Arrecadação de direitos autorais no setor de shows e eventos apresenta queda durante pandemia

por Isabela Lobianco
Arrecadação de direitos autorais no setor de shows e eventos apresenta queda durante pandemia

Foto: Reprodução | Freepik

A arrecadação de direitos autorais no setor sofreu uma queda de 5%; antes do isolamento ser decretado, o segmento registrou um aumento de 12% em relação ao mesmo período do ano interior.

Por Isabela Lobianco | Foto: Reprodução/Freepik

A pandemia do COVID-19 causou uma retração de 5% na arrecadação de direitos autorais do segmento de shows e eventos, segundo informes do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), que contabiliza a arrecadação de direitos autorais nas categorias de Televisão, Serviços Digitais, Usuários Gerais, Shows e Eventos, Rádio e Cinema. Mas qual era a situação antes do isolamento? 

No período de janeiro a março de 2020, logo antes da proliferação do vírus por todo o território brasileiro, o segmento de shows e eventos operava com 12% de crescimento em comparação com o mesmo período de 2019. A música ao vivo desempenha a função de lazer na vida de muitas pessoas, como na vida de Gabriel Vianna, estudante de Cinema e Audiovisual pela PUCPR. O aluno explica que, desde os dez anos de idade, quando viu seu primeiro grande show, ver shows se tornou uma prioridade. “Então, eu tinha 13 anos de idade e o que eu pedia era ingresso para o show; era aniversário, era Natal e eu queria ingresso para show”.

A disseminação da COVID-19 foi classificada como pandemia no Brasil pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020, tendo seu fim oficialmente apenas em maio de 2023. No entanto, no começo de 2022, vários estados brasileiros afrouxaram as medidas protetivas após a diminuição de casos e avanço da vacinação. 

No entanto, enquanto os brasileiros assistiam a tramitação da compra e do desenvolvimento das vacinas de suas casas, o setor de shows e eventos sofreu ao participar com apenas 4% na arrecadação de direitos autorais em 2021 dentro das categorias de Televisão, Serviços Digitais, Usuários Gerais, Shows e Eventos, Rádio e Cinema. O ano foi marcado pela recessão dessa indústria na modalidade presencial e ascensão do on-line. Na categoria de serviços digitais em 2021, os direitos autorais arrecadados geraram um montante 36,6% maior em comparação ao de 2020.

 

Para Clóvis Roman, assessor musical da Toplink Music, a pandemia exigiu que os artistas adotassem outras estratégias para continuar viabilizando suas carreiras financeiramente; entre elas, a principal foi a migração para as lives on-line e ações para arrecadação e disseminação por outros meios. “Nessa época que estavam sem poder fazer show, houve outras ações para sustentar a equipe, porque um artista na turnê […] normalmente tem mais, pelo menos, cinco ou seis profissionais juntos”.

Em observância dos efeitos que a falta de shows e eventos durante a pandemia causaram, Roman ainda reitera que os artistas “estão tendo que fazer mais shows, porque a renda foi brutalmente minimizada com a questão da pandemia, quase dois anos sem poder fazer show”.

No entanto, sobre os efeitos da produção musical durante a disseminação do coronavírus, Clóvis relata que os artistas tiveram que se adaptar ao novo modo de trabalho: “Aquele período da pandemia mudou o comportamento geral, tanto na questão pessoal, quanto na questão profissional, e com os músicos não foi diferente. Mas acho que muitos artistas tiveram mais tempo para se dedicar e focar nos seus álbuns no período de isolamento”.

Já em 2022, com o declínio das medidas restritas e abrandamento dos casos de COVID-19, a arrecadação no segmento de shows e eventos chegou à marca de 13,4%, nove pontos percentuais a mais do que os 4% de participação no ano de 2021. 

Vianna explica que, durante a pandemia, ele teve mais tempo para fazer da audição de álbuns realmente uma atividade à parte em vez de colocá-la como um plano das atividades da rotina. O estudante retoma o alto índice de reprogramação ou cancelamento total dos eventos que haviam sido planejados nos anos de lockdown: “Para mim, o mais complicado da pandemia foi um show que eu já tinha comprado, que era um tributo da Rita Lee feito pelo filho dela, Beto Lee e que ia contar com a participação especial dela. Então, depois da pandemia, quando eles foram voltar a parada ela já tinha piorado muito de saúde e morreu, então eu nunca vi a Rita”, desabafa o aluno.

Sobre a retomada de shows e eventos no pós pandemia, Clóvis conta que a retomada foi vigorosa e que os shows que aconteceram tiveram excelentes públicos. Além disso, o assessor entende que o cenário de shows após o abrandamento da COVID-19 foi até mais movimentado do que antes do isolamento: “Mais shows com bons públicos, com renda, com lucro, levam a outras turnês, a outros artistas virem pra cá”.

O relatório do ECAD com os dados de arrecadação e distribuição de direitos autorais de 2023 ainda não foi divulgado.

 

Esta reportagem foi desenvolvida na disciplina de Jornalismo Investigativo do curso de Jornalismo da PUCPR. 

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