Candidaturas femininas à prefeituras no Paraná correspondem a 7,5% do total

Candidatas a prefeitura em Curitiba: Cristina Graeml(PMB), Maria Victoria (PP) e Professora Andrea Caldas (PSOL)
Entre 10 candidatos concorrendo a prefeito nas eleições municipais de Curitiba (capital do Estado), apenas 3 são mulheres
Por: Beatriz Cecilia, Jeniffer Cristine e Laura Pazin | Foto: TSE
Dentre os 399 municípios do Paraná, apenas 152 dos 1137 candidatos à prefeitura são mulheres nas eleições municipais de 2024, correspondendo aproximadamente a 7,5% do total, segundo dados do TSE. Esse mesmo dado para candidatos homens é de 985. As candidatas mulheres também estão entre os que recebem menos intenções de voto.
Em um panorama geral do estado do Paraná nas eleições municipais de 2024, o cenário encontrado é de uma presença feminina de 34% em todos os cargos, com 11.446 candidaturas, em um total de 33.850 candidatos que estão concorrendo atualmente. Nos cargos de vereador, as mulheres representam apenas 35% e nos cargos de vice-prefeito, 20%.
Em Curitiba, a presença feminina para o cargo de prefeito, representa 30%, com as candidatas: Cristina Reis Graeml (PMB), Maria Victoria Borghetti Barros (CURITIBA MELHOR PARA TODOS) e Professora Andrea Caldas (PSOL/REDE). Elas estão entre os 5 candidatos com menos intenções de votos. Ainda, com as candidatas à vice-prefeito, o número é menor, contando com 2 mulheres, Leticia Cabral de Faria (PSOL/REDE) e Rosângela Maria Wolff de Quadros Moro (CURITIBA PODE MAIS). Já em relação ao cargo de vereadora, apenas 244 do total de 744 são mulheres, 32,8%.
A ex-candidata do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) Camila Lanes, que concorreu à prefeitura de Curitiba em 2020, comenta sobre a falta de representatividade feminina e como ela pode afetar a criação de projetos que deem visibilidade aos problemas enfrentados pelas mulheres diariamente: “É muito pela visibilidade e até mesmo por uma certa tradição que a nossa cidade tem em nunca ter tido inclusive uma mulher à frente da prefeitura”. Além disso, Lanes acrescenta uma necessidade de conscientização e educação do eleitorado para combater o preconceito e estereótipo de gênero na política.

Camila Lanes | Foto: Natália Assueiro

Eneida Desiree Salgado | Foto: Câmara Legislativa
Participação feminina em Curitiba
A capital paranaense segue a tendência dos outros municípios de pouca presença feminina nas candidaturas municipais. Em 1992, na primeira eleição direta municipal de Curitiba, após a ditadura, apenas uma candidata participou da disputa, Marcia Maria Hohl Pradi (PSB).
Já em 1996 e 2000, o número cai para 0 de representação feminina para esse cargo na cidade. Em 2004 e 2008, houve apenas uma representante feminina em cada uma dessas eleições, respectivamente, Vera Helena Teixeira (PRTB) e Gleisi Helena Hoffman.
Em 2012, houve um aumento da participação feminina, com ao todo 5 mulheres, quatro concorrendo como vice e uma como prefeita: Mirian Aparecida Gonçalves, Marinalva Gonçalves da Silva, Sueli de Fatima Fernandes, Beatriz de Campos e Alzimara Cabreira Fraga Bacellar. Desde este ano, a participação feminina na política curitibana foi variada, com duas candidatas ao cargo de prefeito, em 2016, e seis candidatas, em 2020.

Comparação candidaturas de homens e mulheres a prefeito
Candidatura Laranja
A presença de mulheres na política tem ganhado cada vez mais destaque e espaço no debate público. A fim de corrigir problemas como a desigualdade, foram adotadas desde os anos 90, uma série de regras eleitorais buscando aumentar a quantidade de mulheres candidatas a eleições.
O termo candidato “laranja” designa alguém que ocupa a posição de candidato eleitoral apenas para preencher as cotas previstas pela lei no § 3º do artigo 10 da Lei 9.504/97. Esta lei exige a participação de ao menos 30% de mulheres candidatas em cada partido, porém na realidade, muitas delas nem realizam a campanha eleitoral.
Eneida Desiree Salgado, cientista política, afirma que as mulheres, ao participarem da política enfrentam diversas dificuldades desde o momento pré-eleitoral, já que tendem a receber menos recursos em tempo hábil para a campanha, apoio ao seguirem suas carreiras e ganham menos que os políticos homens.
Além disso, a cientista política também comenta sobre a percepção do eleitorado em relação às candidatas mulheres: “Enquanto parte do eleitorado considera que as mulheres são incapazes de ocupar um cargo público porque são muito emotivas ou pouco preparadas, há outros que acham que as mulheres teriam mais capacidade para gerir questões que demandam múltiplos olhares”. Dessa forma, ela explica como os papéis designados para as mulheres pela sociedade, não só dentro da política, afetam a percepção do trabalho realizado por elas e essas ideias acabam sendo reproduzidas diariamente.
Em várias ocasiões os partidos políticos convidam mulheres ou grupos minoritários para serem candidatos apenas com o interesse de atingir a porcentagem eleitoral necessária. Algumas mulheres, desconhecendo esse cálculo do sistema político, aceitam, sem saber que o próprio partido não possui a intenção de elegê-la.
Lanes também comenta que já presenciou casos de candidatura laranja, em que o nome de candidatas mulheres foram indicados pelo partido, mas sem nenhuma campanha ou intenção real de voto: “Infelizmente, depois a gente vê que não tinha sequer campanha, que não havia uma movimentação, um projeto político, que não havia uma dedicação, inclusive da legenda em dispor de fato essas mulheres a ocupar esses espaços”. Ela afirma que nesses casos é importante a denúncia para que essa prática não continue dentre partidos e que a imagem feminina na política não continue a ser prejudicada por ações como essas.
Em julho de 2024, a Câmara dos Deputados aprovou a Proposta de Emenda à Constituição que livra os partidos políticos de multas por irregularidades na prestação de contas e por não terem cumprido as cotas de gênero e de raça nas eleições de 2022.