Cresce número de pessoas afetadas psicologicamente pelo isolamento social

Sad woman staring out the window during a lockdown
A situação do isolamento social tem despertado sintomas e agravado casos de problemas psicológicos
Por Isadora Martelli e Julia Mello
Em tempos de pandemia, o isolamento social é fundamental para diminuir os números de casos e, consequentemente, de óbitos. Porém, esse período gerou um impacto bastante relevante no cenário de saúde mental do Brasil e do mundo.
Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) relevou que 89,2% dos especialista perceberam um agravamento dos quadros psiquiátricos de seus pacientes em 2020. Dos entrevistados, 47,9%, relataram aumento no atendimento e 67,8% receberam pacientes novos.
A psicóloga Janaina Liz Aquino diz ser importante entender que o contexto atual é inédito para grande parte das gerações e que, psicologicamente, estamos vivendo um momento de grande introversão, no qual os indivíduos estão voltados totalmente para si e para o seu ambiente, sendo obrigados a lidar com as suas próprias vulnerabilidades e com as do mundo. Essa situação pode servir de gatilho e desencadear sintomas de ansiedade e depressão, mesmo em pessoas com saúde mental considerável estável.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os grupos mais afetados psicologicamente são crianças, jovens, idosos e profissionais de saúde. A pandemia da COVID-19 evidencia não apenas a importância de cuidar do bem estar mental, mas também a necessidade de aumentar os investimentos nos serviços oferecidos para tratamento e prevenção de transtornos psicológicos.
Janaina conta que as faixas etárias mais desafiadoras para trabalhar a compreensão da pandemia, são as crianças e os idosos. ‘’É complicado fazer uma criança ter o entendimento de uma situação que é fora do normal e os idosos normalmente já vivem uma realidade mais introvertida, não querem deixar de fazer o pouco que faziam’’, diz. ‘’Sem contar que em alguns casos já possuem transtornos e lapsos de memória’’, complementa. Ela ainda conta que, em Curitiba, algumas instituições de apoio têm realizado orientações para famílias de idosos com problemas mentais.
Luciana Ritti, aposentada de 57 anos, passa a quarentena acompanhada da família. Ela relata que sempre teve sintomas de ansiedade e, dada a atual situação de quarentena, isso aumentou pela maior preocupação com seus filhos e com quais serão as consequências da COVID-19.
A psicóloga ainda faz um alerta para a diferença entre transtornos clínicos e os transtornos emocionais. Para ser um transtorno clínico, é necessário se atentar para os impactos que os sintomas geram, por exemplo, é considerado patológico quando a pessoa não consegue mais realizar atividades, seguir sua rotina ou se levantar.
Nathalia Villela, representante comercial de 30 anos, passa a quarentena com o seu marido e a sua filha e diz visitar a casa da mãe algumas vezes. Ela conta que se sente muito ansiosa e estressada, principalmente pela incerteza de quando isso vai terminar. Além de sentir insegurança com as informações passadas pelo governo sobre a situação, deixando-a desanimada.
Gean França, estudante de 21 anos, passa a quarentena com a família, mas ainda assim relata que muitas vezes se sente sozinho e isolado, devido às limitações interpessoais. Além disso, sente-se angustiado com a universidade sem aulas, já que ele se formaria em 2021. Porém, os projetos de extensão continuam ativos e têm lhe ajudado a lidar com a angústia desse momento. Gean conta que a situação do país também contribui para a aumentar a sua ansiedade, fica muito preocupado com algumas políticas adotadas, especialmente, quando não seguem as recomendações da OMS, e por conta disso, acredita irá demorar até que a situação do país melhore.
Cada um dos entrevistados possui um jeito de aumentar a sensação de bem-estar. Luciana, por exemplo, brinca com a neta, conversa com os filhos e faz orações diárias para agradecer por toda a família estar bem e com saúde. Já Nathalia conta que nesse momento seu refúgio tem sido a comida, mas que suas expectativas para o fim da quarentena são voltar a sua rotina normal e voltar a malhar corretamente. E Gean decidiu adotar a corrida como meio de lidar com suas emoções, relata também que optou por limitar e filtrar o número de notícias que lê por dia. Todos relataram o quanto desejam que o vírus seja controlado e que tudo volte a ficar bem.
Recomendações
Entidades oferecem apoio
Alguns países adotaram mudanças na prestação de assistência e apoio psicossocial, como linhas telefônicas de emergência, check-ins regulares online, organizações de atividades virtuais para estímulo intelectual e cognitivo. ”O mais importante nesse momento é cuidar do nosso interior e que cada indivíduo tem uma maneira de cuidar de si, muitos fazem meditação, yoga, práticas que relacionam o corpo e a mente” diz Janaina, destacando também outras atividades produtivas como artes, dança, música e desenho.
O Paraná oferece atendimento psicológico gratuito via telefone, o TelePaz. O atendimento será feito por um psicólogo clínico experiente que será capaz de te auxiliar durante esse período de combate a pandemia da Covid-19. É possível fazer contato telefônico. Para os servidores: 41 3350-8200. Para população em geral: 41 3350-8500