Coronavírus cria cenário de incertezas para vestibulandos

Exames nacionais envolvem milhares de brasileiros por todo o país
Por Leonardo Henrique, Guilherme Araki, Fábio May e Felipe Martins
A pandemia de coronavírus, que afeta direta e indiretamente toda a população do país, aumenta a angústia de milhares de vestibulandos. Eles ainda não sabem como será o funcionamento do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e dos vestibulares públicos e particulares de todas as universidades do país.
A preocupação daqueles que estão cursando o Ensino Médio e fazendo pela primeira vez a prova para cursar uma faculdade é grande. Para evitar aglomerações, as escolas e cursinhos do país optaram por aderir ao sistema de ensino à distância durante a pandemia, com aulas e provas pela internet, muitas vezes em tempo real. Como a metodologia foi adotada como uma atitude emergencial para que não se perca o ano letivo, o cenário é de incertezas.
Um aluno do colégio particular Bom Jesus que prefere não se identificar diz que está vivendo uma situação de estresse neste momento. “O estresse vem mais da incerteza da situação na verdade, principalmente porque não se sabe até quando vai a quarentena, se as provas vão mesmo acontecer, como vão acontecer e outros fatores que não tem como serem previstos agora, nem no futuro próximo”, afirma. Ele diz ser a favor do adiamento dos vestibulares. “Não dá pra querer manter provas primariamente presenciais, que reúnem uma quantidade imensa de participantes, pra uma época em que nós ainda possivelmente vamos estar de quarentena. Além de que eu imagino que ninguém vai estar devidamente preparado para provas desse calibre depois de perder alguns meses se adaptando a uma rotina online.”
Para Carlos Sieradzki, que estuda em um colégio público, o desempenho é prejudicado nas aulas à distância. “A metodologia usada pelos professores dessas aulas é diferente da metodologia utilizada em sala”, diz Sieradzki. “O que mais sinto falta é a possibilidade de tirar minhas dúvidas, mas acredito que logo possam resolver essa questão fazendo com que nossos próprios professores respondam nossas dúvidas.” Segundo o estudante, a insegurança sobre o andamento do ano letivo tem atrapalhado o rendimento escolar.
A psicopedagoga Úrsula Mariane acredita que o aluno que está dedicado vai aprender tanto nas aulas presenciais quanto nas aulas remotas. Para ela, se os alunos se empenharem e se esforçarem em aprender as matérias, eles não serão prejudicados. A psicopedagoga também acredita que os vestibulares não devem ser adiados, pois os alunos não estudam os conteúdos da prova só neste ano. Boa parte das matérias foi estudada em anos anteriores. Por outro lado, a psicopedagoga avalia que o estresse pré-vestibular aumenta devido à perda do contato diário com professores e colegas.
Enem
Na sexta-feira passada (17) a Justiça Federal decidiu adiar a primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio. A decisão é da juíza Marisa Claudia Gonçalves Cucio, da 12.ª Vara Cível de São Paulo, que também estendeu o prazo de solicitação de isenção da taxa de inscrição por mais 15 dias. A magistrada menciona, no texto do despacho: “É evidente que os alunos de escola pública estão privados de aulas e acesso às suas escolas, locais onde a informação é compartilhada.” Marisa também justifica que não é possível afirmar que escolas particulares estariam disponibilizando suas aulas por vídeo ou atividades similares.
O novo Exame Digital (que está sendo experimentado com intuito de redução de custos e modernização do exame) seria realizado nos dias 11 e 18 de outubro e foi adiado para 22 e 29 de novembro. A prova poderá ser realizada apenas pelos primeiros 100 mil estudantes que optarem por essa modalidade na inscrição. O exame digital será aplicado antes, com perguntas e redação diferentes da prova presencial, porém, com o mesmo nível de dificuldade e tempo de resolução das questões nos dois modelos.
Para aqueles que forem realizar a modalidade tradicional da prova, as datas de realização estão previstas para os dias 1.º e 8 de novembro.
Polêmica
Na manhã do último sábado (18), o ministro da Educação Abraham Weintraub gerou uma grande controvérsia, ao publicar uma postagem no Twitter ignorando a imposição da Justiça Federal de São Paulo: “vai ter Enem”. O Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed), por meio de nota pública divulgada nesta segunda-feira (20) repudiou as declarações do ministro Weintraub. O Consed afirma que “defende as ações de isolamento social e trabalha para encontrar soluções que permitam a aprendizagem dos alunos, com ações como oferecimento de ensino remoto e um planejamento do retorno às aulas presenciais que possa mitigar as perdas e para garantir a aprendizagem dos estudantes.”
O conselho também defende o adiamento nas datas de realização do Enem, para benefício, principalmente, dos estudantes de colégios públicos. Na nota, os dirigentes da instituição afirma que essa medida seria necessária para atender os interesses dos estudantes mais carentes das redes públicas, que estão sem as aulas presenciais neste período e com dificuldades quanto ao pedido de isenção e para inscrição para o exame, e para que não seja ampliada a desigualdade educacional no Brasil.
Vestibulares
As universidades do país estão tendo que tomar medidas de última hora neste momento de pandemia para obedecer às regras do isolamento e distanciamento social. Isso inclui desde suspensão até o cancelamento de atividades letivas.
A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) decidiu por adiar o vestibular de inverno que aconteceria no mês de julho. Os novos editais serão publicados posteriormente, sem data definida.
A Universidade de Brasília (UnB) decidiu por suspender o vestibular e o atual semestre acadêmico, assim como todos os processos do meio do ano, por tempo indeterminado, mantendo a divulgação dos editais sem data definida.
Elias Bonfim, coordenador geral de um cursinho preparatório pré-vestibular, afirma que a equipe tem se empenhado para transferir os conteúdos das aulas presenciais para o sistema online. “A gente já tinha algumas coisas na plataforma online, mas não era muito utilizada”, conta. “Hoje montamos um calendário em que estamos tentando fazer como se fosse mais ou menos dentro do horário de aula. A nossa editora tem produzido bastante conteúdo, tem simulados, vídeo aulas, sugestões de atividade diárias para os alunos fazerem. Nossos professores, além das aulas gravadas, estão montando atividades, a preparação está continuando e acredito que dentro do possível a gente está conseguindo manter, sim, uma certa qualidade no curso.”