução seria o envio de subsídios do Governo Federal para o transporte público nas cidades, o que auxiliaria na cobrança de tarifas mais acessíveis para toda a população. “Acho que o governo federal deveria dar subsídios para o transporte público, igual com a educação e saúde, uma parcela do orçamento seria repassada ao transporte público.” 

Olga atua no Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (IPPUC), e afirma que dois financiamentos milionários de bancos privados, permitiram a elaboração de um amplo planejamento de melhorias a serem implantadas no transporte público da capital. O Inter II receberá mais vias exclusivas, que melhoram a pontualidade dos veículos, por meio de 106 milhões de dólares financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). 

Outra melhoria importante é a implantação do Ligeirão Sul, que já está em obras, e o Leste-Oeste, com previsão de início no próximo ano, que custará 75 milhões de dólares financiados pelo The New Development Bank (NDB). As informações destas melhorias podem ser encontradas no site do IPPUC – Mobilidade. Além de melhorias nos terminais, a ampliação da rede integrada para as linhas que hoje são convencionais, ou seja, não fazem a integração em nenhum terminal. 

*Nome fictício

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