Cobertura Olhar de Cinema: Cinema de Luta é sinônimo de poder social

por Carolina Senff
Cobertura Olhar de Cinema: Cinema de Luta é sinônimo de poder social

Um filme político não é sobre governos, tomar partidos, sobre apoiar governantes. O filme político é o filme do povo, é o longa que é um reflexo da realidade. E o que é cinema se não o mais puro reflexo da realidade?

Por Carolina Senff | Foto: Carolina Senff

Já parou para pensar sobre o cinema de luta? Como ele pode ser diverso? Sua importância? Antes que você entenda errado eu não estou falando de filmes como Karatê Kid, Rocky ou O Grande Dragão Branco. O cinema de luta que estou lhes falando é aquele que envolve lutas sociais, o cinema político, aqueles filmes que são uma imersão nos debates sociais que existem em todo o mundo e que precisam ser exibidos de forma criativa para criar diálogo. 

Ao acompanhar o Seminário sobre cinema de luta que ocorreu na manhã do dia 15 de junho no Festival Olhar de Cinema, deparei-me com uma realidade cinemática que vi muito, mas não entendia tamanha profundidade. 

“Todo filme de alguma forma é político”. A fala de Uilma Queiroz uma das realizadoras do filme O Canto das Margaridas é esclarecedora. Um filme político não é sobre governos, tomar partidos, sobre apoiar governantes. O filme político é o filme do povo, é o longa que é um reflexo da realidade. E o que é cinema se não o mais puro reflexo da realidade? Uilma Queiroz mostra que todo filme tem um ponto de vista e a partir desse ele se desenvolve e narra uma história que precisa chegar ao coração das pessoas. 

O cinema social, de luta, militante, depende da região que você está, mas que no geral é a mesma coisa é a arte de olhar para o mundo e representar ele com criatividade. Ele é necessário porque transforma vidas. A função não é mudar o mundo, mas despertar chamas de vontade de fazer a diferença.  

Quem já se perguntou, tá mas para que serve o cinema? Muitos dizem que para entreter, para rir, chorar, causar sentimentos. A partir desse primeiro questionamento outro surge: o que pode o cinema? Aí a maioria já vai dizer, o cinema pode muito pouco. Falácia pura. Cinema pode e pode muito. Linguagem cinematográfica como a própria subdivisão da palavra diz é língua, ou seja, fala e comunicação. Os quatro filmes da mostra Foco da 13ª edição do Olhar de Cinema é exatamente sobre filmes poderem ser pontes entre desafios sociais e telespectador. Lagoa do Nado – A Festa de Um Parque, Não Existe Almoço Grátis, O Canto das Margaridas e Ouvidor é linguagem pura de brasileiros para brasileiros. Estes quatro filmes mostram o tanto de Brasil que existe por aí. 

Caso não tenha ficado claro permita lhe mostrar. Roma, filme Original Netflix em que o diretor Alfonso Cuarón retrata a vida familiar no México nos anos 70. Infiltrados na Klan, filme de Spike Lee sobre a Ku Klux Klan no estado do Colorado – Estados Unidos na década de 70 e a luta racial. Cidade de Deus, Fernando Meirelles relata a realidade das favelas Cariocas. American Fiction, comédia de Cord Jefferson debate os clichês raciais nos Estados Unidos em pleno século XXI. A lista é enorme e todos esses belíssimos filmes são comunicação genuína e fidedigna através de arte. São a oportunidade de refletir.  

O cinema de luta não é um gênero, é uma realidade que se estende pelos diferentes tipos de filmes. É quando a vida te convida a escrever roteiros e usar câmeras para mostrar o que está acontecendo. É a melhor exemplificação de mostrar que o cinema é para todos e não apenas na parte de assistir, mas também na parte de serem retratados. Filme de luta pertence ao coletivo, é cinema de lugares e pessoas, é arte fazendo crítica, chega a beirar o estudo jornalístico e sem dúvida alguma é a consagração da contação de histórias.