Bares históricos de Curitiba eram ponto de encontro dos principais jornalistas da capital

por Henrique Odebrecht Jorge
Bares históricos de Curitiba eram ponto de encontro dos principais jornalistas da capital

Reduto de jornalistas, os bares do centro da capital paranaense são carregados de história e tradição.

Por Henrique Jorge e Lucas Lopes | Fotos: Henrique Jorge e Lucas Lopes

Por volta dos anos 80, Curitiba era um dos grandes pólos do movimento contra a ditadura militar. Com isso, houve uma movimentação cultural, intelectual e política. Por ser ponto de encontro das grandes personalidades da época, os bares e restaurantes da cidade eram os lugares de onde saiam as principais notícias da cidade

Entre os locais mais frequentados, a maior parte ficava concentrada no centro da cidade, onde já existiam bares tradicionais, como o Bar Palácio (1930); Stuart (1904), Bar do Ligeirinho (1949) e Bar Mignon (1925) além de dar espaço para bares novos como o Retranca (fundado nos anos 80) e o Bife Sujo (1977).

O centro de Curitiba era o lugar onde ficavam os principais prédios públicos e as redações dos principais jornais paranaenses. Dessa forma, os bares da região central se tornaram uma segunda redação. Entre um plantão e outro, os jornalistas misturavam-se com políticos, boêmios e a alta sociedade nos mais diferentes estabelecimentos. E quando um fechava, o jeito era ir para o próximo.

Um ótimo exemplo da maneira que esses bares funcionavam é o falecido e renomado jornalista e colunista social, Dino Almeida. Frequentador assíduo dos bares centrais, “presenciou e escreveu muita coisa na noite curitibana”, como relata o garçom do bar do ligeirinho, Gilberto Raulik, mais conhecido como Giba.

História até de manhã

Criado em 1930, na rua Barão do Rio Branco, em frente ao Palácio do Governo, surgia um dos bares mais tradicionais da capital paranaense. Nomeado Palácio, por conta da localização, rapidamente o estabelecimento se tornou um dos mais frequentados e apreciados de Curitiba.

Por estar de frente para o prédio mais importante da época, de onde saíam as notícias e políticos o tempo inteiro, o restaurante fez-se uma segunda casa para os jornalistas paranaenses. Em um ambiente repleto de comes e bebes, periodistas juntavam-se à políticos, personalidades, artistas e todos que compunham a elite curitibana.

Após 94 anos de história, muita coisa mudou, mas a tradição e qualidade do Palácio segue a mesma. Não à toa, é o ambiente escolhido por diversos famosos que visitam a capital. É o que relata o gerente e um dos funcionários mais antigos da casa, Laurindo Graciano: “O Palácio é escolhido por eles (famosos) por ser discreto e ficar até mais tarde, sem contar na qualidade que oferecemos, que nunca mudou. Temos os mesmos fornecedores há cerca de 30 anos”.

Fachada do prédio onde atualmente fica o Bar Palácio

Mulheres nos bares

Os bares do centro de Curitiba eram tão populares entre os jornalistas da época, que na década de 80 o fotojornalista Jorge Graf abriu o Bar Retranca dentro do sindicato dos jornalistas (SINDIJOR). Essa era a primeira parada dos comunicadores da época, que depois de lá seguiam para todos os outros bares da região.

Foi em uma dessas jornadas entre bares que em 1984, saindo do Retranca, as estudantes Sonia Cristina Bittencourt, Cláudia Sigmalt, Vera Lúcia Bittencourt e Isabel Cristina Oliveira decidiram ir comer no Bar Palácio (que na época não aceitava mulheres sozinhas no estabelecimento). Depois de muita discussão, as mulheres foram até a delegacia para prestar queixa e tentar entrar no bar.

Toda essa história virou passeata, que foi comunicada no jornal O Estado do Paraná com a manchete: “Bar Palácio terá que enfrentar feministas”. Depois de muita luta, finalmente as mulheres conquistaram o direito de frequentar o Palácio da maneira que queriam, deixando de lado a antiga regra da casa.

imagem: Acervo da biblioteca pública do Paraná

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