Curitiba impulsiona a sustentabilidade urbana com Terminal movido a Energia Solar

Cidade espera cobrir 60% do consumo energético dos prédios da Prefeitura com programas de energia renovável que se destacaram nos últimos anos na capital paranaense.
Por Beatriz Moschetta Santos, Júlia Araújo e Raquel Wrege | Foto: Júlia Araújo
No início de abril foi inaugurado o Terminal Solar Santa Cândida, por iniciativa do Governo do Paraná, o projeto faz parte do programa Curitiba Mais Energia. De acordo com as projeções da prefeitura, o novo espaço pode render uma economia anual de R$400 mil. A energia gerada anualmente pelo terminal é estimada em 625.000 kWh (quilowatts/hora).
O Programa Curitiba Mais Energia, lançado em 2018, tem como objetivo popularizar o uso da energia limpa. O projeto está entre as ações da cidade para a redução das mudanças climáticas, listadas no Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas de Curitiba (PlanClima).
O programa foi responsável pela colocação de mais de 756 e 1.386 módulos de painéis fotovoltaicos nos Terminais do Boqueirão e Pinheirinho. Esse novo tipo de sistema permite uma economia de pelo menos 60% no gasto de energia com capacidade máxima instalada para gerar 1,5 MWh de energia. Uma outra ação é a pirâmide solar do caximba, que transformou um antigo aterro sanitário em uma usina fotovoltaica.
A pirâmide solar completou um ano, em março de 2024. Nesse período, gerou energia suficiente para abastecer 20 mil residências de famílias formadas por quatro pessoas, por um mês. Além disso, representou R$2,34 milhões de economia para os cofres do município.
Também foram implantados painéis fotovoltaicos no Palácio 29 de Março, em 2019; no Salão de Atos do Parque Barigui, em 2020; na Fazenda Urbana de Curitiba, em 2021 e na Galeria das Quatro Estações do Jardim Botânico, em 2022. O Programa Curitiba Mais Energia conta também com 78 casas populares com painéis solares dentro do programa Cohab Solar e com a mini-usina hidrelétrica CGH Nicolau Kluppel, que gera energia na queda d’água do Parque Barigui.
A energia solar é considerada renovável e inesgotável por utilizar do sol como fonte primária. Além de mitigar os efeitos das mudanças climáticas, esse sistema pode desempenhar um papel significativo no controle tanto de gastos pessoais como de grandes empresas com energia.
O professor de engenharia elétrica da PUC-PR Janio Gabriel debate a importância da instalação de painéis solares como alternativa sustentável para a cidade. “Ela pode ser instalada nos telhados das residências. As pessoas podem adquirir os seus sistemas de geração e gerar a sua própria energia. Essa energia pode ser abatida na fatura”.
Moradora do bairro Boa Vista, Ludmila Mealha Cabrita conta que se interessou pela energia solar porque nos meses de inverno a conta da sua residência fechava em mais de R$600 por mês. A curitibana gosta dos resultados do uso da energia solar.: “A diferença na conta de luz é muito grande, hoje pago em torno de 10% do valor anterior.”
Os impactos ambientais da energia solar na cidade são predominantemente positivos, mas sua adoção enfrenta diversos desafios. Um dos principais é a variabilidade da luz solar, que leva a flutuações na geração de energia e requer sistemas de armazenamento ou backup para garantir um fornecimento estável.
Além disso, o custo inicial para instalar sistemas solares pode ser elevado, o que para muitos consumidores é inviável. A fabricação dos painéis também é uma preocupação por conta do uso de materiais e energia, além do descarte deles no final de sua vida útil.
O retorno de investimento desse tipo de instalação é de aproximadamente de 3 a 4 anos, como explica o coordenador de projetos da empresa Domínio Solar, Geovane Michael Lentz. “A garantia dura 25 anos, então 5 anos mais ou menos é pagando pela instalação e os outros 20 anos é tendo retorno financeiro dessa instalação.”
O Governo do Paraná fez um edital de planejamento do Curitiba Mais Energia em 2018. O projeto trazia um estudo de uma possível economia de pelo menos R$5,3 milhões por ano nos cofres públicos depois que todas as mudanças estivessem feitas na cidade. Geovane acredita que ainda existem muitas dúvidas ao redor da energia solar. “Não é por questão de preço, nem nada. Acho que é a questão mais política. Porque o ano passado teve uma mudança na legislação quanto à energia solar, que deu a impressão de que ela ficou mais cara.”
Com a Lei da Energia Solar 2023, desde janeiro, as unidades produtoras são obrigadas a pagar às distribuidoras de energia uma taxa referente aos serviços de transporte de energia prestado, ou seja, ao uso do fio das linhas de transmissão que chegam até a unidade consumidora.
A combinação de aumentos nas tarifas de energia, queda no preço de equipamentos fotovoltaicos e redução de juros pode resultar em um cenário favorável para o mercado de energia solar brasileiro em 2024.
Incentivos Fiscais
No Brasil, a energia solar é influenciada por iniciativas como o Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída de Energia Elétrica (ProGD), que oferece isenção de ICMS sobre a energia excedente gerada e compensada na rede elétrica. Também existe a isenção de PIS/Cofins sobre a energia elétrica gerada a partir de fontes renováveis.
Os incentivos fiscais servem para reduzir os custos de instalação e promover o crescimento da energia solar no país. Cada município fica responsável pelas iniciativas, que dependem das políticas locais e podem oferecer suporte técnico e orientação para a instalação dos sistemas solares. Em Curitiba, um dos projetos com mais destaque foi o Programa de Eficiência Energética da Copel que servia como um auxílio para a instalação de energia limpa em espaços públicos e privados.
Como o ensino em universidades influencia?
O professor Gabriel reflete que a universidade não apenas molda os indivíduos com habilidades, mas também dá acesso às tecnologias que impulsionam o mercado atual. É possível apresentar e discutir essas inovações, capacitando os futuros profissionais para trabalhar com elas. “É lá que cultivamos uma massa crítica de pensadores e especialistas que serão fundamentais para impulsionar esse mercado em constante evolução.”
Atualmente existem muitas pesquisas em universidades e em parques tecnológicos para tornar a energia solar ainda mais eficiente. Há uma variedade de inovações em andamento. Isso inclui avanços em inversores, sistemas híbridos, infraestrutura para carregamento de veículos elétricos e aprimoramentos em equipamentos eletrônicos para um controle mais eficiente da energia.