Curitiba interrompe vacinação contra Covid a cada 19 dias, em média

Levantamento indica que a cidade já paralisou a campanha 14 vezes; principal motivo é a falta de imunizantes
Por Eduardo Veiga, Julia Amaral e Lívia Berbel | Foto: Guilherme Araki
Um levantamento feito pelo Portal Comunicare indica que a vacinação contra a Covid-19 em Curitiba é interrompida, em média, a cada 19 dias. Desde o início da campanha, em 20 de janeiro, já ocorreram 14 paralisações, parciais ou totais. Em geral, as paralisações foram decorrentes da falta de doses disponíveis para aplicação. Optar por fazer mutirões de vacinação, não realizar cadastramento prévio e agendamento individualizado, e a dependência do plano de distribuição dos governos estadual e federal estão entre os fatores que podem explicar as interrupções na capital.
Como noticiado em 28 de maio pelo Portal Comunicare, a campanha de vacinação havia sido interrompida sete vezes por conta da falta de doses. O novo levantamento indica que, após cerca de quatro meses, ocorreram outras sete paralisações. A partir de maio, todas as interrupções foram ocasionadas por escassez de imunizantes.
Do total, 13 interrupções foram parciais, quando apenas a aplicação de 1.ª ou 2.ª dose é paralisada. Elas ocorreram em 19 de fevereiro, 31 de março, 5, 13, 19 e 29 de abril, 26 de maio, 24 e 30 de junho, 8, 19 e 26 de julho, e 10 de setembro. Em 12 de julho, a campanha de vacinação foi interrompida totalmente.
Curitiba adotou uma estratégia de vacinação em fases, priorizando a população que necessitava precocemente das vacinas – os grupos prioritários. As chamadas para a aplicação das doses são feitas por meio dos canais oficiais da Prefeitura e também pelo aplicativo Saúde Já.
Nas redes sociais, parte da população de Curitiba reclamou da insistência em vacinar grupos específicos e da espera até que as vacinas chegassem a determinados grupos, como os adolescentes:

Segundo a Prefeitura de Curitiba, 13.900 grávidas e puérperas e 46.419 adolescentes entre 12 e 17 anos já foram vacinados até agora (Fotos: Instagram)
Estratégia de vacinação
O médico sanitarista e ex-secretário de Estado da Saúde do Paraná Gilberto Martin, professor da PUCPR, diz que um cadastramento e agendamento prévios da vacinação poderiam evitar a insistência em determinados grupos – como das grávidas e puérperas. Saber a quantidade de pessoas exata nesses grupos faria com que a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba (SMS) pudesse se organizar melhor para atendê-los, evitando faltas e sobras. Segundo Martin, também seria possível estimar com mais precisão o período em que os grupos estariam, em sua maioria, imunizados.
A capital paranaense optou por não fazer o agendamento da vacina da Covid-19, como feito, por exemplo, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, e Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Curitiba optou por realizar mutirões de vacinação nos dias 20 de agosto e 25 de setembro. No segundo mutirão, foram vacinadas 44.848 pessoas. No entanto, o sanitarista afirma que, embora os mutirões atinjam mais pessoas, a falta de preparo para esses eventos – sem um controle do número de pessoas que receberão a vacina, entre outros – pode levar à falta de insumos para a continuidade da campanha.
Martin ainda ressalta que apesar dos atrasos e interrupções na capital paranaense, as vacinas são distribuídas a partir do plano nacional, depois repassadas para os estados e, por fim, redistribuídas para as regionais de saúde. “Não podemos esquecer que o município é a última etapa da vacina, é aquela etapa em que a vacina chega no braço do usuário do Sistema.” De acordo com o médico, isso significa que nem sempre está nas mãos do poder municipal ditar o ritmo da vacinação. “As vacinas foram compradas sob muita pressão e a conta-gotas.”
Ainda segundo o sanitarista, outro motivo para a escassez de imunizantes seria a falta de um número atualizado da população da capital. “O cálculo de habitantes, por exemplo, é feito com base em dados como os do IBGE, mas estamos há mais de dez anos sem ter esse censo, então nem sempre esses dados são precisos ou atualizados.” O censo do IBGE seria realizado no início deste ano. Porém, o governo federal realizou cortes orçamentários que impossibilitaram a pesquisa.
Posicionamento da prefeitura
Por meio da assessoria de comunicação, a Prefeitura de Curitiba diz que “fazer um levantamento das pausas parciais (D1 ou D2) é praticamente impossível porque isso aconteceu várias vezes e por motivos diferentes, como falta de doses ou, no caso da D2, por não ter grupos programados para determinadas datas”. Ao mencionar D1 e D2 o texto se refere à primeira e à segunda doses da vacina, respectivamente. Sobre o número de interrupções indicado pelo Portal Comunicare, a prefeitura não se pronunciou.