A ausência do futebol impacta a vida dos brasileiros?

A incerteza da volta do esporte está deixando jogadores e torcedores aflitos
Por Arthur Henrique de Lima Santos, Maria Clara Monteiro e Ana Luíza
Em meio às incertezas da pandemia do COVID-19, o futebol tenta voltar à normalidade. Junto à esperança da volta do esporte, existe a preocupação de que ainda é muito cedo para o retorno das atividades, tendo em vista a situação no Brasil, que piora a cada dia. Em alguns países da Europa, que estão mais avançados no controle da doença e conseguiram manter o controle do vírus, o retorno da prática esportiva é mais viável. A primeira liga europeia a retomar as atividades foi a Bundesliga, na Alemanha, mas existem outras que já voltaram à ativa como a Premier League, na Inglaterra, e a La Liga, na Espanha.
A falta do futebol não só afeta os times e as instituições futebolísticas, mas, também, os torcedores, que consideram o esporte como um estilo de vida, e jogadores, que vivenciam o esporte de maneira ainda mais intensa. João Ricardo Cozac, psicólogo da área esportiva há mais de 30 anos e presidente de Associação Paulista de Psicologia do Esporte, diz: “Eu diria que os jogadores sentem muito mais, pois estão acostumados à rotina de treinamento, a endorfina, motivação com os jogos, contato com a torcida… a preparação como um todo. Mas os torcedores, principalmente os mais apaixonados, também são afetados, já que o futebol é uma modalidade que possui uma conexão muito estreita com o povo brasileiro”.
Cozac também informou que recebeu diversos jogadores de equipes de futebol brasileiras para atendimentos online durante o isolamento social, atletas que estão sofrendo com a situação e apresentando altos níveis de ansiedade, por conta do medo de voltarem a jogar, já que pouco se sabe sobre a pandemia, cientificamente falando, e o esporte possui muito contato físico. Além disso, o fato de ninguém ter noção do que vai acontecer com os campeonatos que estavam em curso, ou que já deveriam ter começado, causa uma ânsia, e até mesmo insegurança, ainda maior.
O zagueiro Rafael Lima, do Coritiba, confirmou essa preocupação: “Quando parou primeiramente foi difícil, porque é uma coisa nova, não sabíamos se o retorno do futebol seria rápido ou se ia demorar como está demorando”.
O jogador ainda aproveitou para comentar sobre suas expectativas para o retorno: “Eu, particularmente, quero treinar cada vez mais para estar preparado para quando o campeonato retornar”. Além disso, Rafael Lima ainda contou como aproveitou o seu tempo enquanto estava isolado: “Na realidade quando estou em casa, e até nos hotéis de concentração, eu costumo ler muito. Tenho como hobby assistir séries e muita leitura”.
Os jogadores foram os mais afetados, mas com certeza os torcedores apaixonados por seus times, e que também vivenciam o dia a dia das instituições, experienciam esse sentimento de “vazio”. O coxa-branca Glauco Arruda, apaixonado pelo clube que frequentou todos os jogos no Couto Pereira nos últimos cinco anos, disse que nem é o esporte em si que traz mais saudade: “Sinto muita falta das confraternizações com os amigos. De assistir até que nem tanto, pensei que fosse ser pior. Serviu para dar uma folga para a mente, porque eu estava muito estressado”.
Alguns estão tentando distrair a mente com outros hobbies, enquanto o futebol se encontra paralisado. Assim como o zagueiro Rafael Lima, Henrique Ventura, torcedor do Paraná Clube, se apegou à leitura para ocupar a mente: “Meu humor foi totalmente afetado pela falta de esporte. Tenho lido mais para compensar um pouco essa sensação”. Já seu xará, Henrique Stockler, que torce para o Athletico, está usando o tempo que o futebol vagou em sua vida para começar planos que antes da pandemia estavam esquecidos.“Tenho usado o tempo livre pra fazer algumas coisas que eu não fazia, que estavam meio engavetadas, como estudar algumas coisas”, diz.
Algumas emissoras se utilizaram das reprises para suprir a lacuna que os jogos ao vivo deixaram, mas, por mais que seja divertido relembrar um jogo que entrou para história, o fato de você saber o resultado acaba tirando um pouco da magia.
“Confesso que assisti a poucas reprises. Não me empolguei. Só a final de 1985, e porque o Coxa estava envolvido. A mim não atraiu muito”, disse Glauco. O mesmo aconteceu com o atleticano fanático Henrique Stockler. “Eu particularmente não gosto muito de reprise. Assisti à final da Copa do Mundo de 2002 e o jogo do título brasileiro do Athletico em 2001. Quando você não está assistindo ao vivo perde a essência, aquela emoção.” A opinião do paranista Henrique Ventura se mantém próxima à dos seus rivais: “Foi legal pois nem sempre se tem tempo para buscar jogos históricos, e agora com tempo de ‘sobra’ as reprises entram nesse espaço. Mas nem de longe é a mesma coisa”.
Ainda não temos previsão de retorno, tanto para o campeonato estadual quanto para os torneios nacionais realizados pela CBF.