Cobertura Olhar de Cinema: Era Uma vez Beirute é filme para fãs do Cinema Árabe

por Carolina Senff
Cobertura Olhar de Cinema: Era Uma vez Beirute é filme para fãs do Cinema Árabe

É incômoda a forma como o filme demonstra um olhar colonialista e excessivamente sexualizado, que parece ter sido frequentemente dirigido à cidade e especialmente às suas mulheres

Por Carolina Senff | Foto: Divulgação Olhar de Cinema

Era uma vez Beirute é o retrato nostálgico de uma cidade-ruína. O longa acompanha as jovens Yasmin e Leila. A dupla nasceu dentro do período da guerra. A narrativa inicia com as recém adultas comemorando os 20 anos indo visitar o senhor Faruk, um entusiasta do cinema. Deste ponto em diante a narrativa é pura metalinguagem de cinema, utilizando de filmes para contar a história da capital libanesa, Beirute. 

Uma das falas iniciais que determinam o tom do filme é “essas ruínas são o coração de minha cidade”. Logo após Yasmin fala que estão indo para a Disney, o que se apresenta como um vasto acervo cinematográfico em meio a ruínas, senhor Faruk tinha uma espécie de cineclube particular. 

O filme é uma ficção mesclada com a realidade da diretora Jocelyne Saab. A cineasta libanesa nasceu em 1948, período em que a Palestina estava sendo colocada em cativeiro dentro de seu próprio território. A cineasta viveu uma jornada por variados gêneros. Ela também é professora de cinema e dedica boa parte de sua carreira profissional a conservação de materiais cinematográficos. Tal característica explica a escolha da construção e proximidade com senhor Faruk, um cinéfilo dedicado. 

É relevante a transformação da cidade que acompanha também a mudança do cinema e da cultura. Era Uma Vez Beirute é uma viagem através de gêneros, horas parece um suspenso, hora comédia e sempre com umas pitadas de romance. O telespectador ao assistir esses trechos de obras libanesas se depara com a vertiginosa série de clichês que é Beirute. O filme é uma grandehomenagem ao cinema árabe. 

A cultura árabe sem dúvida alguma está presente em peso na tela, mas isso pode ser muita novidade para os ocidentais. É instigante ver o comportamento das pessoas, as cenas de dança do ventre, referências religiosas, crenças e costumes. 

É agradável ver as inúmeras referências cinematográficas. De longe, a minha preferida é ao clássico Cidade das Luzes mostrando uma florista cega vendendo flores na rua. A diretora sabe usar cenas já conhecidas para trazer novos sentidos a sua obra. 

O filme é lento, às vezes chega a cansar. Ele tenta usufruir de cenas de ação e infelizmente momentos de sexualização feminina para ressuscitar o público, mas não funciona. Triste relatar que vi pessoas dormindo enquanto o longa era exibido na telona.

É incômoda a forma como o filme demonstra um olhar colonialista e excessivamente sexualizado, que parece ter sido frequentemente dirigido à cidade e especialmente às suas mulheres. Além desse fato desanimador o filme é de difícil compreensão, se piscar perde o rumo da história e é muito difícil voltar. Um ponto bem positivo é a trilha sonora. Ela dita o sentimento do filme, é o que da alma ao longa.

Era Uma Vez Beirute é bom ao ser uma viagem pela história, mas não sabe segurar a atenção de seu público. O filme é uma excelente indicação, para aqueles que são fãs do cinema árabe. Se este não é o seu caso, acredito que não sairá satisfeito da seção, entretanto não deixa de ser uma experiência a ser vivida.