Covid-19 causa prejuízo milionário para indústria da música

por Carlos Mazetto
Covid-19 causa prejuízo milionário para indústria da música

Em Curitiba profissionais contam com iniciativas de fomento à cultura para superar crise

Por Bernardo Gonzalez, Carlos Mazetto e Gabriel Miranda

Após o aumento da pandemia do novo coronavírus, mais de oito mil eventos foram cancelados e o setor de música ao vivo no país sofreu um prejuízo de R$ 483 milhões. As microempresas individuais (MEI) estão entre as mais impactadas, aponta um levantamento do núcleo de pesquisa da semana internacional de música de São Paulo (DATASIM), realizada de forma online.

Com projeções dos resultados, o DATASIM estima que o prejuízo para os microempreendedores da música ao vivo chega a mais de R$ 3 Bilhões e mais de 1 milhão de profissionais afetados pela paralisação. As áreas afetadas vão desde a produção e o artístico até empresas de transporte e hospedagem. Entre os principais impactos relatados estão o adiamento/cancelamento de eventos e dificuldades com remarcações e patrocínios.

Para a diretora de pesquisa do DATASIM, Daniela Ribas, o setor da música ao vivo não deve ser visto apenas pelo seu valor cultural, mas também do ponto de vista de um setor produtivo muito relevante e tradicional da economia brasileira. Para ela, a área deve ter senso de coletivo e se unir para superar esta crise. “A gente tem que pensar o setor não como ‘setor dos artistas’, mas como uma cadeia produtiva que tem uma lógica parecida com cadeias produtivas de outros setores”, explica.

Ribas avalia que as iniciativas de transmissão online podem dar uma “brecha” para a inovação no campo. Ela lembra que o spotify, principal plataforma de streaming do mundo, surgiu em um momento de crise da indústria fonográfica. Ela recomenda também que o público, para apoiar os artistas, ouça muita
música no streaming, compre produtos de merchandising e não peça reembolso dos eventos adiados mas sim aguarde até a nova data do evento.

Em Curitiba, as atividades do setor também encontram-se paradas, por recomendação da secretaria estadual de saúde. O músico e sócio da gravadora e selo independente Onça Discos, Matheus Mantovani, analisa que os músicos independentes e pequenos produtores locais estão enfrentando uma dificuldade financeira maior se comparado aos grandes artistas. “O público está muito acomodado com as coisas que ouve e da uma importância menor para os artistas pequenos e emergentes”, diz.

Teatro Guaíra suspendeu seus espetáculos no dia 16/03 /Divulgação Orquestra sinfônica do Paraná

Mantovani comenta que os artistas e produtores da cidade estão elaborando formas de monetizar os shows transmitidos online, embora sem sucesso até o momento. Ele ressalta ainda a importância das campanhas de fomento à cultura e leis de incentivo que apoiem artistas locais.

Um exemplo de campanha de fomento à cultura é a iniciativa Crie em Casa, proposta pela organização do festival Vale da Música, em Curitiba. O evento incentiva músicos a produzirem vídeos de suas casas e os remunera.

Para o músico e produtor de eventos, Adriano Fiorucci, a quarentena tem sido um momento de se dedicar ao trabalho autoral. Ele afirma ainda que, por ser um artista pequeno, não tem como se sustentar apenas com subsídios da música. Adriano teve um show cancelado e participou de duas transmissões online. “Eu trabalho com música e com produção de evento, então todas as coisas que eu tinha foram canceladas”, comenta.

Embora seja extremamente impactado pela paralisação das atividades, Fiorucci ressalta a importância de cumprir a quarentena e como as transmissões de música online tem um papel fundamental para dar suporte emocional à população brasileira nesse período de pandemia. “Frente a essa situação de dificuldade e incerteza levar um pouco de conforto e esperança através da música é algo muito importante”, afirma.

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