Ativismo ambiental mobiliza população de Curitiba e litoral

Movimento “A Causa Mais Bonita da Cidade” exemplifica incerteza na preservação de áreas verdes e históricas do estado
Por Marina Prata e Luana Perdoncini
Diversos grupos ambientalistas do Paraná têm se queixado da falta de diálogo e da demora na concretização de decisões a respeito das áreas que buscam preservar. Recentemente, o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (CPMC) negou o pedido de tombamento dos remanescentes do antigo Hospital Psiquiátrico Bom Retiro em Curitiba, diante da demolição do prédio em 2012. A decisão desagradou os ativistas ambientais do movimento “A Causa Mais Bonita da Cidade”, que buscam impedir que a área verde do terreno dê lugar a uma nova sede da rede de supermercados Angeloni. Apoiadores visam a construção de um parque público no local, possibilidade considerada pelas organizações donas do terreno que estão em negociação com a prefeitura.
A área a ser ocupada pelo mercado possui 24,5 mil m² de vegetação em um terreno de 60 mil m², que abriga três nascentes e dois córregos, além de ser corredor biológico para várias espécies. O movimento ambiental conseguiu frear a análise do alvará para a construção do novo supermercado – mas não há atualizações oficiais sobre a obra há meses, por parte do governo ou da empresa.
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“A Causa Mais Bonita da Cidade” teve origem em outro movimento, denominado “Salvemos o Bosque da Casa Gomm”, que em 2013 lutou pela área de preservação afetada pela construção do shopping Pátio Batel. Os remanescentes do bosque foram revitalizados pelo shopping após a construção, no entanto, apenas 1/3 da área verde original permaneceu. Na época, Adriano Koehler presidia o Grupo Escoteiro Santos Dumont, que apoiou a causa do Gomm: “O shopping ocupou uma área que a cidade poderia ter aproveitado melhor, mas antes ter algo do que não ter nada”, analisa, diante das medidas compensatórias tomadas.
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Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, Curitiba possui apenas 1,3% da área de Mata Atlântica original do município, que era de 100%. Já o Paraná ocupa o 3º lugar no ranking de estados que mais desmatam o bioma, restando 13,1% de floresta, após 456.514 hectares destruídos ao longo dos últimos 30 anos. Para o vice-presidente do Observatório de Justiça e Conservação, Aristides Athayde, “esses remanescentes em pouquíssimo número estão sendo ameaçados por uma política completamente equivocada, que não entende que nós temos que garantir esses ambientes naturais”.
Moradores da capital se engajam em causas por todo o Paraná
O Observatório de Justiça e Conservação é uma das entidades apoiadoras da causa “Salve a Ilha do Mel”, que busca barrar a construção de um novo porto privado na Faixa de Infraestrutura de Pontal do Paraná. A obra envolve a construção de 20 quilômetros de rodovia, um canal de drenagem, um gasoduto, uma ferrovia e uma linha de transmissão de energia, e estima-se que destruirá uma área equivalente a 650 campos de futebol de mata nativa.
[caption id=”attachment_29158″ align=”alignnone” width=”1024″] Por: Observatório de Conservação Costeira do Paraná[/caption]
“São ecossistemas que mantém o fluxo estuarino da baía na frente da Ilha do Mel. Toda a fauna marinha da ilha será afetada, e comprometerá a própria capacidade da ilha de se regenerar”, mensura Athayde. Além da área verde, o desmatamento prejudicará as árvores da ilha que dependem da dispersão dos pássaros, os papagaios-de-cara-roxa que utilizam a região para pouso e a Baía dos Golfinhos, que é berçário dos botos cinza.
Confira o vídeo produzido pelo movimento “Salve a Ilha do Mel” para divulgação da causa nas redes sociais.
A construção do porto apresentaria impacto também no ecossistema do continente, afetando principalmente a região de Pontal do Paraná, que é referência mundial de preservação da Mata Atlântica, por possuir a maior área contínua do bioma no Brasil (75% de preservação). Aristides Athayde ainda ressalta o prejuízo a atividades econômicas fundamentais: “Como o turismo é uma indústria que preza pela conservação, a partir do momento em que não houver mais, a Ilha do Mel sofrerá com todo o tipo de necessidade e carência”.
Discussão busca equilibrar desenvolvimento econômico e preservação
As obras do antigo Hospital Bom Retiro e da Faixa de Infraestrutura de Pontal do Paraná tem como justificativa o desenvolvimento econômico e a geração de empregos. Ao serem procurados pela equipe de reportagem, o Grupo Soifer (responsável pela construção do Pátio Batel), e o Grupo Angeloni (responsável pela construção do supermercado) não se manifestaram. A Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos também não deu resposta sobre a construção do porto no litoral.
Para Athayde, o litoral do Paraná pode encontrar outras formas de alavancar o seu desenvolvimento: “É possível fazer isso de uma forma muito mais inteligente, garantindo a conservação daquele pedaço de patrimônio natural para as futuras gerações”.
“A discussão sempre vai ser conservação versus dinheiro. Quase ninguém pensa em cuidar dos dois ao mesmo tempo”, diz Adriano Koehler. Para ele, que é ativista das duas causas curitibanas, não há resposta simples para mediação: “Não precisamos de mais supermercados, e é possível gerar esses mesmos empregos em outro lugar”.
Acesse o link abaixo para ter uma visão 360º do terreno do antigo Hospital Bom Retiro:
“Não é só preocupação com a flora e a fauna, mas com o ser humano também”, afirma Koehler, ao defender o benefício à saúde trazido pelo contato com áreas verdes. Para o ativista, o apoio da população em geral a causas ambientais é fundamental, por meio das ouvidorias públicas, da movimentação nas redes sociais e participação em eventos: “É preciso participar da vida da cidade, pois sempre vai ter algo próximo da sua realidade”.