Desmatamento da Mata Atlântica no Paraná cresce 35%

O Paraná é o terceiro estado no ranking de desmatamento, segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica.
Por Sabrina Ramos
O desmatamento da Mata Atlântica no Brasil cresceu 27,2% entre 2018 e 2019, segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Fundação SOS Mata Atlântica (SOSMA). Ao todo, 14.502 hectares foram perdidos, o equivalente a 14 mil estádios de futebol. O bioma integra 17 estados, sendo o Paraná o terceiro no ranking estadual de desmatamento, ficando atrás apenas de Minas Gerais (1°) e Bahia ( 2°).
Nos três primeiros semestres de atuação, a atual gestão de Governo Federal contabilizou 31 processamentos de proposições legislativas na área de meio ambiente e energia, apenas duas são de deputados federais paranaenses. Mesmo assim, as ações dos deputados Takayama (PSC) e Rubens Bueno (PPS) não comportam nenhuma proposta sobre preservação e desmatamento, elas tratam da exploração de grafeno e nióbio e de uma política de remuneração por serviços ambientais.
A Assembleia Legislativa do Paraná não atua com nenhuma política de preservação da Mata Atlântica, e ao que se refere a Mata das Araucárias são apenas duas as propostas da gestão atual. O Governo Estadual apresentou nos três primeiros semestres de atuação, 34 processamentos de proposições de leis referentes a questões ecológicas e ambientais, sendo quatro de autoria do Poder Executivo. Os deputados mais presentes nesta esfera são Goura (PDT), Emerson Bacil (PSL) e Professor Lemos (PT).
A Floresta Ombrófila Mista ou Mata das Araucárias é parte integrante do bioma Mata Atlântica. A vegetação é composta predominantemente por árvores de diferentes origens, sobretudo a araucária (Oceania), imbuia e canela (África). A Araucaria angustifolia é um fóssil vivo da era mesozóica e é a árvore símbolo do Paraná.
Pós-doutor em Manejo de Ecossistemas, Manejo Florestal e Mudanças Climáticas, o professor Carlos Sanquetta relata que, historicamente, o desmatamento da Mata das Araucárias seguiu o mesmo curso do desmatamento da Mata Atlântica e desconfia dos números oficiais de cobertura original: “isso é impossível de ver hoje”. O desmatamento no Paraná começou com a colonização européia no final do século XIX e atingiu o seu auge aproximadamente na metade do século XX. Foi provocado pela expansão das cidades, da agropecuária e da exploração madeireira, sendo a araucária umas das principais pautas de exportação do estado.
Apesar de defender o plantio como a medida mais eficaz para preservar a espécie, Sanquetta entende a exploração racional como um mecanismo essencial para a permanência da araucária na nossa paisagem. Ele ainda explica que a espécie demanda de uma dinâmica e de distúrbios para sua manutenção. ‘Só a preservação pura nos moldes atuais não funciona”. Segundo o professor, o manejo é capaz de promover regeneração e crescimento, entretanto deve acontecer de acordo com o hábito das espécies a fim de preservar a reserva genética, responsável pelas mudas e reflorestamento. “Nós temos muito pouco de florestas nativas, não vejo positivamente submetermos esse pequeno remanescente a exploração comercial sem critério”.
A analista de processos ambientais da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) Natasha Choinski participou de discussões e estudos técnicos para elaboração do projeto de lei e na ocasião foram demonstrados que o manejo da espécie em meio a ambientes florestais não é viável. “Nas condições de degradação ambiental em que a Floresta com Araucária se encontra, é impossível manejar neste tipo de ambiente”. Natasha conta que estes estudos foram pouco levados em consideração na elaboração da proposta. “(A lei) vem de encontro ao modelo executado pelo governo federal em relação às questões ambientais de ‘deixar passar a boiada’”.
Os especialistas ressaltam que existem legislações bem consolidadas para as questões ambientais desde a instância municipal à federal, mas denunciam as fiscalizações como o principal problema: as estruturas dos órgão responsáveis estão defasadas e empobrecidas. “Existe um grande jogo de interesse envolvido nesses processos e as questões ambientais estão, nesses governos atuais, sendo deixadas de lado para um pensamento somente político e econômico”, comenta Natasha. A analista ainda destaca que além dos governos não assegurarem o fortalecimento dos órgãos, promovem um afrouxamento e desmonte das políticas ambientais a fim de flexibilizar algumas ações.