“Baleia Azul” alerta governo para saúde mental de jovens

Especialistas consideram insuficientes as políticas de prevenção ao suicídio em Curitiba
Por Paula Moran
Com a repercussão da série “13 Reasons Why” e do jogo “Baleia Azul”, envolvendo o tema suicídio, as autoridades de Curitiba têm se mostrado preocupadas em relação à necessidade de mais apoio psicológico para jovens. As políticas públicas existentes são consideradas insuficientes pelos especialistas e não há projetos específicos para a prevenção do suicídio juvenil.
Em último relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2014, o Brasil foi apontado como o oitavo país no mundo em número de suicídios. Segundo a OMS, o problema é ainda mais grave entre jovens de 15 a 29 anos, sendo a segunda causa de morte global da faixa etária. Dados levantados pelo Ministério da Saúde em 2013 colocam Curitiba como a décima quarta colocada no ranking de capitais brasileiras por taxa de suicídio a cada 100 mil habitantes.
A responsável pela parte técnica infanto-juvenil da Secretaria Municipal de Curitiba, Maria Cristina Barreto, afirma que houve uma mobilização das equipes de saúde e educação após a repercussão do jogo, no sentido de alertas e ações preventivas. “É importante entender o que o jogo nos trás de ensinamento e alerta, o fato da depressão infanto-juvenil, que ninguém presta muita atenção, os quadros de automutilação, que já são sinais de risco e o próprio bullying, que nos traz um alerta para como ajudar e ensinar os jovens a fazer uso das mídias sociais de uma forma positiva e saudável.”
Maria Cristina explica que em termos de saúde, as demandas são sempre crescentes. Especialmente na área de saúde mental, as elas vêm crescendo bastante e muitas vezes não é possível atendê-las, então é preciso sempre estar avaliando a ampliação de serviços.
“Baleia Azul” preocupa pais e especialistas
Uma mãe que preferiu não ser identificada diz sentir certa preocupação em relação ao jogo, pois mesmo conhecendo e conversando com seu filho, nunca pode ter certeza sobre o que ele está lendo ou assistindo. “A tecnologia está sempre um passo à frente da geração dos pais, então acabo me sentindo atrasada em relação ao meu filho, ele com certeza ficou sabendo desse jogo antes de mim”, porém ressalta que acredita ser obrigação dos pais conversar sobre o assunto.
Segundo a doutora em Psicologia Ana Beatriz Pedriali, não é qualquer jovem que se interessa pelo jogo, e sim aqueles que já estão com pensamentos suicidas e buscam uma solução para que isso ocorra de fato.
Para a especialista, um dos principais precursores desse efeito causado pelo jogo é, na verdade, a falta de empatia das pessoas, que muitas vezes fazem piadas sobre o assunto, causando ainda mais distúrbios em pessoas que já estão em um quadro de depressão. Então, é importante que os pais estejam atentos e queiram discutir isso com os filhos, pois será mais fácil diagnosticar e de alguma forma, prevenir problemas futuros.
Ela destaca que a saúde mental no Brasil e no Paraná é extremamente negligenciada, e que a situação da rede pública e do SUS é precária, tanto no acesso a medicações quanto para tratamentos, principalmente para jovens, que mesmo sendo o grupo mais afetado, não recebem apoio especializado.
De acordo com a psicóloga, a solução para atender a demanda dos casos de problemas emocionais em jovens é procurar ajuda por meio de ONG’s e atendimento via telefone, como o CVV (Centro de Valorização à Vida), e em universidades públicas e particulares que possuem atendimento clínico facilitado realizado por alunos dos últimos anos de faculdade.
Conheça outras iniciativas para a prevenção
Na rede pública de ensino de Curitiba, o diretor da escola estadual Júlia Wanderley, Cristiano André Gonçalves, destaca a importância de um trabalho integral e constante para promover o bem-estar dos jovens estudantes. A escola conta com uma equipe de professores e funcionários locais que tentam promover debates e palestras mensais com pais e estudantes sobre bullying, discriminação, prevenção ao uso de drogas, entre outras temáticas.
O colégio dispõe em sua infraestrutura de três pedagogos, totalizando uma média de 150 alunos por profissional. Para o diretor, seria interessante a presença de um psicólogo para auxiliar no trabalho já desenvolvido, assim como um inspetor para acompanhar melhor os estudantes.
Com relação ao jogo, Cristiano aponta a necessidade dos pais e profissionais da educação estarem em alerta. Ele ressalta também que quando necessário, o colégio encaminha alguns estudantes a buscarem apoio psicológico na Universidade Federal do Paraná (UFPR) ou em outras instituições privadas que contam com o curso de Psicologia.
Curitibano cria jogo “do bem”
Em oposição ao jogo “Baleia Azul”, o curitibano Sandro Sanfelici, criou o “Capivara Amarela”, animal símbolo da capital paranaense. O projeto tem o objetivo de ajudar àqueles que buscam algum tipo de apoio psicológico. Para isso, foi criado o “desafio do bem” em um grupo do Facebook no dia 20 de abril, e em menos de um dia obteve mais de mil participantes de todo o país.
O jogo consiste em 50 desafios com três níveis diferentes: inicial, intermediário e avançado, cada qual com propostas diferentes. No nível intermediário, por exemplo, o participante pode preparar um jantar para a família ou para os amigos e se desculpar com alguém que tenha magoado. Já no nível avançado, os desafios envolvem interação com a sociedade, como doação de sangue e medula óssea, visitar orfanatos, asilos ou adoção de animais.
O Capivara Amarela tem curadores, que além de orientar diariamente as atividades, também conversam com os participantes para saber como eles estão e como se sentem – estes, recebem o manual do Centro de Valorização da Vida e orientações profissionais da saúde. É válido ressaltar que o projeto foi criado com o intuito de ajudar e trabalhar a autoestima, porém não substitui o tratamento médico.