Apesar de queda nos números oficiais, casos de violência doméstica aumentam na pandemia

Especialistas explicam que maior convívio das vítimas com os agressores é uma das causas para o aumento
Por Beatriz Artigas
No Brasil, o número de casos de violência doméstica relatados no canal 180 (Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência) cresceu 40% em abril, comparado ao mesmo período em 2019, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Assim como o número de ligações para o 180, a pesquisa do termo “denunciar violência doméstica” aumentou no Google entre os meses de março e novembro deste ano: dia 1º de julho foi o dia com mais pesquisas feitas.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o registro de ocorrência das delegacias diminuiu: as mulheres estão denunciando cada vez menos. A advogada Fernanda Ávila, que atua na área de violência doméstica, também acredita que os casos aumentaram devido a maior convivência das vítimas com os agressores durante o isolamento social. “Há casos em que a própria vítima trabalhava fora e agora passa muito mais tempo com o agressor dentro de casa”, afirma.
Em razão disso, a Lei 14.022/20 foi sancionada em julho de 2020. Com ela, os serviços essenciais como prazos processuais, apreciação de matérias, atendimento e concessão de medidas protetivas para casos de violência domésticas serão mantidos, sem qualquer suspensão. Não somente para mulheres, mas também crianças, idosos e pessoas com deficiência.
Mas, ainda segundo o FBSP, o número de feminicídios aumentou 22,2% nos meses de março e abril de 2020. Segundo a mesma pesquisa, no Acre, o aumento foi de 300%. Na análise, o Fórum ressalta que esses dados de feminicídio foram extraídos de boletins de ocorrência feitos na Polícia Civil, ou seja, são considerados somente os casos registrados imediatamente como feminicídio. Ainda foi ressaltado, no relatório, que é provável que o número de vítimas seja maior, pois após a conclusão dos outros inquéritos também podem ser considerados como tal crime.
Os dados do mesmo relatório mostram que as redes sociais também são um indicativo de que a violência doméstica tem aumentado durante a pandemia. Entre fevereiro e abril de 2020, no começo da quarentena no país, houve um aumento de 431% nos relatos de brigas entre vizinhos no Twitter. Essa porcentagem representa 52 mil menções de brigas de casais vizinhos nesse período. Fernanda Ávila comenta que as tensões cotidianas ficam mais intensas e a violência mais latente, especialmente nos relacionamentos em que ela já estava presente
Gráfico: Google Trends
O gráfico acima mostra o número de pesquisas feitas no intervalo de março a novembro de 2020. 100 é o número que representa grande interesse no termo pesquisado, 50 médio e 25 baixo interesse.
No Google, os estados onde mais apresentam as pesquisas sobre violência doméstica desde março até o início de novembro são Roraima, Alagoas, Amapá, Rio Grande do Norte e Tocantins. Sendo Amapá e Rio Grande do Norte os estados que estão entre os que mais tiveram registros de ocorrências de violência doméstica (lesão corporal dolosa) no começo da pandemia.