Curitiba: evento incentiva empoderamento de funcionárias de bares

Situações recorrentes de assédio estimularam empresárias a criar campanha
Por Cristielle Barbosa, Erica Hong e Sarah Lima
O “Empodere três meninas” foi um evento que contou com a participação da secretária da Secretaria da Mulher, Roseli Isidoro, a fim de combater o assédio sexual e moral por parte de clientes e até de colegas de trabalho de funcionárias de bares, restaurantes e casas noturnas de Curitiba. Além do evento, outra reunião foi realizada neste mês, para a formação do grupo, com vistas a estruturar e organizar as meninas que farão parte do movimento.
Segundo a idealizadora do evento, Maryah Salgado, a ideia surgiu a partir de situações pelas quais ela e suas colegas passaram e as fizeram pensar em ações para combatê-las. “Trabalhar em um bar é um ambiente que parece favorável para esse tipo de coisa – assédio -, pois é um ambiente de curtição e lazer, mas só para os outros, e não para quem está trabalhando”.
A partir disso, Maryah e Winnie Campos, também idealizadora do evento, buscaram orientações sobre o tema, e notaram certa carência na área de combate ao assédio sofrido por funcionárias. Maryah conta que, ao conhecerem o coletivo “As minas no trânsito”, elas começaram a entender melhor sobre o empoderamento feminino, e viram que era por aí que deveriam começar. “Quanto mais elas disserem ‘Não’, mais eles não vão se sentir confortáveis para fazer alguma coisa que elas não queiram”.
O nome do evento foi escolhido por conta de uma promoção do Pizza, pizzaria onde trabalham, que ocorre às quartas-feiras, na qual quando chegam três meninas, cada uma tem direito a uma fatia de pizza a mais, explica Winnie. Ela esclarece ainda que o “Empodere três meninas” não é um movimento, mas um evento que desencadeou a ideia e que, futuramente, pretendem fazer um movimento e formar um coletivo.
Dançarina revela ter sido perseguida
Laura de Assis (nome fictício) era dançarina e foi perseguida por alguém que ela acreditava ser algum cliente do local em que trabalhava. A pessoa descobriu o número do celular dela, e mandava diversas mensagens diariamente. “A maioria das mensagens que ele me mandava eram sobre o que ele tinha vontade de fazer comigo – sexualmente –; entãom fiquei com medo não apenas de voltar ao meu trabalho, mas também de sair na rua”. Esse é um dos muitos relatos que Winnie e Maryah já ouviram.
Segundo a secretaria da mulher de Curitiba, Roseli Isidoro, as idealizadoras trabalham muito alinhadas com o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, e o foco do evento tem muito a ver com as ações que a secretaria procura fazer. “Vimos no trabalho das meninas a possibilidade de fortalecer a ação, considerando que o trabalho que elas estão fazendo é justamente para pautar a reflexão em relação à violência que as jovens, mulheres, que trabalham à noite – em casas noturnas, bares e restaurantes – vêm sofrendo”.
Roseli completa dizendo que o objetivo foi fortalecer o trabalho das idealizadoras e dar mais consistência e qualidade ao debate em que elas estão propondo.
Campanha “Não e não” buscou frear assédio
Uma campanha também realizada em bares e casas noturnas, que teve início no bar Bossa Nova, é a “Não é Não“, frase que foi escolhida para combater e conscientizar a respeito do assédio às mulheres que frequentam esses ambientes. O programa é apoiado pela Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas do Paraná (Abrabar-PR), que distribuiu, entre as 11 casas noturnas de Curitiba que aderiram o movimento, cartazes com a frase da campanha.
Formação de coletivo e cartilhas são os próximos passos
Winnie, idealizadora do evento, explica que no início era só uma discussão. “A gente nunca pensou que fosse chegar a ser um coletivo ou que fossemos participar de campanhas da Prefeitura; era só uma questão de passar essas informações para as nossa funcionárias”.
Elas ainda pretendem fazer uma política de tolerância zero ao abuso, principalmente nesses locais, mapeando-os e entrando em contato com mulheres que trabalham nesses estabelecimentos. A partir disso, irão colher uma quantidade significativa de depoimentos para levantar dados do que exatamente acontece para fazer um projeto, e levá-lo para todos os bares.
A secretária da Secretaria da Mulher sugere que o grupo faça um diálogo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e a Abrabar para que a Secretaria, em parceria com essas entidades, produza uma cartilha de forma detalhada de como essas funcionárias devem agir em situações de assédio.