Pauta ambiental de candidatos à Prefeitura de Curitiba se foca em prevenção de enchentes

por Ricardo de Siqueira
Pauta ambiental de candidatos à Prefeitura de Curitiba se foca em prevenção de enchentes

Especialista diz que candidatos precisam aprofundar políticas públicas para regiões mais desvalorizadas e população mais vulnerável

Por: Ricardo de Siqueira | Foto: Ricardo de Siqueira 

Entre os planos de governo divulgados pelos candidatos à Prefeitura de Curitiba, a mitigação e prevenção de alagamentos e enchentes aparece como uma das principais propostas para a pauta ambiental. A medida parece vir com grande ênfase após aos eventos extremos ocorridos no Rio Grande do Sul, no primeiro semestre do ano. A maioria dos candidatos apresentam propostas parecidas. Além da prevenção e mitigação de alagamentos e danos decorridos de eventos climáticos, há criação de novas áreas verdes pela cidade, restauração de matas ciliares, incentivo à construção de tetos e coberturas vivas, incentivo e aplicação de energias renováveis e medidas que tentam reduzir ou amenizar os efeitos causados pela produção de resíduos sólidos.

Alguns candidatos apresentam propostas mais estruturadas. Luciano Ducci (PSB) propõe um investimento de R$ 1,2 bilhões em urbanização sustentável no bairro Umbará, para a preservação do Rio Iguaçú que passa pela região, financiado através da indenização recebida através da Petrobras pelo vazamento de óleo no mesmo rio. O Rio Iguaçu também aparece como local de investimentos no plano do atual vice-prefeito e candidato, Eduardo Pimentel (PSD), através da criação de uma reserva hídrica num trecho de 16 km entre os rios Barigui e Atuba. O corredor ambiental também contaria com a formação de novas unidades de conservação.

Maria Victória (PP) cita a criação de um plano de combate à eventos extremos provocados pelas mudanças climáticas. Já a Professora Andrea Caldas (Psol) aposta na criação de uma zona sem o uso de agrotóxicos, além de zerar o uso de combustíveis fósseis e a descanalização dos rios da cidade.

Candidatos precisam reconhecer a disparidade social em propostas ambientais

Autointitulada como capital ecológica, Curitiba apresenta índices positivos, como a área verde na cidade calculada em 64m² por habitante, e políticas sustentáveis, como a adoção de placas solares e uso de energias renováveis. Mas para especialistas a política ambiental de Curitiba ainda não reconhece as regiões mais desvalorizadas e a população mais vulnerável. Entre os candidatos a prefeitura neste ano, há diversas propostas interesantes, mas poucos planos concretos.

Professor do Laboratório do Clima da Universidade Católica do Paraná (Labclima), André Turbay diz que as medidas são coerentes e interessantes, e ressalta a importancia de uma abordagem integrada, ou seja, que estude a estrutura social e ambiental. Turbay comenta que as gestão atual e as anteriores fizeram um trabalho reconhecível para o desenvolvimento sustentável, mas a política ambiental da cidade ainda não mapeou e não reconhece as diferenças sociais presentes em Curitiba.

As gestões da prefeitura de Curitiba, com exceção de uma ou outra, trabalham bastante a imagem, ás vezes de forma superficial. O que a gente observa atarvés dos materiais de marketing, é que são feitas obras muito legais. Mas isso não acontece nas áreas mais pobres.

O professor explica que a cidade acaba mantendo uma política de segregação socioespacial. As obras e medidas aplicadas pela prefeitura ficam restritas a regiões e áreas valorizadas da cidade, ou acabam valorizando exponencialmente uma região, promovendo um aumento no preço de imóveis e aluguéis. Nesta situação, a população começa a povoar as regiões mais afastadas, onde não há nenhuma estrutura ou estudo previamente feito ou delimitado, criando problemas habitacionais e ambientais interligados.

Atualmente são mais de 400 ocupações irregulares na cidade, segundo o Mapeamento Nacional de Conflitos pela Terra e Moradia. Na Cidade Industrial de Curitiba, uma dessas ocupações fica próxima a um aterro sanitário da empresa Essencis. Em outras regiões afastadas, as comunidades derrubam áreas verdes para o uso da terra e das próprias árvores, na construção de moradias.

Outro problema ambiental está relacionado aos rios da cidade. O índice de qualidade da água (IQA) medida pelo Instituto Água e Terra (IAT), aponta que a maioria dos rios que cortam Curitiba apresentam uma qualidade péssima ou ruim. Com destaque para os rios Belém, Bacacheri e Atuba. O professor cita a canalização do Rio Belém como um fator determinante para péssimo estado em que o rio se encontra. O processo de canalização começou em 1932, e ao decorrer dos anos, vários trechos foram cobertos para esconder o canal que serviu de despejo de esgoto dos moradores da cidade. Desde 1978 o Belém foi totalmente canalizado na região central da cidade.

O rio volta a ver a luz do sol na região próximo à Rodoferroviária e segue até desaguar no Rio Iguaçú. Neste trajeto o leito do rio se encontra totalmente poluído atravessando diversos bairros residenciais e comunidades. Entre eles está a Vila Torres, uma região favelizada onde os moradores convivem com o mau cheiro do rio. Algumas pessoas percorrem as márgens e córregos próximos para encontrar resíduos de metal ou plástico que possam vender.


O Rio Belém, naquele trecho canalizado na região central, está recebendo uma carga de matéria orgânica e de poluição altíssima. O rio sai desse trecho morto. Um pouco depois da rodoferroviária tem a Vila Torres. Quem olha o rio e vê a Vila Torres, acaba culpando os moradores da região pela poluição.
– Diz Turbay

Além dos problemas citados acima, a emissão de carbono é um dos principais agravantes, totalmente ligada à mobilidade urbana. Em março deste ano, o Departamento de Transito do Paraná (Detran) divulgou que Curitiba possui uma frota de 1.566.008 de veículos, ou seja, é como se a cada 100 habitantes, pelo menos 75 tem algum veículo. A prefeitura já investiu cerca de 317 milhões de reais na compra de 70 ônibus elétricos, mas atualmente o transporte público da cidade possui uma frota de 1,6 mil veículos. Ainda em 2030 que a prefeitura prevê o alcance de 30% da frota com veículos elétricos.

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