Casos de Hepatite A aumentam 28,17% neste ano em Curitiba

Após ter mantido uma série histórica, de 2012 a 2023, com uma média de 12 casos ao ano, Curitiba acumula neste ano 338 contaminados e cinco mortes
Por: Jeniffer Cristine Gonçalves de Carvalho, Kauany de Oliveira Barbieri e Pedro Antonio Bernardi Bucko | Foto: Banco de Imagens
Curitiba vive um surto de Hepatite A, tendo um aumento de 28,17% nos casos em 2024, em comparação à série histórica da doença na cidade. Na última segunda-feira (17), houve confirmação de mais 28 casos na capital, totalizando, do início deste ano até a metade de junho, 338 casos. Isso é diferente do total registrado entre 2012 e 2023, com 134 infecções no período, uma média de 12 quadros confirmados ao ano – a maioria sendo casos leves, sem necessidade de cuidados intensivos ou internamento.
Além da doença ter ocasionado, em 2024, um transplante hepático, a hepatite também foi responsável por cinco mortes (uma mulher, de 29 anos; e quatro homens, de 38, 40, 54 e 60 anos). Os dados divulgados no último Boletim do Centro de Epidemiologia da Secretaria da Saúde de Curitiba (SMS).
A faixa etária mais afetada pelo vírus A da Hepatite é a do adulto jovem (entre 20 e 39 anos). Há maior predominância em homens, que correspondem a 246 casos (72,7%). Já as mulheres têm apenas 92 casos, representando 27,3% das confirmações. Do total, 200 pessoas (59%) precisaram de cuidado hospitalar e 11 foram internadas na UTI.
De acordo com o Diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Alcides Augusto Souto de Oliveira, as contaminações anteriores em Curitiba se davam por conta de condições de baixo saneamento e consumo de alimentos e água contaminados. No entanto, na atual situação, fatores comportamentais podem ter ocasionado esse aumento nos casos, principalmente no quesito de práticas sexuais (homens se relacionando com homens – HSH) e/ou sexo anal sem proteção e limpeza.
Outros fatores são uso de drogas (injetáveis ou não), viagens para lugares com alta taxa de contaminação de Hepatite A, frequentar piscinas públicas e/ou se banhar em rios ou no mar, possibilitando que o vírus seja levado e afete populações que não tinham tido contato com a doença antes.
Oliveira acredita que os adultos-jovens são a maioria das confirmações, em decorrência da introdução da vacina de Hepatite A no calendário de vacinação do SUS em 2013 para crianças entre 1 e 4 anos de idade. A vacina também está liberada para cidadãos com condições específicas de saúde, como candidatos a transplantes, imunossuprimidos, positivos para HIV, entre outras. Nos casos citados a aplicação é feita nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE).
“Com as boas coberturas vacinais, as crianças estão protegidas, mas os adultos-jovens não. Ainda, esses adultos-jovens tiveram uma infância com saneamento básico melhor, por isso não tiveram contato com o vírus na infância o que os tornam mais suscetíveis agora na idade adulta, quando a chance de uma hepatite fulminante é maior”, diz o Diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
População desconhece vacina
O técnico em informática, Thomas Coutinho, de 31 anos, que faz parte do grupo mais atingido, conta que não se vacinou contra a Hepatite A por conta da “correria do dia a dia”. ” Não sabia que fazia parte do grupo de risco, fiquei assustado em saber que a doença pode levar a óbito”. Coutinho completou dizendo ainda que não ficou sabendo de nenhuma campanha de vacinação contra a Hepatite A, por parte do governo. Mas, sabendo dos riscos da infecção, pretende se vacinar agora.
A Hepatite A é uma infecção hepática (atinge o fígado) causada pelo vírus da Hepatite A (HAV), que é uma das formas de hepatite viral menos grave, mas que pode gerar sintomas incômodos e se tornar perigosa em alguns casos.
A doença é transmitida através do consumo de alimentos ou água contaminados com fezes de uma pessoa infectada. Além de acontecer também por meio de: contato próximo com uma pessoa infectada, consumo de frutos do mar crus ou mal cozidos de águas contaminadas e práticas incorretas de higiene como não lavar as mãos depois de usar o banheiro ou antes de preparar os alimentos.
Quem se contagiou com Hepatite A, mesmo após ter se curado, ainda continua disseminando o vírus em suas fezes por até 150 dias.
Imunidade
A pessoa que já foi infectada pelo vírus em algum momento da vida se torna imune à Hepatite do tipo A, da mesma maneira que quem se vacinou. A vacina faz parte do Calendário Vacinal da Infância, disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014, para crianças de até cinco anos de idade. Disponível em todas as unidades de Saúde de Curitiba, os endereços podem ser conferidos no site Imuniza Já.
O Gastroenterologista e Hepatologista, Jean Rodrigo Tafarel, afirma que o público dos jovens adultos acaba sendo exposto ao vírus porque eles têm maior probabilidade de viajar para lugares onde a Hepatite A é mais comum. Além da doença ser mais grave em adultos do que em crianças, com uma maior probabilidade de complicações e sintomas mais fortes. Por isso, o especialista reforça a importância da vacinação, principalmente para essa faixa etária, já que ajuda a prevenir surtos em comunidades, ambientes de trabalho, instituições de ensino, diminuindo a transmissão do vírus.
O hepatologista finaliza dizendo: “A vacinação é uma medida preventiva fundamental para manter a saúde pública e proteger indivíduos de infecções evitáveis”.
Sintomas
O gastroenterologista e hepatologista Jean Rodrigo Tafarel conta os principais sintomas, que aparecem de 2 a 6 semanas após a infecção, da Hepatite A: inflamação do fígado; fadiga; náusea e vômito; dor ou desconforto abdominal; febre leve e icterícia (pele e olhos amarelados).
O especialista comenta ainda que em muitos casos, principalmente em crianças, a Hepatite A pode ser assintomática; ou seja, não apresentar sintomas.
Para Tafarel, a infecção se torna preocupante e necessita de auxílio médico quando: os sintomas são graves e recorrentes; há sinais de icterícia, o que indica que o fígado está bastante afetado; o paciente tem sintomas de desidratação severa por conta dos vômitos intensos; a pessoa te uma condição hepática preexistente ou outra doença crônica.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), muitas vezes a doença acaba sendo confundido com outras infecções virais, o que necessita de atenção para que seja feito o diagnóstico precoce diferencial, além de evitar a automedicação.
A pessoa com os sintomas iniciais deve procurar atendimento em uma unidade de saúde ou pela Central Saúde Já – 3350-9000, antes que o quadro evolua.
Como se previnir
- Usar preservativos e higienizar as mãos e as regiões íntimas antes e após as relações sexuais.
- Lavar as mãos com água e sabão (principalmente depois de usar o sanitário, trocar fraldas e antes de preparar ou consumir alimentos).
- Beber água potável tratada e evitar consumir água de fontes desconhecidas ou não tratadas.
- Lavar os alimentos que serão consumidos crus com água tratada, clorada ou fervida, deixando-os e de molho por pelo menos 10 minutos.
- Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, especialmente mariscos, frutos do mar e peixes.
- Evitar alimentos crus ou mal-cozidos em áreas onde a Hepatite A é comum.
- Lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras.
- Limpar e desinfectar superfícies possivelmente contaminadas.
- Usar instalações sanitárias.
- Não tomar banho ou brincar próximo de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou de onde tenha esgoto.
- Evitar construções de fossas perto de poços e nascentes de rios.
*Informações disponibilizadas pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e pelo gastroenterologista e hepatologista Jean Rodrigo Tafarel.