Crítica: O molho de “The Bear” azedou

por Carolina Senff
Crítica: O molho de “The Bear” azedou

Terceira temporada de “The Bear”lembra um adolescente mimado que acha que só por ser ele acredita que será adorado por todos.

Por Carolina Senff | Fotos: Imagens da série The Bear da FX

A terceira temporada de The Bear chegou ao Disney Plus e ela é boa, mas não incrível como a primeira e a segunda temporada. A ansiedade na cozinha, a tensão entre os chefes extrapola o limite e a loucura de Carmy passa a ser irritante. 

A empolgação pela série permanece, mas depois de alguns dias que você terminou a temporada o questionamento é, mas é bom mesmo? O showrunner Christopher Storer perdeu a mão do molho. 

 O ponto central da nova leva de episódios é a busca de Carmy por uma estrela Michelin. No meio dessa tensão entre salão e cozinha em certos momentos cansa e tudo que se é capaz de sentir é saudades do caos do dinner The Beef. A sensação é de que subiu para cabeça e agora The Bear se sente a última fatia de bolo do prato. 

Surpreendentemente, Rich, interpretado pelo brilhante Ebon MassBachrach, é cada vez mais gostável. Enquanto Carmy, interpretado pelo incrível Jeremy Allen White, está a cada episódio mais detestável. A maior atuação sem dúvida alguma é de Ayo Edebiri, a querida Chef Sydney. Muito difícil não se conectar com Syd e sentir sua angústia de estar no limite do desespero. O jogo é invertido nessa nova fase da série. Sidney passa a ser a razão da cozinha e Carmy aos poucos se torna o chef que traumatizou ele. 

Ayo Edebiri como Chef Sydney na terceira temporada de The Bear

Uma grande lástima da série é o desperdício. Carmy joga prato atrás de prato na lixeira. A busca da perfeição é tão obsessiva que nada nunca está bom. O chef do The Bear vive a terceira temporada inteira em uma realidade paralela, ao mesmo tempo que sua irmã e sócia tenta controlar os custos, Rich tenta ter um atendimento impecável, Marcus o seu melhor para criar sobremesas todos os dias, Syd quase comanda uma cozinha sozinha e Tina lida diariamente com a insegurança causada pela pressão da rotina.

Um dos episódios que mais me agradou foi Guardanapos. Ali descobrimos a jornada de Tina, alguém que possuía uma certa estabilidade e em um piscar de olhos perde tudo. Em um dos diálogos mais lindos de toda a série vemos Michael conversando com Tina e a contratando para trabalhar no The Beef como cozinheira. A atriz Liza Cólon-Zayas é impecável e entrega uma atuação de tirar ao chapéu ao dar tamanha carga emocional para tão complexa e amada Tina.  Esse era o episódio necessário para entender de onde surgiu aquela família que vivia na cozinha preparando os famosos sanduíches de carne.

O maior erro da terceira temporada é achar que todos as falas deviam ser extremamente importantes. A grande criatividade e diferença da série era ter uma sequência de diálogos que pareciam que não te levavam a lugar nenhum, mas te conduziam pelo caminho certo. Outro erro grotesco foi ter dado tanto tempo de tela aos irmãos Fak, as aparições deles deixaram de ser engraçadas e só ficaram chatas. Gostaria de ter visto muito mais de Ebraheim do que da dupla cômica que já está saturada.

As frigideiras pegaram fogo na terceira temporada. O prato principal não é digno de uma estrela Michelin, mas contínuo ansiosa para a quarta temporada. Acredito que The Bear tem tudo para retomar o ritmo das primeiras temporadas. Gosto de pensar que foi um tropeço e falta de criatividade. Com um elenco de arrepiar e uma proposta das mais interessantes que vi nos últimos anos afirmo que The Bear ainda tem muito a oferecer para seus fãs.

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