Campanha Junho Laranja alerta para risco de queimaduras por álcool

por Bruna Naomi Noda Pelegrini
Campanha Junho Laranja alerta para risco de queimaduras por álcool

Como forma de prevenção, o álcool 70% é usado desde o início da pandemia, mas exige cuidados para evitar acidentes

Por Bruna Pelegrini, Maria Luísa Cordeiro e Tayná Luyse | Ilustração: Tayná Luyse

A campanha Junho Laranja deste ano busca alertar a população sobre riscos de queimadura com álcool 70%, substância que passou a ser muito utilizada no último ano. O número de casos de queimaduras no país aumentou desde o início da pandemia de Covid-19, segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ). Na capital paranaense, houve uma sequência de acidentes com uso do álcool em gel 70% no ano passado, de acordo com o Hospital Mackenzie de Curitiba, referência no tratamento de queimados na região.

De março a outubro de 2020, a SBQ registrou quase 700 internações por queimaduras com álcool 70% em gel ou líquido em 19 estados brasileiros. Dessas, 12 ocorreram no Paraná. Esses casos de internações são os acidentes mais graves, já que nem todas as queimaduras necessitam de hospitalização.

Nesse mesmo período, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) flexibilizou a produção e venda de álcool em gel e líquido 70% em embalagens de até um litro. De acordo com o presidente da SBQ, José Adorno, a medida foi tomada sem que tivesse sido acompanhada de uma campanha de conscientização sobre os cuidados. “Medidas regulatórias têm que ser mantidas para reduzir a exposição da população às queimaduras”, afirma Adorno.

Para o presidente, a educação é prevenção. “A educação em saber utilizar e o quanto isso é perigoso para a vida das pessoas é o que deve ser alertado.” Especialistas recomendam que o álcool seja usado fora de casa, em momentos emergenciais. É preferível lavar as mãos com água e sabão, e a limpeza de superfícies com sabão ou outras substâncias não inflamáveis, como a água sanitária.

Essa orientação é a mesma do médico epidemiologista e consultor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) João Bosco. Segundo ele, o uso do álcool é recomendável em todas as situações em que a pessoa se relaciona com outras e está impossibilitada de lavar as mãos.

Se necessário o uso do álcool, o ideal é que ele fique longe da cozinha ou fontes de calor, como fogueiras. A substância deve ser usada longe de crianças e em local arejado. Em caso de acidente, o procedimento mais correto é lavar o ferimento com água corrente, enrolar um pano limpo e procurar atendimento médico. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), essas orientações devem ser redobradas perto das crianças, já que elas não reconhecem os perigos.

Cuidados na volta às aulas

As aulas em escolas estaduais e particulares do Paraná estão voltando de forma híbrida. Nesse momento, as preocupações com as crianças aumentam. Para a Sociedade Brasileira de Queimaduras, o ambiente escolar é mais um espaço de preocupação e de conscientização para os organizadores das campanhas do Junho Laranja. Muitas instituições de ensino têm disponibilizado totens com álcool para os alunos. Mas a medida é controversa. O presidente José Adorno defende que os espaços de uso comum incentivem e facilitem o acesso às torneiras com água e sabão. “É perigosa a valorização do álcool em gel, ao invés de outras substâncias que podem fazer o mesmo papel”, diz Adorno.

Uma cartilha da Sociedade Brasileira de Pediatria orienta pais e familiares a ensinar as crianças a lavar corretamente as mãos com água e sabão e deixar o álcool apenas para ser usado na rua, sob a supervisão de um adulto. Para o médico epidemiologista João Bosco, o ideal seria o uso exclusivo do álcool por parte dos professores. “Eu sou favorável que a volta às aulas só aconteça após a vacinação geral. Mas em caso de voto vencido, eu diria que o manuseio do álcool gel deverá ser atividade exclusiva dos professores. Serão eles que irão higienizar os alunos.”

Nos casos de crianças, os cuidados com o álcool devem ser redobrados. A pele mais fina e sensível somada ao costume de levar a mão ao rosto aumenta os riscos de acidentes. O álcool em contato com os olhos pode causar ferimentos graves na córnea e o uso excessivo da substância nas mãos podem causar dermatites.

O principal alerta com o álcool em gel é que sua chama é transparente. Por isso, o fato de não ser possível enxergar o fogo aumenta ainda mais perigo de queimaduras. “O álcool gel queima sem aparecer a chama, a criança sente o calor, mas não vê o que está acontecendo”, explica João Bosco.

Serviço

Em caso de acidentes com fogo, ligue para o Corpo de Bombeiros, no número 193.

Para saber mais sobre os cuidados com álcool na pandemia, assista aqui à entrevista completa com o presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras.

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