Dificuldade em pagar salários aumenta número de demissões durante a pandemia

por Brunna Gabardo Roth
Dificuldade em pagar salários aumenta número de demissões durante a pandemia

Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social prevê taxa de desemprego no Paraná de 9,1% até fim do ano.

Por Brunna Gabardo e Sabrina Ramos

Num cenário otimista,  a taxa de desemprego no Paraná atinge 9,1% até o fim do ano, em relação à taxa de 7,3% do final do ano passado. Os dados são do o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES). Além da paralisação do mercado, um dos impactos já esperados por especialistas e pelos governos do Estado e de Curitiba é a dificuldade no pagamento de salários, o que leva ao desligamento dos trabalhadores. Por conta disso, empresas estão demitindo funcionários sem justa causa para priorizar setores internos com maior funcionalidade. Isso gerou um aumento nos pedidos do seguro-desemprego nos meses de março e abril.  

No Brasil, a taxa de desocupação subiu para 12,2% no primeiro trimestre deste ano, segundo o último levantamento do PNAD Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa é realizada  trimestralmente para acompanhar as variações sobre a força de trabalho. Esse número equivale a um aumento de 1,2 milhão de pessoas sem emprego, somando um total de 12,9 milhões de desempregados no país. Segundo o economista Filinto Eisenbach Neto, o crescimento da taxa não se deve exclusivamente aos impactos provocados pela pandemia da COVID-19. “Como não há nenhuma medida de investimento, a taxa de desemprego vem crescendo significativamente.”

O seguro-desemprego, auxílio ao trabalhador formal em virtude da dispensa sem justa causa, teve um aumento significativo no número de pedidos, e está relacionado ao congelamento do comércio. Muitos trabalhadores têm enfrentado problemas no atendimento online. “O que tem dificultado talvez seja a forma de acesso a esse pedido, tanto pela quantidade de pessoas, como pelas limitações de atendimento presencial”, explica a advogada Bruna Latronico de Camargo, que atua no setor jurídico de uma empresa de médio porte. 

Em relação aos acordos trabalhistas e as demissões realizados pelas empresas devido a COVID-19, é possível observar o medo dos funcionários de perder seus empregos. “A gente vê funcionário se esforçando muito para ajudar a empresa nesse momento. Estão dando seu melhor para de alguma forma se destacar”, avalia Bruna.

Em contrapartida às dificuldades recorrentes, o Governo Federal está trabalhando em medidas para “aliviar” o baque da pandemia para os trabalhadores. Além do Auxílio Emergencial de R$ 600, o governo sancionou a Medida Provisória 936/2020, que prevê a suspensão do contrato de trabalho por até 60 dias e a redução da jornada por meio de acordos individuais entre empregados e empregadores. Apesar de ser anunciada como um meio de manter os empregos, ela permite até 70% de redução salarial. A MP também inclui o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), destinado à trabalhadores que tiveram salários reduzidos ou contratos suspensos temporariamente devido à crise causada pela pandemia.

A estudante de Design Amanda Hermann teve o contrato suspenso e uma redução de 60% de seu rendimento. “Essa quantia paga meu aluguel, as contas da minha casa, mas tem uma sobra muito baixa. Então eu não conseguiria enviar dinheiro pra minha família nesse momento”. Ela aguarda o Benefício Emergencial do Governo, pois ainda não completou 30 dias da suspensão do contrato.

 

Análise dos impactos econômicos da pandemia no Paraná 

Até a metade de abril, 16 mil microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) mantinham suas portas fechadas devido às restrições de quarentena, segundo o IPARDES. Ao final do mês, 5,6 mil MEs e EPPs voltaram a funcionar. Das 3,6 mil empresas em regime normal fechadas até metade do mês, 1 mil empresas voltaram às atividades no fim do mês. Esses dados apontam uma tendência na retomada das atividades. 

Ainda que o setor econômico esteja enfraquecendo suas políticas de quarentena, o Paraná  perdeu em abril R$ 420 milhões com a falta de arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), comparado ao mesmo período do ano anterior. Esse valor corresponde a queda de 19,5% na principal fonte de arrecadação do estado.

O economista Filinto Eisenbach Neto explica que a atividade econômica depende da demanda, e para isso, é necessário ter renda. Ele aponta dois pontos importantes para estimular a economia: investimentos e emprego. “O investimento vem através de obras públicas, e tratando de questões políticas. O que cria emprego é o investimento público.”

A atividade econômica no Paraná caiu 33,7% no mês de abril. A Macrorregião Leste (Região Metropolitana de Curitiba, Litoral, Campos Gerais, Sul e a região Central), que compreende parte mais significativa da produção de bens com alto valor agregado no estado, apresentou 31,8% de queda. Além da maior queda geral, o setor industrial da Macrorregião Leste também teve a contração mais expressiva no estado, com queda de 49,9% em sua atividade.

 

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