Coritiba sobe para a Série A e cria, pela terceira vez, time feminino

por Ana Victoria Hilu Leitner
Coritiba sobe para a Série A e cria, pela terceira vez, time feminino

O Coritiba FC anunciou em março a criação de seu terceiro time feminino, após duas tentativas falhas no passado, desta vez tendo como parceiro o Imperial

Ana Paula Virgulino e Ana Victoria Hilú Leitner 

Com o acesso à Série A conquistado pelo Coritiba em 2021, o clube paranaense precisou montar, pela terceira vez, sua equipe feminina. O parceiro da vez é o clube curitibano Imperial FC. Essa junção tem como objetivo disputar o Campeonato Paranaense Feminino, o Brasileirão A3 e Brasileirão Feminino Sub-20. É esperado que o início do Campeonato Paranaense Feminino seja no dia 03 de julho e o Brasileirão Feminino Sub-20 será disputado entre os dias 03 de maio e 02 de julho.

O clube Imperial, que foi fundado em 24 de abril de 1955, só formou um time feminino em 2014. com a treinadora Rosangela Bartolaz no comando. Desde então, a equipe feminina participou cinco vezes consecutivas do Campeonato Paranaense Feminino e disputou o título no ano de 2020 contra o Athletico Paranaense, quando ficou com o vice-campeonato. E este ano participará novamente, mas vestindo a camisa do Coritiba e solidificando a parceria.

“O Coritiba entra [neste acordo] com investimento. Além de dar uniforme, a gente está conseguindo mais colaboradores também. Psicólogo, nutricionista, médico, que vão estar nos auxiliando na comissão técnica. E isso é muito importante para as meninas”, diz Leandro Chibior, técnico do time feminino do Coritiba/Imperial.

Obrigatoriedade de ter time feminino

Em 2019 a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) oficializaram a determinação de que os clubes que disputassem a Série A precisariam formar um departamento feminino nos times nacionais. Logo, todos os 20 participantes da Série A precisariam, por obrigação, manter um time de futebol feminino adulto e de base. Com o acesso à Série A conquistada pelo Coritiba em 2021, o clube precisou encaminhar uma nova parceria, dessa vez com o clube curitibano, Imperial FC.

Gestor do Imperial FC desde 2014, Leandro Chibior reconhece que com esta obrigatoriedade, a categoria feminina evoluiu bastante, só que preferiria se os clubes investissem no futebol feminino de forma espontânea, e não por obrigação.

“Não queria que fosse obrigatório, queria que fosse espontâneo. Mas só dessa maneira, por enquanto, que vai acontecer. O que está faltando são os investidores acreditarem no projeto, apoiar o feminino e criar uma cultura.”

Responsável pela parte técnica científica do clube do Coritiba e supervisor do projeto do time feminino, Rodrigo Pignataro representa a mesma opinião, mas está otimista.

“É uma pena ainda ser obrigatório. Tinha que ser natural. […] Mas o feminino em pouco tempo vai ser um hábito.”

Os times que não deram certo

A notícia de que o Coritiba FC criou um time de futebol feminino não é uma novidade. Em 2017, o Coxa fechou uma parceria com o time Foz Cataratas de Foz do Iguaçu para a formação do time.

No dia 20 de janeiro de 2017, os presidentes do Coritiba, Rogério Bacellar, e do Foz, Gezi Damaceno Junior, assinaram o contrato. As conversas entre estas diretorias já estavam em andamento desde 2016 e os dois lados do acordo tinham como objetivo fortalecer o projeto do futebol feminino. As jogadoras vestiam a camisa com os símbolos de ambos os clubes, ressaltando a parceria.

Foto: Coritiba/divulgação

O time recém-formado chegou a disputar a Copa Libertadora da América e obteve o terceiro lugar. Mas pouco mais que um ano depois do acordo, o time feminino foi desmantelado e a parceria chegou ao fim.

