Assassinatos no transporte público preocupam cidadãos de Curitiba

Com menos de dois meses de diferença, dois casos de assassinato dentro de ônibus colocam a população da capital paranaense em alerta
Por Ana Maria Marques, Isabela Borges e Millena Lechtchechen | Foto: Isabela Borges
Os recentes assassinatos de Matheus João de Castro, de 20 anos, e Oziel Branques dos Santos, de 40 anos, preocupam os usuários das linhas de ônibus, devido à crescente ocorrência de casos de violência dentro dos transportes públicos reportados no primeiro semestre de 2024.
Desde Setembro de 2023, Curitiba registrou 7 casos de crimes contra a vida em ônibus, sendo 3 deles fatais, de acordo com um levantamento feito pela equipe do Portal Comunicare com base em ocorrências noticiadas pela mídia. Em 2021, foram registrados 1349 casos de roubo em subambientes ônibus, terminais e estações tubo de Curitiba, de acordo com um levantamento de ocorrências de furtos e assaltos/roubos consumados, publicado pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP); Em 2022, houve um aumento de 362 casos, somando 1711 registros de furtos e assaltos ambientados em transportes públicos e estações.
LINHA DO TEMPO
Aproximadamente 32% dos passageiros de ônibus do país veem a falta de segurança como o principal problema que enfrentam no dia a dia, segundo pesquisa conduzida pelo Diário do Transporte. Este foi o caso do analista de crédito, André Martins, de 43 anos, que mesmo saindo ileso, presenciou a atuação de assaltantes na linha do trabalhador e, por conta dos casos de violência presenciados por ele, abandonou o uso das linhas de ônibus . Abaixo, o relato de André:
“ELE ENTROU NO ÔNIBUS COM UM FACÃO”
De acordo com o Professor e Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Cezar Bueno, para compreender a razão dessas ocorrências é preciso entender o perfil dos agressores e sua situação social, visto que, de acordo com o especialista, cada vez mais as pessoas estão se auto autorizando a fazer a lei de forma violenta independente do espaço. “Será que essa pessoa em sua biografia passada não foi um produto estruturado de violência, e de repente se vê com o direito de reproduzir aquilo que ela sofreu?”.
Segundo o sociólogo, para tornar o transporte público mais seguro, além de analisar o perfil desses ofensores, são necessárias políticas públicas como mecanismos que detectam o porte de armas, facas e outros armamentos e um dispositivo dentro do transporte público para acionar casos suspeitos.
O assassinato do jovem Matheus João de Castro levanta outro alerta, dessa vez em relação aos índices de latrocínio da região. De acordo com as estatísticas fornecidas pelo Centro de Análise, Planejamento e Estatística CAPE, em serviço pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná, Curitiba somou oito (8) casos de roubo resultado em morte em 2023, enquanto o primeiro semestre de 2024 já conta com duas (2) ocorrências de latrocínio reportadas.
Com a implementação do projeto que altera a lei nº 10.333, de 2001, e rege a cobrança digital da tarifa como método único de embarque nos veículos, o aumento do uso de cartões para pagamento da tarifa de ônibus em Curitiba e a consequente redução da circulação de dinheiro, contribuíram para que o volume de assaltos nos transportes coletivos da capital tivesse uma redução de 87%, em um levantamento feito pela Urbanização de Curitiba (Urbs) entre 2019 e 2022. A mudança se deu com o início do processo de retirada dos cobradores em 2018, e definitivamente encerrado em maio de 2023.
Paraná no mapa da violência
Com os maiores índices identificados na Região Metropolitana de Curitiba (21,0%), o estado do Paraná (23,6%) aparece como líder em taxa de homicídios estimados por 100 mil habitantes da região Sul do Brasil, em relatório produzido pelo Atlas da Violência dos Municípios em 2023.
No mesmo relatório, o estado do Paraná, que teve aumento de 20% na taxa de homicídio em relação a 2019, tem uma distribuição relativamente mais uniforme, comparado a Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A Região Sul como um todo apresentou taxa de 18,1% de homicídios estimados por habitante.