Companhia de Balé do Teatro Guaíra completa 50 anos

por Carla Giovana Tortato
Companhia de Balé do Teatro Guaíra completa 50 anos

Apresentações que retomam obras importantes da história do BTG serão exibidas no mês de maio

Por Carla Tortato

O Balé do Teatro Guaíra (BTG), fundado em 1969, completa 50 anos no dia 12 de maio deste ano. A Companhia criada e mantida pelo governo do Estado do Paraná, teve ao longo de sua existência a passagem de cerca de 400 bailarinos. O Balé Guaíra é uma companhia muito respeitada no universo da dança, que representa o Estado pelo Brasil e mundo afora. Para comemorar o meio século de sua criação, serão realizadas apresentações entre os dias 03 e 12 de maio que retomam obras marcantes do balé do teatro.

A diretora da Companhia, Cintia Napoli, conta que as características que se tornaram marca do BTG são o refinamento do movimento, a qualidade e aprofundamento no discurso. Para ingressar na Companhia os bailarinos passam por uma audição, um processo seletivo em que são examinados com aulas de balé clássico, contemporâneo, improvisação e repertório.

Cintia fala ainda da necessidade dos bailarinos serem respeitados como profissionais: “São as peças mais importantes desta Companhia”. Segundo a mesma, a dança tem um papel transformador, é uma expressão sensível que toca, aumenta o senso crítico do espectador e redimensiona a vida.

A professora de balé da Companhia Regina Kotaka conta que atua na assistência artística e auxilia os bailarinos na poética da dança. A aula é focada no que o dançarino precisa, ou seja, no aquecimento, na condição física, na resistência e força. Regina, que dança balé desde a infância, acredita na função social dessa arte como agente sensibilizador das pessoas, pois ajuda no melhor entendimento dos indivíduos como seres humanos. “Eu não consigo separar a minha vida da dança, a minha vida é dança e a dança é minha vida”, afirma a professora.

Regina ingressou no Balé Guaíra aos 18 anos de idade e participou de várias apresentações como primeira bailarina. Ela conta que conhece quase todo o repertório da Companhia, por isso, as apresentações em comemoração aos 50 anos trazem um sentimento especial, uma história saudosista. “São obras que atravessam a quarta parede que existe entre o palco e a platéia”, diz Regina.

A bailarina da Companhia do Guaíra Luana Nery de Sousa diz que para se preparar para as apresentações, os bailarinos têm feito aulas de pilates e ioga como complemento às aulas de balé. Luana conta que entre as principais dificuldades dessa atividade está a condição física. “O mais difícil é quando você está com o seu corpo machucado e tem que lutar com ele para fazer balé e às vezes você quer fazer e o seu corpo não está respondendo”, afirma a bailarina.

De acordo com a crítica de dança Emanuella Kalil a Escola de Dança do teatro Guaíra tem um papel importante para Curitiba, pois foi uma das primeiras escolas do ramo na cidade. Segundo ela, o público da capital tem interesse pela dança de forma geral e o balé em si atrai muitos apreciadores.

A espectadora Lúcia de Araújo afirma que começou a se interessar por balé por influência de amigas que acompanhavam essas apresentações e  porque sua filha começou a fazer aulas dessa dança e participar de espetáculos e competições. “Gosto muito das danças, de observar os figurinos e também o capricho das bailarinas”, conta Lúcia.

Segundo o relatório Mapeamento da Dança feito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2016, o Centro Cultural Teatro Guaíra é o espaço mais tradicional de dança em Curitiba gerenciado pelo poder estadual. O estudo destaca também o Teatro José Maria Santos e o Teatro Laboratório da Unespar.

 

[box] Mostra de repertório – 50 anos do Balé Guaíra:

A Sagração da Primavera:

Sinopse: foi apresentada entre 2012 e 2014 pelo BTG. Conta a história de uma jovem que é escolhida para ser sacrificada como oferenda ao Deus da primavera em um ritual primitivo, a fim de trazer boas colheitas para a tribo. Ela irá dançar até morrer.
Seções: 03/05/2019 – às 20h30; 04/05/2019 – às 20h30 e 05/05/2019 às 19h Classificação: Livre
Ingressos: R$ 20,00 ou R$ 10,00 (meia entrada)

Carmen:

Sinopse: foi apresentada em 2016 pelo Balé Guaíra. Conta a história de Carmen, uma cigana sedutora, o toureiro Escamillo, o cabo da polícia Don José e sua noiva Micaela. A obra se aproxima da realidade ao escancarar o feminicídio.
Seções: 08/05/2019 – às 20h30
Classificação: Livre
Ingressos: R$ 20,00 ou R$ 10,00 (meia entrada)

O Segundo Sopro:

Sinopse: estreou na BTG em 1999, foi criado especialmente para a Companhia pela coreógrafa Roseli Rodrigues. A obra une elementos da natureza, como vento, a água e as pedras, numa simbologia da própria existência. Os bailarinos dançam, sob uma cortina de chuva artificial, em um palco coberto por um espelho d’água.
Seções: 11/05/2019 – às 20h30 e 12/05/2019 – às 19h Classificação: Livre
Ingressos: R$ 20,00 ou R$ 10,00 (meia entrada)

Abertura especial – O Grande Circo Místico:

Em homenagem ao Grande Circo Místico, apresentado pela primeira vez em 1983 pelo Balé Guaíra, as apresentações da mostra dos 50 anos trazem três trechos dessa obra de grande sucesso e importância para a Companhia.

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A importância social da dança

Além da função artística, esse tipo de arte tem grande impacto na função educativa e assistencialista de quem pratica

Aluna da Escola de Dança do Guaíra

 

De acordo com o crítico de arte Julio Mota, o balé é uma arte teatralizada que deriva de um evento de encenações dramáticas na Itália que imigrou para a França, onde se instalou como uma  arte para a Corte. No Brasil, chegou por meio dos europeus e se instaurou primeiramente no Rio de Janeiro, depois veio às capitais.

Curitiba é uma das únicas cidades que tem uma companhia exclusiva de balé e segundo o crítico, muitas pessoas desconhecem. Para ele, é preciso que haja uma promoção maior da dança. “Você valoriza aquilo que você tem conhecimento”, conta Mota. Ele ainda explica que a arte tem o papel de inserção social e que isso nem sempre é valorizado.

A bailarina da Companhia de Balé do Teatro Guaíra Luana Nery Sousa conta que começou a praticar balé quando tinha três anos de idade e que a dança a ajudou a superar momentos difíceis de sua vida. “A dança me mudou, eu poderia fazer outra coisa ir por um outro caminho, onde eu moro é muito fácil ir para o lado errado”, afirma Luana. A jovem que nasceu em São Paulo, diz que seu trabalho na Companhia é muito gratificante e que os companheiros são como sua família na cidade.

O relatório Mapeamento da Dança feito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2016, fez uma análise da dança nas principais capitais brasileiras. O estudo apontou que em Curitiba dos 178 respondentes da pesquisa, 97% identifica valor social em suas produções artísticas. A maioria está relacionado à produção artístico-cultural, ações artístico-educativas e de contrapartida social ou assistencialistas.

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