Centro concentra metade dos espaços culturais de Curitiba

Apesar de incentivos, há pouca atividade nos bairros
Por Rafaela Cortes e Álvaro Lunardon
Dos 50 espaços pertencentes a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) disponíveis para apresentação de atividades culturais, 25 estão localizados nos bairros centrais da capital, segundo levantamento do Portal Comunicare. Apenas no bairro São Francisco – no Largo da Ordem e proximidades – existem 17 locais, o que representa 34% do total. Não foram levados em conta as salas presentes em todas nas regionais da cidade. Tal centralização faz questionar se a cultura de Curitiba está bem distribuída.
De acordo com o superintendente da FCC, Igor Cordeiro, os espaços culturais pertencentes à instituição estão concentradas na regional Matriz devido à facilidade que se teve de adquirir estes espaços, que foram tombados como históricos e, posteriormente, vieram a se tornar casas culturais, tais como a Casa Romário Marins e o Solar do Barão.
Cordeiro ainda salienta que, quando a FCC surgiu, em 1973, as políticas de cultura no Brasil não eram inclusivas. “Naquela época, não se propunha essa preocupação com necessidades tão essenciais, como a descentralização e a garantia da homogeneização, garantia do diálogo sobre as mais diferentes linguagens”, explica. Com objetivo de buscar este incentivo é que, segundo ele, são abertos diversos editais próprios para a produção local independente previstos em leis, como a Lei Rouanet.
Cultura nos bairros ainda é frágil
Apesar de artistas independentes admitirem a existência de editais voltados às comunidades da cidade, a participação destes mecanismos ainda é muito incipiente. De acordo com os proprietários do grupo cultural Cia do Bem, Lucimar Aparecida de Almeira Moro; e o músico e produtor Odivaldo da Silva, pouco se vê de cultura dentro dos espaços públicos nos bairros. “Mesmo eu, que estou ligada nessas coisas de cultura não vejo nada sendo feito aqui [Sítio Cercado], tirando a gente”, conta Lucimar.
Cordeiro admite que, em alguns espaços, como a Cidade Industrial de Curitiba, bairro mais populoso da cidade, existem deficiências de estruturas culturais. No entanto, garante que a FCC tem tentado, nos últimos três anos, fomentar a cultura nas periferias através de editais como o Edital das Regionais, lançado há dois anos, que tinha como produtor e público cidadãos das regionais.
No ponto de vista do artista e chefe de divisão de artes da Prefeitura da Lapa, João Andirá, a situação ainda parte dos próprios produtores, que tem pouco interesse em apresentar-se nas periferias. Ele enfatiza que a presença de artistas alternativos dentro de espaços culturais renomados é também um ato simbólico de resistência e visibilidade destes profissionais.
Editais excluem produtores alternativos
Os editais, entretanto, nem sempre chegam ao alcance de artistas alternativos. Lucimar conta que , devido aos critérios rigorosos dos editais, teve de contratar um especialista por RS 700 para inscrever seu projeto, há dois anos. “ Você já não tem dinheiro, aí tem que gastar para se inscrever no edital e ainda não ser aprovado e não receber nenhum retorno daquilo que teve que gastar. Fica difícil”, desabafa a produtora.
A representante dos Conselhos Municipais de Curitiba (CMC), Andrea Braga, explica que o problema da dificuldade viabilização está dentro da própria legislação das leis de incentivo que, pela rigorosidade, dificultam o acesso. “Acaba sendo algo que precisa de CNPJ, estrutura que pessoas acessem recursos. Os artistas mais alternativos, acabam não tendo acesso. Entretanto, de certa forma, é uma forma de controle público dos recursos que acabam vindo por impostos dos cidadãos”, diz.
Lucimara lamenta que, por conta dessa inacessibilidade, os produtores que passam nas bancas examinadores são sempre aqueles que tem maior habilidade na produção dos editais ou projetos com maior porte.
Conselho da Cultura é ineficiente
Lucimar conta que descobriu que estava sendo feita a eleição para chefe do Conselho da Cultura no Sítio Cercado por acaso. Ela estava passando pela rua da cidadania e viu um folheto dentro da “salinha minúscula” da FCC na rua da cidadania. Sabendo disso, indicou seu marido, Odivaldo Silva. Naquelas eleições, houve apenas dois candidatos. Silva narra que ganhou porque tinha a família maior: “ Ele tinha umas quatro pessoas da família para votar e eu umas 12”, diz.
Silva ainda se mostra desapontado com a falta de diálogo dentro do conselho pois, segundo ele, os participantes não ajudam a decidir nada e acabam sendo informados apenas das decisões finais.
Segundo Andrea, deve-se realizar um diálogo com os participantes do conselho e fiscalizar o que tem sido feito para garantir que todos estejam exercendo seu papel democrático de luta em prol dos interesses da comunidade.