Casos de Alzheimer crescem junto com a população idosa

por Ex-alunos
Casos de Alzheimer crescem junto com a população idosa

A doença atinge hoje 1,2 milhão de pessoas com mais de 65 anos no Brasil

Por Camille Casarini e Thais Porsch

Com o aumento da expectativa de vida, o número de casos de Alzheimer irá dobrar até 2050, indica a Organização Mundial da Saúde (OMS). Hoje, 54% dos idosos com demências têm Alzheimer no país, de acordo com Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz).

Em 20 anos, o número de idosos vai ser maior do que o de crianças no Brasil, apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do estudo “Projeção de População”, divulgado em 25 de julho de 2018. Ou seja, até 2060 um em cada quatro brasileiros será idoso. Com isso, o número de doenças crônicas – de progressão lenta e longa duração, que muitas vezes levamos por toda a vida – vai aumentar nos próximos anos, especialmente as relacionadas à demência.

O neurologista  Tiago Souza de Araújo cita o fato de o número de casos da doença estar crescendo com o aumento da expectativa de vida da população. “Antigamente as pessoas viviam até 50, 60 anos… Acima dos 80 anos, a cada três idosos, um vai ter Alzheimer futuramente”. Araújo explica que o Alzheimer após os 65 anos está principalmente relacionado ao tabagismo, excesso de álcool e falta de exercícios, tanto físicos como mentais. E, por apresentar sintomas “comuns” para a idade, é muito difícil de ser diagnosticado em fase inicial.

Esquecimento pontuais, como não saber onde deixou as chaves, ou o que comeu no dia anterior. É assim que o Alzheimer muitas vezes começa, como explica o médico neurologista. Porém, “com o tempo, começa a esquecer coisas mais importantes, como datas, esquecer telefones, o nome de alguma pessoa próxima. Surtos de irritabilidade que a pessoa não tinha antes”. 

Segundo o médico,  o mal de Alzheimer degenera as memórias e as capacidades do indivíduo, além de provocar alterações no organismo. “Nosso cérebro funciona à base de glicose. O paciente com Alzheimer tem algumas áreas que começam a captar menos glicose, então começa a funcionar de maneira inadequada”, explica.

Clique para ampliar | Crédito: Thais Porsch

“Desafios só vão aumentando”, conta familiar de paciente

Leila Monteiro de Lima possui dois parentes próximos com demência, e compartilha sua experiência de ter de cuidar de uma pessoa que cuidou dela a vida inteira. “Os desafios só vão aumentando ao longo do tempo. Às vezes é como se você estivesse cuidando de um bebê novamente”.

O pai de Leila, 68, foi inicialmente diagnosticado com Alzheimer e após passar por outros três médicos foi descoberta a Demência Frontotemporal (DFT). “Ele era um homem muito ativo, trabalhava, dirigia, era uma pessoa independente. E a gente começou a achar ele mais distraído, mais perdido…”.

Leila também convive com a avó do marido, de 81 anos,  que é diagnosticada com Alzheimer há quase 10. Com ambos, ela afirma ter dificuldade e comenta que muitas pessoas cometem o erro de achar que, devido à doença, os idosos com demência são inválidos e não possuem mais sentimentos. “Muitas vezes temos a indelicadeza de falar deles como se eles não estivessem ali. Parece que não, mas eles estão o tempo todo prestando atenção no que a gente fala”.

O neurologista também afirma que há um outro fator para o desenvolvimento da doença: a solidão. “Muitas pessoas acabam desenvolvendo o Alzheimer porque não tem com quem conversar. Já existem estudos que revelam que pessoas que ficam mais sozinhas, mais deprimidas têm um maior risco de desenvolver a doença”.

Entre os principais obstáculos de ter que lidar com a doença, segundo Leila, estão as consultas caras e a dificuldade de conseguir remédios pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, ela afirma que poucas são as pessoas que possuem a empatia para entender a situação e ajudar, inclusive os próprios médicos. “Eles não dão orientação para gente. É muito solitário isso; e para não ser tão solitário, a gente consegue um acompanhamento mais por grupos de pessoas que estão vivendo isso do que propriamente com os médicos”.

Para a cuidadora Rosemeri Padilha, a preparação para cuidar de um idoso com Alzheimer precisa ser profunda, psicológica e também espiritual. “É preciso aceitar aquele paciente e o mal em si”. A cuidadora diz que em 90% dos casos a família não sabe cuidar do idoso e acaba não aceitando a doença. “Nos casos que acompanhei percebi que o sofrimento da família é muito grande. É sofrido ver uma pessoa que cuidou de você nesse estado: a pessoa não te reconhece, não lembra quem você é”.

Rosemeri diz que o número de idosos não tem crescido, mas sim a população que está envelhecendo. “Por consequência disso, têm crescido as doenças que antigamente não eram conhecidas como, o Alzheimer, o Parkinson e o câncer”. A cuidadora fala que o Alzheimer é difícil de diagnosticar no seu início pois muitas pessoas acham que é apenas um mal da maioridade. “As pessoas precisam ficar mais atentas aos primeiros sintomas que se manifestam pelo menos 15 anos antes, precisam buscar médicos especializados para facilitar no desenvolvimento”.

A cuidadora fala sobre os cuidados com o diagnóstico:

Em caso de dúvida, a recomendação médica é levar o idoso para realizar um teste clínico com um profissional capacitado. Em alguns casos, já no consultório, é possível sair com o diagnóstico em mãos.

[learn_more caption=”Doença de Alzheimer” state=”open”] Quais sintomas iniciais? Esquecimentos pontuais, que podem evoluir com esquecimento de datas e nomes, por exemplo, e aumento de irritabilidade.

O que acontece com o organismo? Degeneração da memória e das capacidades intelectuais e físicas.

Como prevenir? Cuidar com a pressão arterial, dosar o açúcar, controlar o colesterol e manter uma prática de exercícios físicos e leitura[/learn_more]

 

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