Apenas 1 entre 3 mães paranaenses leem livros para os filhos

Mais de 60 bibliotecas públicas foram fechadas nos últimos 5 anos em Curitiba, complicando os hábitos de leitura da maioria da população
Por Bernardo William | Foto: Bernardo William
Faltam hábitos de leitura em grande parte das famílias paranaenses, especialmente no que diz respeito às mães e pais lerem livros para os filhos. Apenas um terço das mães mantêm esse hábito, segundo pesquisa conduzida pela empresa de auxílio à maternidade Famivita em janeiro deste ano, e menos da metade dos pais acompanham os filhos na leitura, segundo pesquisa da fundação literária Revista de Letras. Em Curitiba, mais de 60 bibliotecas foram fechadas nos últimos 5 anos, complicando os hábitos de leitura da maioria da população.
Somente 37% das mães paranaenses afirmam terem lido livros para seus filhos nos últimos 12 meses, colocando o estado na 20ª colocação na pesquisa. O Paraná terminou em último lugar em outra pergunta, questionando os entrevistados se seus pais liam para eles na infância. Em Curitiba, o quadro é semelhante: 44% das crianças curitibanas afirmam que seus pais lêem livros para eles, e apenas 28% afirmaram ter um acompanhamento dos pais nas leituras escolares, segundo levantamento mais recente da Revista de Letras, publicado em 2019.
Uma pesquisa análoga revela que mais de 60 bibliotecas públicas em Curitiba tiveram seu funcionamento suspenso nos últimos cinco anos, representando uma queda de 71,1% no número de bibliotecas na cidade, segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas. A situação é semelhante no painel nacional, na qual 764 bibliotecas foram fechadas no mesmo período, representando uma queda de 14%.
De acordo com a pedagoga Kareen Vendolin, isso é extremamente preocupante. “A falta de leitura e de leitores interfere no desenvolvimento dos jovens, dos adultos, dos profissionais e nos aspectos culturais do país, que é fundamental para melhorar o desempenho da nação.” Para ela, o fato de Curitiba ser uma das capitais mais desenvolvidas do Brasil, com bastante protagonismo das tecnologias modernas que substituem o contato com livros e os relacionamentos pessoais, contribui para que a cidade tenha um desempenho tão caótico na pesquisa.
A profissional explica, ainda, que é essencial que a leitura comece nos primeiros anos de vida de um indivíduo. É nesse momento que ele desenvolve o gosto pela aprendizagem, além de estimular a capacidade da criança de ampliar seu vocabulário, sua comunicação e seu desenvolvimento cognitivo, intelectual e social, principalmente quando posta em prática constantemente.
A consultora de marketing Cristina Pires ainda mantém um bom hábito de leitura para si própria e para seu filho de 6 anos, João Vitor. Ela conta que seus pais não liam para ela quando criança e isso a estimula ainda mais a manter esse hábito com o filho. “Eu estou mudando um pouco esse ciclo, dando para ele aquilo que os meus pais não deram para mim.”
Ela e o marido Ronie mantêm uma rotina diária de leitura com o filho. Eles lêem histórias dos mais variados tipos, sendo livros famosos da literatura, livros educativos da escola ou as histórias da Bíblia. Cristina percebe que a leitura diária o incentiva na aprendizagem, na imaginação e na criatividade, tendo até escrito um mini-livro no último ano.
O preço dos livros no Brasil é um complicador para a consultora de marketing manter um bom hábito de leitura. A biblioteca da escola onde seu filho estuda ajuda bastante, mas às vezes, para ter um livro que o filho quer, precisa comprar da livraria. “Gostaria que fosse mais acessível, até porque pessoas com recursos mais limitados que os nossos acabam não criando o hábito de ler porque fica cada vez mais caro”, observa.
O preço dos livros é uma questão que afeta a maioria dos leitores brasileiros, nos quais 68% são das classes C, D e E, de acordo com o Instituto Pró-Livro. Nos últimos 7 anos, o preço dos livros no Brasil subiu mais de 14%, segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros. Atualmente, o preço médio dos livros se encontra em R$43,42. Em 2015 o preço girava em torno de R$37,97.
Segundo o bibliotecário Bruno José Leonardes, as bibliotecas têm o papel de frear esse problema e tornar os livros acessíveis para a população, especialmente para aqueles que o preço dos livros é um complicador maior. Para ele, o fechamento das bibliotecas agrava ainda mais esse cenário. “Temos uma situação complexa em Curitiba, fecha-se muitas bibliotecas e isso atinge ainda mais esse público de pessoas que não tem condições de comprar.”
Para ele, a falta de políticas públicas de incentivo à leitura por parte do governo complica ainda mais esse cenário. Ele conta que existem legislações, como a Lei do Livro, que exige que todas as escolas tenham uma biblioteca, mas as leis não são cumpridas e não há incentivo suficiente para a boa preservação dos espaços culturais de leitura ou para assegurar o acesso ao livro à população.
Ele conta que as bibliotecas comunitárias, como os Faróis do Saber, acabam ganhando maior destaque social nesse contexto e mantêm o gosto pela leitura vivo na população. “As próprias pessoas da comunidade conseguem doações para conseguir livros e suprir essa necessidade, o que beneficia não só a população carente, mas todo mundo que quer ler”, completa.
De acordo com a chefe de divisão de extensão da Biblioteca Pública do Paraná, Marta Sienna, as bibliotecas escolares têm uma maior proeminência em Curitiba, sendo essenciais para a educação da juventude da cidade. Segundo ela, são 150 bibliotecas escolares em funcionamento, representando 69% do número de bibliotecas da cidade, além de 41 comunitárias, 27% do total, 23 públicas, 10%, e 3 bibliotecas temáticas, completando 1% do total.