A tradição da poesia no Paraná

Apesar da poesia nacional ser voltada mais ao cenário de Rio de Janeiro e São Paulo, o Estado tem uma história de grandes poetas, inclusive nos dias atuais
Por Carla Tortato
A Academia Paranaense da Poesia e a Feira do Poeta, localizada no Largo da Ordem, tem uma programação movimentada para quem gosta e escreve poesia. Há atividades que permitem a interação com os poetas da cidade, apresentações, declamações, encontros e oficinas. Vários poetas têm despontado no cenário paranaense, muitos inclusive têm obras publicadas.
De acordo com o coordenador da Feira do Poeta, Geraldo Magela, o primeiro poeta paranaense que se tem registro é o Fernando Amaro, que apesar de deixar uma vasta obra, não obteve reconhecimento em vida. Magela afirma que o século XIX foi um período fértil para a poesia no Paraná. Depois de Amaro, surgiram outros poetas de grande importância para o Estado como: Júlia da Costa, Dario Vellozo, Emiliano Perneta, Helena Kolody, Paulo Leminski, entre outros.
O coordenador, que também escreve poesia, conta que a Feira do Poeta reúne muitos autores contemporâneos. Desde que foi reaberta em 2015, cerca de 300 autores passaram pelo local. Segundo o mesmo, Curitiba se tornou uma cidade culturalmente efervescente com relação à escrita poética, pois sempre surgem autores novos. “Nós temos mais poetas do que leitores, é aquela velha história, leitor de poesia vira um poeta em demasia”, afirma Magela.
O professor de Literatura da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Guilherme Gontijo Flores diz que a poesia nacional ainda tende a olhar para a produção de São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo o mesmo, a escrita poética nessas regiões é considerada a poesia brasileira, enquanto os estados mais periféricos – como o Paraná – ficam mais restritos a obras de ordem local. Por isso, a poesia paranaense em geral não costuma ter alcance nacional, há um certo preconceito com a produção regional, o que é um equívoco, relata o professor.
Para Ademir Demarchi, que já publicou duas antologias de poetas paranaenses, a poesia no Estado é muito rica, com muitos autores escrevendo, sobretudo em Curitiba. Demarchi destaca o interesse pela tradução da poesia de diversas línguas. Ele conta que o núcleo de tradutores têm tido grande repercussão no país e publicado muitos livros importantes. Além disso, Demarchi fala da importância do movimento transitório da poesia, pois o contato com outros escritores é uma experiência enriquecedora para os artistas.
A presidente da Academia Paranaense da Poesia, Lilia Souza, diz que um dos principais objetivos da instituição é garantir o respeito pela escrita poética, desenvolvê-la e fazer um trabalho junto à comunidade. Ela conta que a Academia tem todas as atividades abertas ao público e afirma a necessidade de difusão da poesia. “Precisamos que o ensino ajude a divulgar e a mostrar a poesia com mais paixão para os alunos”, diz ela.
Lilia, que também é poetisa, conta que desde a adolescência escreve poesia. Para ela, a inspiração pode surgir a qualquer momento e a partir de qualquer coisa. Por isso, carrega sempre uma caneta e um bloquinho. “Eu não consigo mais viver sem poesia, para mim ela está em tudo, eu sinto necessidade de ler, de escrever, faz parte da minha vida”, relata Lilia.
Para o estudante de História Vinícius Tomaz Pezzetini a poesia serve para retratar algo que as pessoas passam. “Eu vejo a poesia como um reflexo individual de cada um”, afirma. O jovem conta que começou a se interessar pela escrita poética na infância, mas foi na escola que seu interesse aflorou. “A poesia é uma forma de mostrar sentimento, de se expressar”, diz Pezzetini.
O poeta Lucas Matoso utiliza as redes sociais para publicar suas poesias. Ele comenta que isso possibilita um amplo alcance para seu trabalho e aumenta a interação por parte do público. Para o jovem, ela é uma forma de se expressar. “Eu costumo dizer que escrever uma poesia é apenas libertar as mãos para transcreverem o que está guardado no coração”, afirma Matoso. Atualmente quase 4 mil pessoas acompanham seu trabalho pela internet, apenas alguns meses desde que começou a publicá-las, em outubro de 2018.