Adolescentes representaram 10% das grávidas de Curitiba em 2022

por Isadora Lara Guerra
Adolescentes representaram 10% das grávidas de Curitiba em 2022

Falta de informação sobre os anticoncepcionais é a principal causa de gravidez indesejada, dizem ginecologistas

Por: Isadora Lara Guerra | Foto: Isadora Lara Guerra

Do número total de grávidas em Curitiba em 2022, 10% eram adolescentes. O dado é da Rede Mãe Curitibana Vale a Vida, da Secretaria Municipal da Saúde, que aponta que o número de mães menores de 18 anos reduziu na cidade após o aumento de casos durante a pandemia.  

Representante do órgão, a médica ginecologista e obstetra Karina Prosdócimo afirma que isso se deve à política pública de planejamento familiar da capital paranaense. Uma dessas medidas é a distribuição de DIUs para as adolescentes. Somente no ano passado, foram entregues 2.105 unidades. 

Os números de Curitiba se mostram positivos quando comparados com uma pesquisa realizada pelo Observatório Nacional da Família, na qual verificou-se que as mulheres estão iniciando suas práticas sexuais cada vez mais cedo no Brasil, com média de idade de 13,8 anos. Apesar da redução nos últimos anos, o país ainda apresenta dados elevados de gravidez na adolescência. A mesma pesquisa mostra que 14% dos nascimentos em todo o território nacional no ano de 2020, equivalente a 380 mil casos, foram de mães com até 19 anos. Em complemento a essa informação, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que cerca de 40% das gestações em todo o mundo são “não planejadas”.  

Karina conta que o município fornece todos os meios de métodos contraceptivos além de constantes atividades voltadas à saúde e qualidade de vida dessas mulheres. A prefeitura possui o cadastro de todas, mas o alcance dessas informações ainda é um desafio. “Muitas mulheres não conhecem todos os nossos trabalhos e ficam surpresas ao descobrirem a quantidade de serviços disponíveis”, avalia a profissional. 

As gravidezes indesejadas podem ocorrer por uma série de motivos. Questões emocionais, psicossociais e contextuais também contribuem, inclusive para a falta de acesso à proteção social e ao sistema de saúde, englobando o uso inadequado de contraceptivos, mas principalmente é estabelecido um ciclo mantido pela desinformação.

Conforme consta em pesquisa realizada pelos Hospitais e a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo uma das causas é a despreocupação com o uso de anticoncepcionais. O levantamento mostra que 17,6% das jovens universitárias não utilizam nenhum dos métodos disponíveis pela medicina em Curitiba. 

De acordo com o ginecologista e obstetra Ovídio Cristiano Rohde, do Hospital Policlínica, o melhor método é a educação. “Uma injeção no cérebro, no corpo e na alma”, diz ele, que avalia que a grande maioria das jovens não tem essa condição. O profissional acredita que a resposta está em políticas públicas com ensino de qualidade, para ensinarmos sobre métodos e saúde sexual. “Provavelmente, se as mulheres em classes mais baixas tivessem esses conhecimentos, elas iriam atrás e fariam o melhor uso desses meios pois eles existem e estão disponíveis, mas infelizmente esse conhecimento não chega a todas”. 

A percepção é corroborada por um estudo da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que aponta que a gravidez na adolescência ocorre com maior frequência entre as meninas com menor escolaridade, menor renda, menor acesso a serviços públicos, e em situação de maior vulnerabilidade social. 

 

[box type=”info”] Um avanço na lei

Desde o último dia 5 de março, há uma lei nacional em vigor que facilita o acesso a laqueadura e a vasectomia. A idade mínima para homens e mulheres realizarem a cirurgia de esterilização voluntária passou de 25 para 21 anos. Quem tem dois ou mais filhos vivos pode realizar o procedimento a partir dos 18 anos, se assim o desejar. A lei 14.443/2022 no caso das mulheres também dispensa o consentimento do cônjuge, um grande avanço na garantia dos direitos sexuais e reprodutivos. Para as mulheres grávidas, permite que solicitem a laqueadura durante o ato do parto. Basta emitir um aviso de 60 dias de antecedência da data prevista para o parto, o que não era permitido na legislação anterior, datada de 1996.
Vanessa Kruger, ginecologista e obstetra da Clínica Salus, reforça que a escolha deve sempre ser da mulher, que é um direito dela, mas ressalta sua preocupação em relação ao fator da idade. “Devemos na maioria dos casos preferir métodos reversíveis e temporários. Hoje temos muitos métodos tão seguros quanto, sem serem definitivos. Já vi muitos casos de pacientes se arrependerem e é muito difícil assistir”. Em relação à dispensa do consentimento do cônjuge, ela apenas afirma “já havia passado da hora”.
Caso ocorra a esterilização em desacordo com a lei, a pena prevista é de dois a oito anos de reclusão e multa. Mas pode ser aumentada em um terço dependendo da situação, como parto ou aborto sem aviso prévio de 60 dias.[/box]

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