Crítica: Você não consegue fugir do sorriso de Adilson

Em meio à comédia do curta universitário, a marca do protagonista transmite um inesperado terror
Por Davi Guiarzi | Foto: Adilson
Vocês conhecem aquela história do menino mentiroso? Responsável por cuidar das ovelhas, ele gritava dizendo que um lobo estava nos arredores. Por duas vezes, pessoas desesperadas foram ao seu socorro, mas somente encontraram a risada enfadonha do garoto. Na terceira vez, entretanto, a brincadeira infantil se tornou real. Para seu azar, o lobo estava atrás dele.
Adilson foi exibido na última terça-feira (26), na Cinemateca de Curitiba, durante o Festival LabCine 2024. A história se inspira no cotidiano real de um grupo de estudantes de cinema, diretores do curta. Adilson era amigo deles, e sempre estava envolvido em desencontros – no lugar onde ele estava, um outro amigo não estava. Para o segundo amigo, Adilson não existia. Essa coincidência curiosa se tornou uma ideia, que por sua vez se tornou roteiro, que levou à criação do curta.
A trama se inicia com uma brincadeira, parecida com a história do menino pastor. Três amigos subestimaram a mística da irrealidade – tornando o que era apenas uma fantasia, uma história real. O imaginário Adilson tomou vida e começou a assombrar seus criadores. Com uma aura de bom moço injustiçado, a sensação é de que ele não tinha culpa de estar alí. A cada aparição inoportuna, a sala enchia de risadas e gritos. Nesse alegre ambiente, Adilson nos leva para os momentos críticos da narrativa, quando se inicia assombrosos acontecimentos.
A larga pré-produção foi um dos fatores responsáveis pela boa execução do roteiro. Com o planejamento em dia, a difícil combinação terror-comédia se tornou um dos pontos altos da noite. O curta transmitia uma gostosa expectativa para o que estava por acontecer. As transições de cena eram dinâmicas, mirabolantes e giratórias – nos fazendo captar o espaço-tempo da história de uma melhor forma.
O professor do curso de Cinema e Audiovisual da PUCPR, Carlos Debiasi ressalta o mérito que o curta teve de preparar o humor em pontos certos na narrativa. “Super interessante como Adilson brinca com isso [o uso humor-terror]. Ele é um filme de comédia, e é muito difícil, muito corajoso fazer comédia. Por causa da montagem, do time das coisas. Mas isso funcionou super bem ali na tela.”
Adilson, protagonista do filme, é interpretado pelo estudante de teatro, Alexandre Aguirre. Ele brinca ao falar da dualidade do personagem, que tinha a missão de trazer divertimento e transparecer terror ao mesmo tempo. “O sorriso do personagem ser o pôster do filme é exatamente isso, essa questão da comédia, misturada com o terror. As pessoas acharam engraçado, mas muito disseram que estavam com medo de mim.”
Os aplausos do público serviram como resposta para a extraordinária imersão que irradiou a sala de cinema. Adilson apresenta uma narrativa criativa, leve e divertida. Eric Lamanna, diretor do curta, conseguiu segurar uma severa atenção das pessoas até a descida dos créditos. Valorizando suas particularidades, pode-se dizer que esse trabalho respondeu às expectativas da alta credibilidade do LabCine e do cinema universitário.
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