Bairros ricos em Curitiba apresentam maior quantidade de espaços públicos

por Enrique Guinart
Bairros ricos em Curitiba apresentam maior quantidade de espaços públicos

Praça pública no bairro Jardim Social/Enrique Ceni

Praças públicas podem desempenhar papel fundamental na saúde mental do indivíduo.

Por: Enrique Guinart

Era uma quinta ensolarada. Eu precisava entregar atividades da faculdade. Estava cheio de coisas na cabeça e não conseguia agir. Decidi calçar meu tênis e dar uma corrida em uma das praças públicas que cercam o bairro do Jardim Social. A região é conhecida como uma das mais sofisticadas de Curitiba, localizada a 3,9 km do Centro da cidade, de acordo com IBGE apresenta uma população estimada de 5,568 habitantes. É um bairro residencial, conhecido também por sua tranquilidade, em seus 28 mil metros quadrados estão localizadas 11 praças públicas.Esses espaços se tornaram o coração do bairro, oferecendo aos moradores e visitantes um refúgio em meio a agitação da cidade.

As praças públicas desempenham um papel vital na saúde pública. Elas oferecem espaços para atividades físicas, o que pode ajudar a prevenir uma série de condições de saúde, incluindo doenças cardíacas. Além disso, as praças podem contribuir para a saúde mental, justamente o que aconteceu comigo naquele dia ensolarado. 

O profissional José Medeiros, especialista em qualidade de vida, comenta sobre a importância da atividade física para o indivíduo.  ”Podemos dizer que é crucial por três razões, melhora consideravelmente nossa saúde, bem estar físico e mental. Quando o indivíduo está praticando esporte ele está pensando em seu futuro e a presença das praças públicas facilitam essa interação”.

Mas será que todas as regiões de Curitiba apresentam essas mesmas condições para a qualidade de vida? Um estudo realizado pela Universidade Federal do Paraná no ano de 2022, investigou a relação entre as praças e o rendimento médio mensal nos 40 bairros agrupados de Curitiba. Os resultados indicam que bairros com menores rendimentos possuem menos praças em relação à área do bairro e menos espécies arbóreas no total e por praça. Esse fenômeno se dá muito pela valorização imobiliária nesses bairros, a presença de praças bem cuidadas e estruturadas beneficiam os moradores da região, além de que os moradores dessas regiões possuem mais influência política e podem pressionar por mais espaços públicos para sua comunidade.

O urbanista Haroldo Pinheiro comenta sobre o motivo de terem mais praças públicas em regiões ricas da cidade, e destaca o que pode ser feito para mudar isso. “As praças públicas em bairros mais ricos tendem a ser melhor mantidas e têm mais recursos, o que pode atrair mais pessoas a essas áreas. É uma questão complexa para se mudar, mas acredito que a solução passa por uma combinação de planejamento urbano inclusivo, investimento público e envolvimento da comunidade”. Ainda acrescentou: “bairros com poucas praças tendem a ter um índice de violência e roubo maior, devido à falta de lazer e atividades esportivas presentes neles.”

Conforme o banco de dados da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, os bairros com maiores rendimentos apresentam maior número de praças em sua região. Somente no Batel, Cabral e Água Verde são registradas 41 praças públicas. Se compararmos com regiões da cidade com menores rendimentos seriam necessárias as regiões do Bairro Novo e Boqueirão somente para alcançar o número de 41 praças públicas. 

Voltando para casa após a corrida pelo bairro, percebi a importância de ter um refúgio em meio a rotina. Para a maior parte da população curitibana não há essa opção, algo que deveria ser repensado pela prefeitura de nossa cidade.

Jornalismo Investigativo - Série especial do Comunicare

Esta reportagem foi desenvolvida na disciplina de Jornalismo Investigativo do curso de Jornalismo da PUCPR. 

 

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