Caged indica aumento de vagas de emprego, mas Dieese questiona

por Tayná Luyse Cordeiro da Silva
Caged indica aumento de vagas de emprego, mas Dieese questiona

Dieese contesta a pesquisa dos dados do primeiro trimestre deste ano, devido ao novo método de coleta, que pode prejudicar a comparação com os dados anteriores.

Por: Amanda Cristina e Tayná Luyse / Foto: Valdecir Galor/SMCS

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho no fim de março, apresentaram melhoria nos índices de emprego do primeiro trimestre deste ano, mas foram criticados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Isso porque, em meio a uma das maiores crises sanitárias e econômicas do Brasil, o Ministério mudou a metodologia da pesquisa, o que levantou suspeitas por parte dos sindicalistas.

No final de 2019 e início de 2020, o Caged, que antes tinha uma comunicação direta com as empresas, passou a fazer a sua apuração de dados a partir do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial). Ampliando as informações coletadas, a pesquisa passou a incluir trabalhadores temporários, estagiários e avulsos. Além disso, o antigo sistema estabelecia um limite para atrasar a entrega dos dados, diferente do eSocial, que com o cadastro de informações tardias pode gerar mudança no saldo final de determinados meses quando consultados em períodos diferentes. O período de pandemia ainda traz um agravante, pois muitas das empresas que fecharam ainda não comunicaram no sistema suas demissões. 

Dados coletados pelo Novo Caged a partir do número de trabalhadores com registro na CLT, colocados no mercado de trabalho pelas Agências do Trabalhador, mostram que Curitiba aumentou o número de pessoas com carteira assinada nos dois primeiros meses de 2021 em comparação aos mesmos meses do ano interior. Em janeiro de 2020, houve cerca de 30 mil novos registros em CLT e em fevereiro fechou com 32 mil novas contratações. Já 2021, teve um aumento nesses respectivos meses: janeiro terminou com 33,5 mil e fevereiro com 43 mil novos contratos com registro na carteira de trabalho.

Informações do Ministério do Trabalho mostram que fevereiro de 2021 teve um saldo da diferença de contratados e demitidos em cerca de 55% a mais em relação ao mesmo mês de 2020. Isso mostra que as estatísticas de emprego e desemprego estão andando de mãos dadas. 

Dieese rebate as estatísticas do Caged

Segundo dados do Dieese, a pandemia do Covid19 acarretou a queda de cerca de 3,10% de ocupados no Paraná, uma perda de 172 mil ocupações. A maior redução foi registrada no setor privado, com 60% (221 mil) do total sendo com CLT, seguida pelos trabalhadores domésticos, com perda de 30 mil empregos. Por outro lado, houve um avanço de empregos no setor público, com a criação de 139 mil ocupações. Este resultado provavelmente teve influência pelas contratações feitas pelo setor público para o combate à pandemia.

O diretor e supervisor técnico do Dieese do Paraná, Sandro Silva, ressalta a dificuldade em comparar os dados antigos com os coletados agora como a principal falha deste novo sistema, que adicionou novas categorias e tem incluído dados com atraso. “Essas mudanças podem gerar resultados duvidosos quanto à real situação econômica em que estamos”, afirma Silva. “Essa falha enfraquece as discussões a respeito do desenvolvimento de políticas públicas para os mais afetados, principalmente neste momento de pandemia.”. 

A Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (SEPRT) confirma que o Caged sofreu mudanças a partir de janeiro de 2020. Porém, por mais que especialistas confirmem que várias categorias de trabalho tenham sido incluídas no Novo Caged, apenas a coleta de dados de profissionais temporários passou a ser de preenchimento obrigatório por empresas, o que antes do início de 2020, não era. 

Em nota enviada à reportagem, a Secretaria de Previdência e Trabalho contesta a suspeita de que os números tenham sido inflados. Segundo o texto, os trabalhadores temporários correspondem a apenas 4,5% das admissões e 4,2% dos desligamentos.  

A SEPRT afirma ainda que o Ministério da Economia tem total confiança nos dados do Caged e não existe fragilidade dos resultados atuais. “A mudança ocorrida foi para melhoria dos dados, uma vez que no atual Caged o sistema foi unificado, facilitando o processo para os empregadores que antes tinham que preencher as informações em vários sistemas diferentes.” 

A nota afirma ainda que as comparações com anos anteriores ainda são possíveis, mas é importante fazer a ressalva de que houve uma mudança na série histórica.

Realidade no mundo do trabalho dos curitibanos

Para quem está sem emprego há alguns meses, os dados apresentados pelo Caged não parecem retratar a realidade. Um profissional da área de logística, que prefere não ser identificado, é um exemplo disso. Ele era estagiário e seu contrato foi rompido antes do término. “Fui mandado embora da empresa onde eu trabalhava e passei 11 meses à procura de trabalho no período de pandemia”, contou. Ele também conta que conseguiu há pouco tempo seu trabalho atual de forma temporária na área de logística. “Consegui um trabalho registrado em CLT e isso é gratificante, mas por ser temporário e por ainda estarmos em meio à uma pandemia mundial, a qualquer momento posso ser dispensado e ter que novamente procurar um emprego”, concluiu.

Já Mayara Cristina Baggio, 26 anos, está no mercado de trabalho informal fazendo entregas. Ela relatou que pediu demissão de seu antigo emprego por conta da sobrecarga emocional e de trabalho e está há três meses procurando um emprego com registro em carteira. “Procuro por estabilidade financeira, o que não é possível sem registro e no ramo das entregas, onde às vezes se ganha e às vezes não, e há muito desgaste por um valor insignificante”, ressaltou.

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