Curitiba recebeu 7.975 imigrantes em busca de empregos

Paraná ofereceu apenas 850 contratações formais para imigrantes venezuelanos entre 2019 e 2023, a maioria dos empregos oferecidos são no setor terciário e fora da sua área de graduação
Por Letícia Beatriz Hamm
Curitiba foi a cidade que mais recebeu imigrantes venezuelanos nos anos de 2018 a 2024, segundo dados do Subcomitê Federal para Acolhimento e Interiorização de Imigrantes em Situação de Vulnerabilidade. O número de imigrantes que chegaram ao município foi de 7.975. Já o Paraná recebeu em sua totalidade 23.654 imigrantes venezuelanos.
De acordo com o Informe de Empregabilidade e Deslocamento da Organização Internacional de Migrantes (OIM), o estado ofereceu neste período apenas 850 contratações formais para esse grupo de imigrantes. A maioria delas na capital paranaense. O número é baixo em comparação ao número de pessoas que entraram no país. Além da Venezuela, o Brasil também recebe refugiados do Haiti, Cuba e Angola.
Diversos imigrantes relatam serem formados em medicina, engenharia, tecnologia da informação e pedagogia, entre outros cursos superiores. Geralmente, há muita dificuldade em conseguir empregos nas áreas de graduação e essas populações acabam trabalhando em mercados, fábricas e comércios, basicamente apenas empregos no setor terciário.
Segundo um estudo da Organização Internacional de Imigrantes (OIM), entre Dezembro de 2019 e Dezembro de 2023 houveram 4.909 contratações totais de imigrantes venezuelanos no Brasil. Desses, 37% foram para a Indústria Alimentícia, 16% para Serviços e os restantes foram divididos em diversos outros segmentos com uma menor porcentagem.
Um dos impedimentos que afetam os imigrantes de se encaixarem em sua profissão de formação no país, é a falta de legalização e certificação em relação aos seus certificados de graduação conquistados no seu país de origem. A ACNUR, Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, realizou uma pesquisa para traçar o perfil socioeconômico do refugiado no Brasil. O levantamento constatou que dos cerca dos 166 migrantes entrevistados com ensino superior completo, somente 14 tiveram a oportunidade de revalidar seu diploma e atuar na sua área de formação.
A pesquisa indica que os principais motivos para o não reconhecimento da certificação são a falta de conhecimento sobre o processo e a falta de documentação, em conjunto com a dificuldade em relação ao português.
A língua também é um obstáculo para os imigrantes. Um projeto implementado pela OIM, conhecido como Oportunidades – Integração no Brasil promoveu cursos profissionalizantes para 7.567 migrantes. Entre as formações estavam treinamentos de empreendedorismo para 5.961 migrantes e aulas de português para 7.646 pessoas. A medida busca garantir uma maior facilidade de integração na sociedade e na economia do Brasil.
A chegada do venezuelano Victor Mora ao Brasil não foi fácil. Ele conseguiu entrar durante a pandemia quando os portões abriram novamente para a entrada de migrantes. Ele diz que teve muita sorte no processo. Diversos de seus conhecidos esperaram ao menos um mês para ter seus documentos em mãos. Ele conseguiu em uma semana.
Formado em Construção Civil na Venezuela e com experiência em diversos trabalhos na área de Metalúrgica, Mora afirma que não foi fácil sua chegada ao país em questão de trabalho. Ele já exerceu funções como auxiliar de pedreiro, auxiliar de motorista, trabalhou com madeira e atualmente exerce a profissão de UBER. “Somente empregos que não exigem muita responsabilidade”. Ele também ressalta sua dificuldade em adaptação em Curitiba, segundo ele é uma cidade cara e com pessoas muito fechadas para conversas.
Uma imigrante ouvida pelo Comunicare, que preferiu não ser identificada, é uma médica especialista em Saúde da Família em seu país de origem. Ela também relata grandes dificuldades em sua jornada de trabalho. A profissional esteve no Brasil entre 2016 e 2018, trabalhando no programa Mais Médicos, mas por diversos motivos teve que retornar ao seu país natal. Contudo, a entrevistada relata que as condições de vida por lá se tornaram muito precárias com uma situação econômica complicada e carência de alimentos e medicamentos. Assim, ela retornou.
Ao chegar pela segunda vez no Brasil, enfrentou obstáculos e conseguiu um emprego como auxiliar de confeitaria e atualmente está cursando um curso profissionalizante na área. Ela afirma que a experiência é muito positiva, pois está aprendendo uma nova profissão e a considera muito bonita. “Mas gostaria de trabalhar como médica, só preciso passar o exame Revalida.”
Políticas Públicas
Com o alto número de imigrantes chegando em Curitiba, a cidade começou a pensar em ideias de projetos para se adequar a demanda de necessidades dos migrantes. Assim, em setembro de 2023, foi reapresentado um Projeto de Lei – Política Municipal para a População Imigrante – na Câmara Municipal de Curitiba.
O projeto tem como autores os vereadores Angelo Vanhoni (PT), Giorgia Prates (PT) e Professora Josete (PT). O objetivo da Política para a População Imigrante e Refugiada é de garantir a esta população o acesso a direitos sociais e combater a discriminação.
O texto prevê isonomia no tratamento à população imigrante e refugiada e às diferentes comunidades; respeitar especificidades de gênero, raça, etnia, orientação sexual, idade, religião deficiência, neurodiversidade; garantir acessibilidade aos serviços públicos; e promover a participação de imigrantes e refugiados nas instâncias de gestão participativa, garantindo-lhes o direito de votar e ser votado nos conselhos municipais. O Projeto de Lei ainda se encontra em trâmite na Câmara Municipal de Curitiba.