Com pandemia e aumento da desigualdade, ONGs em Curitiba alteram suas atividades

Organizações do terceiro setor modificam sua atuação para atender além de seu direcionamento e suprir o crescimento de necessidades básicas da população
Por Bruna Cominetti | Foto: Acervo ONG Passos da Criança
Com 411 mil mortes pelo covid-19, o Brasil encara uma crise sistêmica que afeta principalmente a parcela da população com maior vulnerabilidade social. O aumento do desemprego, a fome e a falta de políticas públicas, só faz crescer o abismo da desigualdade. Isso, somado às medidas necessárias para conter a Covid-19, alteraram significativamente as atividades do Terceiro Setor.
Uma pesquisa feita pela Rede de Filantropia para a Justiça Social aponta que 87% das Organizações da Sociedade Civil (OSCs) se mobilizaram para oferecer atividades diferentes das realizadas antes da crise. Voltando seu foco, principalmente, para ações de ajuda humanitária e suporte a populações afetadas diretamente pela pandemia do Coronavírus.
Em Curitiba, a Organização TETO, que normalmente tem seu enfoque na construção de moradias emergenciais, agiu logo nos primeiros meses da quarentena para socorrer as comunidades no acesso à água e à comida. Ana Bivar, gestora da sede TETO Paraná, conta que a intenção da organização nunca foi trabalhar com assistencialismo ou doações, mas que com a crise sanitária a pauta se fez crescente e imediata dentro das comunidades. “Com fome nada se faz, não existe projeto comunitário. As pessoas vão lutar para sobreviver, apenas”, diz.
Além das campanhas de arrecadação de alimentos para cestas básicas e kits de higiene, o TETO iniciou, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), um levantamento nacional para entender as mudanças e quais as reais necessidades da população periférica. Embasados nas pesquisas, puderam também prestar auxílio jurídico além de denunciar formalmente as violações de direitos dentro das comunidades. “Nunca avisaram como se prevenir do vírus se as paredes são de papelão, se o chão é de terra batida. Com oito pessoas em um ‘barraco’ é melhor continuar dentro ou ficar fora?”, avalia Bivar, citando falas do manifesto que fundamentou o movimento.
Ainda segundo a pesquisa da Rede de Filantropia, ao menos 51% das entidades tiveram alguma atividade regular suspendida e 44% delas adaptaram sua atuação para uma forma remota. Porém, mesmo com a adequação não são todos que conseguem ser alcançados. É o caso da Organização Criar Um, que trabalha com adolescentes em situação de vulnerabilidade social, oferecendo cursos de comunicação e línguas, além do apoio psicológico e emocional.
Cerca de 70 alunos se beneficiavam com as aulas presenciais, mas desde que os cursos para a modalidade remota, os encontros contam com no máximo 15 adolescentes. A explicação se dá pela falta de acessibilidade dentro das casas dos alunos. “A maioria não tem uma internet boa, ou dividem um único aparelho com acesso à internet com o restante da família”, conta Denise Cortazio, Presidente da Associação Criar Um.
Tentando uma alternativa ao atendimento online, a Organização Passos da Criança, que atua há 17 anos com o contraturno escolar na comunidade da Vila Torres, desenvolveu kits pedagógicos quinzenais. Também adaptaram os atendimentos com as crianças e pais num espaço externo à instituição, criando um “Jardim Lúdico”, para que não houvesse perda de vínculo com os educandos.
Contudo, a entidade, que atua em uma das comunidades com o menor Índice de Desenvolvimento Humano de Curitiba, foi diretamente impactada pela pandemia. Perderam cerca de 30% da principal fonte de captação de recursos, através do Programa Nota Paraná, em um momento em que as vulnerabilidades da região só crescem. “Antes oferecíamos todas as refeições do dia para as crianças. Hoje, nosso esforço é para conseguir dar uma cesta básica por mês para as famílias do projeto”, conta Luciane Passos, integrante da ONG.
A fome na pandemia é uma realidade que atinge mais de 19 milhões de brasileiros, conforme o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
Em Curitiba, isso afetou diretamente o trabalho dos grupos que oferecem refeições pelas ruas da cidade. É o que relata Fernando de Moraes, organizador do projeto Rango de Rua, que fornece marmitas para a população em situação de rua desde 2012.
Com comércios fechados e a diminuição na circulação de pessoas pelas ruas, fica mais difícil o acesso dessas pessoas a doações de comida ou de recursos para se alimentarem. Moraes conta que o projeto teve que se reformular durante a pandemia, aumentando o número de refeições oferecidas. Segundo o organizador, as marmitas têm ainda suprido a necessidade de outros além dos que estão nas ruas. “Pessoas mais carentes também aparecem para economizar em uma refeição do dia”, explica.
Fora a redução na variedade do cardápio, para facilitar o preparo do alimento, foi preciso reduzir também a quantidade de pessoas envolvidas diretamente no preparo da comida. Para evitar aglomerações, o trabalho agora é feito por apenas uma cozinheira. Da cozinha do Rango de Rua hoje são distribuídas por voluntários uma média 210 refeições por semana, com recursos provenientes integralmente de doações.
Formas de Contribuir com o voluntariado em Curitiba
Confira uma lista com algumas ONGs da cidade e como participar
TETO PR
Por meio do site da instituição é possível contribuir monetariamente para as catarses de construção. Outra possibilidade é fazer parte do projeto e contribuir diretamente como voluntário. Além das ações em massa para arrecadações e construções, o TETO oferece eventos de formação para que seus voluntários possam contribuir de forma muito mais ampla dentro das comunidades.
site: https://www.techo.org/brasil
instagram: @teto.br
CRIARUM
Por meio do site ou nas redes sociais, é possível acessar um link para contribuição pontual, por transferência bancária ou pix, ou de forma contínua através do PagSeguro. Também é possível doar através da fatura da Copel, sendo necessário apenas um cadastro prévio, e pela Nota Paraná, destinando sua nota fiscal em estabelecimentos comerciais. Outra forma legal para contribuir é pela contratação de planos de marketing digital da Agência Escola, parceira da CRIARUM, cujo valor pago é integralmente revertido para a Organização. Porém ainda existe espaço para o Voluntariado através de serviços na instituição, tanto online quanto presencialmente, respeitando as medidas sanitárias.
site: https://criarum.org.br/
instagram: @criar1
contato: (41) 3010-9299
PASSOS DA CRIANÇA
Por meio do site é possível contribuir financeiramente por transferência bancária, PIX ou até mesmo PicPay. A Passos ainda está apta a receber recursos por meio do Imposto de Renda, tanto de pessoa física quanto jurídica. Aceitam doações de alimentos, artigos de higiene, roupas e brinquedos, mas pedem que seja feito um contato prévio nestes casos. Também precisam e aceitam voluntários em diversas áreas dentro da instituição.
site: https://passosdacrianca.org.br/
instagram: @passos.crianca
contato: (41) 3016-3501/ (41) 99804-0392
RANGO DE RUA
Por meio de contato direto com os organizadores é possível contribuir com valores para a compra de alimentos utilizados nas marmitas. Também aceitam doação direta de alimentos, artigos de higiene, roupas, cobertores, entre outros. O projeto não mantém vínculo contínuo com seus voluntários, então sempre estão abertos a qualquer um que queira contribuir nas distribuições de alimentos.
instagram: @rangoderua
contato: (41) 98708-0598