Casas de jogos de Curitiba sofrem com falta de clientes em meio à pandemia

Estabelecimentos tiveram que se adaptar à nova realidade, enquanto outros tiveram que fechar as portas
Por Felipe Worliczeck Martins, Guilherme Araki e Vinicius Gabriel Bittencourt/ Foto: Ana Carolina Franco (Pixabay)
A atual pandemia de coronavírus trouxe impactos em diversos setores não essenciais da sociedade, incluindo as casas de jogos de mesa de Curitiba, que necessitam de clientes para gerarem capital, algo dificultado pelo isolamento social necessário para achatar a curva de disseminação do vírus. Estabelecimentos como a Paladino Hobbies e BoardZ Game Pub, por exemplo, fecharam as portas para jogadores, tendo, assim, que encontrar novas maneiras de se sustentar.
A BoardZ Game Pub oferece delivery de comida e jogos, enquanto a Paladino Hobbies tenta atravessar a pandemia por meio de promoções e ofertas de produtos. Os jogadores, por outro lado, estão tentando se adaptar às plataformas digitais.
BoardZ Game Pub: delivery de jogos
O estabelecimento abriu as portas no final de fevereiro e logo foi afetado com a chegada da pandemia a Curitiba. Após duas semanas com a loja física fechada, passaram a trabalhar com delivery dos jogos, mantendo-os em isolamento de três dias e higienizando todas as peças após devolução. Outra fonte de renda do estabelecimento para se manter têm sido a entrega de lanches. O proprietário da BoardZ Game Pub, Gustavo Von Zeska de França, conta que duas semanas antes da chegada do coronavírus, a loja recém-aberta chegou a receber 60 clientes em um dia. Já com a pandemia e os jogos funcionando por delivery, houve 93 locações em todo mês de junho.
“Hoje em dia não tem como fazer projeção para o futuro, a gente trabalha de semana em semana, que é o que dá pra planejar. Acredito que a crise do covid-19 vá até junho/julho do ano que vem, até ter uma vacina ampla para a população. Me preparo para funcionar por mais um ano como estamos operando hoje”, diz o proprietário.
Paladino Hobbies: Promoções
A loja precisou fechar por cerca de dois meses e, com isso, teve uma descapitalização durante esse período, segundo o proprietário, Felipe Viana. Além disso, a Paladino Hobbies não pode permitir que haja jogadores no estabelecimento durante esse momento e, assim, precisou encontrar novas fontes de renda para se sustentar. Uma das soluções encontradas, segundo Viana, foi fazer uma campanha de aniversário da loja no mês de junho, na qual houve várias ofertas de produtos a preço de custo para poder recapitalizar e continuar as atividades.
Dessa forma, o estabelecimento segue se mantendo ativo, através de vendas de produtos, adotando as devidas medidas de prevenção, como restrição do acesso de clientes a casa e higienização frequente de jogos, balcões e maquinetas de cartão. Por fim, Viana comenta sobre as projeções futuras para a empresa: “Esperamos passar por esta pandemia e poder voltar a trabalhar normalmente. O lado bom disso, se é que pode haver um, é que a empresa se reinventou um pouco para poder atender os clientes, e estamos projetando ampliação destes meios”.

Jogo de tabuleiro. Foto: Pixabay (Peggy Choucair)
Os jogadores e a pandemia
Jogador e frequentador das casas de jogos de mesa de Curitiba, Amon Santos comenta que ele e a maior parte dos jogadores fizeram a transição do meio físico para a plataforma online dos RPGs (caso do jogo“Magic”). Ele afirma ainda que os eventos, que até o início da pandemia aconteciam nas lojas de jogos, agora são realizados via webconferência.
Amon também diz que pretende voltar a frequentar as casas de jogos após suas reaberturas: “O primeiro torneio de loja que tiver eu vou aparecer não importa o que aconteça. Eu desmarco qualquer compromisso para ir jogar”. Por fim, ele comenta por que é tão especial frequentar as lojas, mesmo existindo a possibilidade de exercer o passatempo através de meios digitais: Os jogadores e os lojistas são pessoas muito boas e, por isso, dá um prazer muito maior de jogar, pois você se diverte mais. No computador você não tem esse mesmo contato e socialização com as pessoas, pois elas estão espalhadas por todo o mundo”.
Pedro Leite Franco, que também frequenta as casas de jogos de mesa, fala que após a suspensão da realização de jogos nos estabelecimentos, ele passou a comprar mais produtos nos sites dessas lojas como forma de manter o passatempo e ajudar esses lugares a se sustentarem neste tempo de dificuldade financeira. Ele também comenta sobre os problemas que está tendo para conseguir jogar online, pois o aplicativo que usa necessita de outra pessoa para realizar a jogatina, e, segundo ele, poucas pessoas de Curitiba estão manifestando interesse em jogar nesse momento. “Eu jogava todo dia. Agora, desde o início da pandemia, joguei só entre 10 a 15 vezes”, afirmou ele.
Pedro conclui falando sobre a importância que as casas de jogos de mesa têm em sua rotina: “O mais especial em ir para as lojas de jogos é a interação humana. Essa é a minha única atividade social, então eu vou lá querendo conhecer pessoas novas e conversar com outras pessoas, e era assim todas as sextas-feiras quando eu ia lá jogar”.
O lado financeiro
A economista Josemary Sime Ferreira analisa os impactos que o isolamento social causa em lugares como as casas de jogos, afirmando que, além da falta de clientes por conta do isolamento, a queda de renda deles também agrava a situação dos estabelecimentos: “ A primeira coisa que a pessoa tira quando ela não tem dinheiro é o entretenimento.”
Além disso, Josemary aponta maneiras como estabelecimentos afetados pela pandemia podem se reinventar: “Hoje a gente fala muito em reinventar, a reinvenção é a palavra da moda na pandemia.” A economista prossegue afirmando que, no caso específico de casas de jogos, essa otimização pode ser por meio de suas outras opções, como lanchonetes e bares. Caso a casa não funcione dessa maneira, Josemary afirma que elas podem começar a deixar os jogos de mesa para aluguel, para não afetar seu lucro.
[box] O que são os jogos de mesa?
Mesmo compartilhando a mesa como item comum, os board games variam bastante em estilo, desde os jogos estratégicos como o xadrez até os famosos RPGs, abreviação para Role-playing games, em que jogadores fingem ser heróis em aventuras, como no jogo Dungeons & Dragons.[/box]