Crianças em situação de vulnerabilidade precisam de projetos sociais

Cada vez mais, as organizações sociais se tornam essenciais no apoio desses jovens na capital paranaense
Por Emilly Kauana Alves / Foto: Davi Guiarzi
Em Curitiba, a realidade de crianças em situação de vulnerabilidade social é alarmante, com muitos enfrentando desafios como a pobreza, a violência e a falta de acesso a serviços básicos, como educação e saúde.
De acordo com dados recentes do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), cerca de 27% das crianças de 0 a 14 anos em Curitiba vivem em situação de pobreza. A pandemia de COVID-19 intensificou esse quadro, levando muitas famílias ao desemprego e agravando a falta de recursos para necessidades básicas. Em regiões periféricas, como o CIC (Cidade Industrial de Curitiba), Sítio Cercado e Tatuquara, crianças enfrentam uma realidade onde a fome e o abandono escolar se tornaram mais comuns.
A Secretaria Municipal de Assistência Social relata que o número de crianças em situação de insegurança alimentar cresceu nos últimos anos. O impacto disso vai muito além da alimentação, já que crianças, quando não têm uma nutrição adequada, apresentam dificuldades na aprendizagem e estão mais expostas a problemas de saúde.
Simultaneamente, pesquisas apontam que, em longo prazo, a participação de crianças em projetos sociais aumenta as taxas de permanência na escola, diminui o envolvimento com o crime e fortalece a coesão social. Um levantamento do Instituto Data Favela, por exemplo, revela que o engajamento com programas de apoio social reduz em até 40% o risco de jovens se envolverem com atividades ilícitas.
Neuza Vieira tem 50 anos, e trabalha como enfermeira em hospitais de Curitiba. Ela participa de trabalhos sociais, incluindo orfanatos e casas de repouso, e frequentemente atua como voluntária na Vila Guaíra. “Aproximadamente, são 30 famílias que sobrevivem apenas com a renda advinda da coleta dos materiais recicláveis. É muito triste de ver”. Eles precisam pagar o aluguel do barracão onde trabalham, que totaliza aproximadamente R$15 mil em aluguel.” Neuza e os outros voluntários, ajudam essas famílias com a venda de roupas, além de auxiliar com a doação de cestas básicas e produtos de higiene pessoal.
“Houve uma situação que me comoveu profundamente. Em um desses trabalhos, havia um cesto com pães dentro, ao lado do lixo reciclável. Perguntei o motivo daquela cesta estar ali, e a coordenadora disse que era os alimentos retirados do lixo, e que seriam utilizados para fazer torradas para as famílias se alimentarem”
Neuza ainda relata que a coordenadora do projeto pediu para que os alimentos fossem embrulhados e colocados nas lixeiras recicláveis. Assim, poderiam fazer a coleta para possibilitar a consumação desses produtos. A questão é proeminente, porque essa pode ser a única refeição de algumas dessas famílias.
Apesar da importância evidente, projetos sociais voltados para crianças em situação de vulnerabilidade ainda enfrentam desafios consideráveis, principalmente em relação ao financiamento. Muitos dependem de doações e do engajamento de voluntários para sobreviver. A prefeitura possui alguns programas para dar assistência a essas famílias, entretanto, não consegue atingir a todos que necessitam desse apoio, precisando recorrer a ajuda de ONGs e projetos sociais.

Crianças do Projeto Maestro da Bola núcleo Vila Torres, conversando e consumindo lanche produzido por voluntários. Foto: Pablo Ryan
Assistência Social
A cidade de Curitiba possui políticas de atendimento por meio das Unidades de Saúde e Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), que oferecem acompanhamento psicológico e assistência social para famílias em situação de risco. No entanto, a demanda é grande, e muitos CRAS enfrentam dificuldades para atender a todas as famílias necessitadas. Ao todo, são 176.588 famílias cadastradas, segundo informações do CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais).
A assistente social Renata Oliveira destaca que “o aumento da vulnerabilidade infantil após a pandemia aumentou o número de casos acompanhados nos CRAS, mas o contingente de profissionais e recursos disponíveis ainda é insuficiente”. A assistência social oferece recursos fundamentais, como acesso à saúde, alimentação e educação, que ajudam a proteger o desenvolvimento físico e emocional das crianças, criando oportunidades para que elas construam um futuro com mais dignidade e menos vulnerabilidade.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a falta dessas condições compromete o desenvolvimento emocional e psicológico das crianças, gerando consequências que se estendem por toda a vida. A atuação de projetos sociais é, portanto, fundamental para garantir que essas crianças tenham acesso aos direitos básicos e à proteção necessária para seu crescimento.
Além dos benefícios diretos, projetos sociais têm um impacto significativo na comunidade como um todo. Ao reduzir a desigualdade e promover a inclusão, essas iniciativas ajudam a construir um ambiente mais seguro e saudável, diminuindo as taxas de criminalidade e violência. O fortalecimento de vínculos comunitários também é uma consequência positiva, criando uma rede de apoio que beneficia essa população.
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