Aumenta casos de sarampo e poliomelite no Brasil por conta de fake news

Notícias falsas sobre campanha de vacinação contra sarampo e poliomelite faz com que pais deixem de vacinar os filhos, mídia discute o assunto na tentativa de desmenti-lo
Por Rita Vidal e Stefany Mello
Boatos espalhados nas redes sociais têm influenciado na queda do alcance das campanhas de vacinação no Brasil, desde 2016, segundo o Ministério da Saúde. Só em agosto deste ano, o Brasil registrou 1053 casos de sarampo. Desde 1999, o país não registrava um número tão alto de casos confirmados em um único ano.
O Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, divulgou em nota que a queda da vacinação de crianças no Brasil, em pelo menos 16 anos, está relacionada às notícias falsas sobre vacinação divulgadas na internet. Além disso, a cobertura da segunda dose da vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, teve adesão de apenas 76,7% do público-alvo em 2017, depois das várias disseminações de notícias falsas sobre a vacina em redes sociais.
Grupos que se recusam a vacinar os filhos ou a si próprios vem ganhando força no país. Movimentos dentro das redes sociais, que são conduzidas por páginas temáticas no Facebook, buscam publicar supostos efeitos colaterais das vacinas sem usar bases científicas. A administradora do grupo antivacina “O lado obscuro das vacinas”, Isma de Souza conta que não confia na prática das vacinas porque as bulas advertem reações adversas que podem acontecer após o uso dela.
Isma também diz que para ela, existem outros métodos para evitar doenças. “Se formos avaliar, por que pessoas saudáveis e não vacinadas não estão adoecendo? Porque a vacina não protege, mas essas pessoas usam métodos muito mais eficazes, que é a boa higiene e a nutrição do corpo”. A administradora do grupo antivacina diz que não dissemina fakes news com as publicações e que as pessoas deverão sofrer defendendo a vacinação.
O membro desse mesmo grupo Silvio Scheffer, explica que não confia nas vacinas pois para ele, a intenção é somente de lucro por cima das vendas. “Tudo gira em torno de demanda e procura de consumo. Eu parto do princípio da diminuição populacional do mundo, porque é o que a maioria da elite quer com as vacinas”, diz o pintor predial.
Em nota, o Ministério da Saúde diz que muitas doenças comuns no Brasil e no mundo deixaram de ser um problema de saúde pública por causa da vacinação massiva da população e relatam doenças que não aparecem. “Poliomielite, sarampo, rubéola, tétano e coqueluche são só alguns exemplos de doenças comuns no passado e que as novas gerações só ouvem falar em histórias”.
Ainda em nota, o Ministério da Saúde, com respaldo técnico de equipes especializadas, garante que a vacinação é segura, sendo que seu resultado não se resume a evitar doenças.
Em Curitiba, a Secretaria de Saúde do Paraná entrou em contato com o veículo de televisão, diretamente com o programa Band Cidade da Rede Bandeirantes, pedindo ajuda e relatando o problema com as disseminações de notícias falsas sobre as vacinações em redes sociais, pois com as propagandas eleitorais no ar em época de eleições, eles estavam impedidos de promover a campanha.
O redator chefe e apresentador do Band Cidade em Curitiba, Douglas Santucci, revela que dentro da redação houve a verificação que o problema das notícias falsas estavam existindo nas redes sociais. “O Band Cidade não podia dar um anúncio para a Secretaria de Saúde do Paraná, mesmo que de graça e por uma questão de saúde, porque depois eles poderiam ser responsabilizados já que estava em época de campanha das eleições”. O apresentador conta qual foi a iniciativa criada pela redação para ajudar a acabar com as fakes news criadas sobre as vacinas.
Como um plantão de última hora, a campanha teve uma duração de trinta segundos, com nomes de Jornalistas importantes no Paraná, como exemplo, os próprios apresentadores do Band Cidade, Douglas Santucci e José Wille; também participaram da campanha Val Santos, apresentador do Brasil Urgente; Laércio André, do Paraná Acontece; e Giselle Suardi, do Band mulher. Santucci completa que “usamos esses nomes para atingir todos os públicos e para tentar orientar a população da forma correta. Nós decidimos aqui por meio da diretoria de conteúdo fazer uma campanha bastante ostensiva para combater essa fake news”.
Como surge a fake news?
A estudante Bruna Oliveira Araújo conta que recebeu pelo Facebook e pelo WhatsApp duas fake news sobre a vacina do sarampo. A jovem relata que em uma das notícias enviadas o link, que encaminhava para a publicação, era de um site desconhecido e, aparentemente, não confiável, o que fez com que ela suspeitasse da informação e a desconsiderasse como verdadeira.
“Nas duas fake news o texto dizia que crianças estavam morrendo por causa da vacinação, logo desconfiei que não era real”, relatou Bruna.
Além disso, a estudante diz receber muitas fake news pelo grupo da família no WhatsApp e, acredita que isso acontece por conta da idade dos familiares que não conseguem identificar uma notícia falsa e acabam compartilhando pela falta de informação.
O professor e mestrando em fake news, Renan Colombo, afirma que a desinformação sobre a vacinação surge a partir dos termos médicos e técnicos sobre o assunto que a população não entende. “A fake news é sensacionalista, ela impacta o leitor positivamente ou negativamente e se diferencia na sua propagação intensa nas redes sociais. Cabe aos veículos de jornalismo o papel de checar e desmentir essas informações para as pessoas”.
Para identificar uma fake news, o professor recomenda atentar-se à carência de fontes e aos erros de português presentes na matéria e, principalmente, a checagem de qual veículo compartilhou a informação. Caso receba alguma fake news e deseja desmenti-la, o jornalista revela que o Google é a melhor ferramenta de trabalho.
Desinformação é risco de morte para as crianças
Para a enfermeira Mônica Raso, que trabalha na Secretaria Municipal de Saúde, compartilhar esse tipo de informação é irresponsabilidade. “Ninguém tem o direito de brincar com a vida de crianças desse jeito. A falta dessas vacinas pode deixar sequelas e até mesmo levar à morte”.
Mônica explica que até o começo deste ano, doenças como a poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, catapora e sarampo, que até então eram pouco registradas no Brasil, voltaram a ser tratadas nos postos de saúde, isso porque houve uma defasagem na procura das vacinas por conta das fake news. A enfermeira diz combater essas notícias diariamente e, reforça que a vacinação é necessária para erradicação dessas doenças.
Como profissional, Mônica diz que é obrigação denunciar ao Conselho Tutelar os pais que deixam de vacinar os filhos por conta dessas notícias falsas e, afirma que vacinar é um dever nosso e um direito da criança.
A funcionária da Secretaria ainda pontua que o objetivo da vacinação é fazer com que o organismo crie anticorpos específicos contra esses germes e bactérias e, que a partir do momento que a vacina é administrada, o organismo leva cerca de 21 dias para ser imunizado contra a doença.