Brincadeiras de rua perdem espaço para a tecnologia

Especialistas acreditam que a falta de brincadeiras durante a fase infantil pode ser prejudicial
Por João D’Ambrós e Rita Vidal
Jogar futebol, soltar pipa, brincar de pique-esconde ou pega pega tornou-se um hábito cada vez menos recorrente na vida das crianças da atualidade. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) aproximadamente 47% dos brasileiros entre 9 e 17 anos usam a internet para jogar. O estudo apontou ainda que de 2014 para 2015, o percentual de crianças dessa faixa etária que acessam a internet mais de uma vez por dia subiu de 21% para 66%.
De acordo com a pedagoga Amanda Martim na atualidade é extremamente difícil desvincular as crianças do mundo digital, já que durante a própria gestação a mãe têm contato com a tecnologia. “Crianças com um pouco mais de um ano já sabem reconhecer a logo da Netflix, e isso acontece pela percepção visual que eles têm do meio em que vivem”.
Amanda defende que por mais que a tecnologia tenha conquistado o espaço nas casas, os pais precisam estar presentes e brincarem com seus filhos, já que esse momento em família ajuda no desenvolvimento da criança.
Brincadeiras são fundamentais na escola
Para Amanda, o ideal seria que as crianças brincassem e aprendessem ao mesmo tempo, elas absorvem melhor na prática, através do lúdico já que seu tempo de concentração é curto e precisam de atividades que envolvam seu conhecimento com o espaço e com o próprio corpo.
A pedagoga explica que nas escolas é difícil separar o brincar e a educação. Por conta do currículo que deve ser cumprido, muitas vezes, no ensino infantil, etapas importantes para a formação da criança são pulados. “A criança que não brinca vira um adulto. Ela desenvolve vários problemas, desde o psicológico até o intelectual”.
“O brincar é um dos pilares da educação infantil e quando a criança brinca, ela aprende!”
Já no ensino fundamental, a tendência é que o brincar fique cada vez mais distante, contudo a pedagoga afirma que esse é o momento em que os pais devem incentivar os filhos a realizarem cada vez mais atividades. “Em sala de aula nós trabalhos com jogos de matemática e raciocínio, por exemplo, e nos intervalos, as próprias crianças criam as brincadeiras livres”.
Amanda esclarece que nas brincadeiras livres os pedagogos conseguem entender as personalidades das crianças, como cada um lida de diferentes maneiras à determinadas situações, entender o emocional de cada um e como a criança se comporta com a imposição de regras.
Prefeitura promove evento visando resgatar brincadeiras antigas em Curitiba
No último sábado, 25, foi realizada mais uma edição dos Jogos do Piá, iniciativa da Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude (SMELJ). Com o intuito de resgatar costumes e brincadeiras de rua, desta vez o local escolhido foi o Parque Náutico, Boqueirão. Dentre as várias modalidades oferecidas, estavam carrinhos de rolimã, tênis de mesa, e a principal atração, uma oficina para montar pipa.
Um dos pais presentes no evento, Fernando Luiz Gonzaga, afirma que tomou conhecimento do projeto em um post no Facebook. Para ele a iniciativa apresenta vários pontos positivos, como por exemplo a melhora na relação pai e filho, além do resgate de brincadeiras das quais não são mais tão praticadas atualmente. Gonzaga acredita que devido à chegada de videogames e celulares esse contato com os pequenos vêm se tornando cada vez mais difícil, entretanto, entende que a culpa não é da tecnologia, mas sim de uma opção feita pelos responsáveis.
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“A tecnologia, na verdade, ajuda muito, o que priva as crianças de se divertirem é a falta de segurança nas ruas, pessoas roubando. Eu, por exemplo, prefiro meu filho seguro em casa em frente a televisão do que correndo perigo na frente de casa”, conclui o responsável.
O coordenador de projetos do departamento de lazer da SMELJ, Tiago Campos, conta que a internet, os videogames e os smartphones acabaram esvaziando as brincadeiras nas ruas de todas as grandes cidades, mas imagina que isso possa mudar com o novo projeto.
“Tudo está cada vez mais impressionante, mais fácil, não só os jogos, mas também filmes e séries disponibilizados por serviços de streamimg. Nossa intenção é ocupar os espaços públicos da cidade e estimular as crianças a praticarem brincadeiras saudáveis junto com suas famílias”, afirma Campos.
O projeto iniciou no mês de junho e seguirá com sua programação normal nos finais de semana até o dia das crianças (12/10) no parque Barigui, onde acontecerá os encerramentos dos jogos. Passando por diversos parques da capital paranaense, a participação é gratuita e aberta para meninos e meninas.