Três ano depois, no dia 14 de dezembro de 2020, o Coritiba fechou um acordo com Toledo para disputar o Campeonato Brasileiro A2 e o Paranaense Feminino. O presidente do Coritiba, Samir Namur, e o diretor do Clube de Toledo, Carlos Dulaba, concordaram que o Coxa ajudaria financeiramente o time.

Foto: Coritiba/divulgação

Novamente, o projeto não foi muito para a frente. O CFC alegou em maio de 2021 que, devido a falta de recursos, foi necessário encerrar o time feminino denominado “Gurias do Coxa”. Os diretores disseram que isto teria sido consequência do rebaixamento do time para a série B e, dessa forma, o clube precisaria focar no time masculino principal para seu retorno à série A.

Segundo vice-presidente do CFC, Glenn Stenger: “Futebol é dinheiro. O Coritiba perdeu cerca de R$ 80 milhões de 2020 para 2021. Esses contatos exigem que tenhamos dinheiro, e o Coritiba em 2021 não tem o recurso necessário. É uma pena, mas precisamos ser realistas.”

Rodrigo Pignataro reforça a ideia de que o time masculino estar na série A é um fator decisivo: “A gente precisa permanecer para dar continuidade no projeto feminino. Nós somos ainda muito dependentes do sucesso do time masculino.” Mas, segundo ele, esta parceria com o Imperial e o novo time feminino pode ser um divisor de águas no que diz respeito ao ‘vai e vem’ do feminino no Coritiba.

Terceirização

É curioso notar que tanto no passado quanto hoje, o Coritiba vem terceirizando a criação do time feminino do clube. Não há uma equipe própria. Talvez seja devido a essas flutuações e a essa falta de engajamento do Coritiba que haja tantas inconsistências e idas e vindas neste time. O próprio treinador deste time feminino do Coritiba disse: “[…] os clubes grandes agora já estão com time [feminino] fixo. A gente torce também para que o Coritiba crie uma equipe fixa.”

Quem sabe essa nova parceria com o Imperial possa ser o estopim desse desejo do treinador:

“O projeto [de criar um time próprio do CFC] estava no campo da ideia, mas agora com o Imperial ele começa a se estruturar”, diz Rodrigo Pignataro.

Expectativas

Com essa união, percebe-se uma grande expectativa para o desempenho nos campeonatos que estão por vir. Segundo o técnico, a parceria “foi bem motivante para as meninas; não só para elas, mas para toda a comissão técnica e para o clube também.” e ele acredita que o time agora tem mais potencial para esta temporada.

As jogadoras Ana Paula (18), Emily (20) e Luiza (19) têm esperanças de que com esse investimento, o time consiga ir mais longe. “A gente vai ganhar fisioterapeuta e essas coisas, isso é um incentivo bem grande.”, disse uma das meninas. Mas  vestindo a camisa do Coritiba, não é só incentivo que as jogadoras experenciam. Uma delas comentou: “Particularmente, eu sinto uma cobrança maior por estar vestindo agora a camisa do Coritiba. […], é uma pressão maior.”

O clube afirma que o sucesso do feminino é muito importante, porque vai trazendo o olhar do torcedor para esse time e o coordenador do projeto do feminino reforçar essa ideia dizendo que “estão confiando no Imperial FC.”

Segundo Rodrigo Pignataro, a parceria com o Toledo, assim como a com o Foz, não era algo muito profundo e bem feito. Ele diz que: “quando tinha a parceria com o Toledo, […] o Coritiba investia o dinheiro e o Toledo fazia do jeito dele. O Coritiba só cumpria os pré-requisitos da CBF.” Mas essas características não combinam com o novo projeto de Coritiba e Imperial.

“O time feminino está sendo feito agora com maior responsabilidade, maior qualidade e de forma mais consistente.”

Apesar das duas tentativas passadas de criar um time feminino terem sido desativadas pelo Coritiba, as jogadoras e o clube estão otimistas com esta nova parceria. Rodrigo finalizou sua entrevista afirmando:

“O Coritiba tem tudo na mão para iniciar um belo projeto e consolidar [o time feminino ] de vez. E se eu não acreditasse no projeto, eu não estaria nem participando.”

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