Comunidade LGBTQIA+ representa menos de 1% das candidaturas no Paraná

Faltando 24 dias para o primeiro turno das eleições, representantes LGBTQIA+ lutam por espaço
Por Millena Lechtchechen | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Menos de 1% dos candidatos concorrendo às eleições municipais deste ano no Paraná se identificam como membros LGBTQIA+. As estatísticas de eleição do TSE registram que, no estado, entre os 10.307 candidatos que optaram por divulgar sua orientação sexual, apenas 123 se identificam como parte da comunidade LGBTQIA+. No relatório não constam pessoas autodeclaradas transexuais ou assexuadas. Um total de 23.547 dos candidatos optou por não fazer qualquer declaração (69,55%).
Segundo o IBGE, em 2019, cerca de 2,9 milhões de brasileiros se declararam homossexuais ou bissexuais no país. A pesquisa destaca também que 1,1% da população de 18 anos ou mais (ou 1,7 milhão) respondeu não saber sua orientação sexual. Já 2,3% não quiseram responder, o que corresponde a 3,6 milhões de pessoas. Os jovens de 18 a 29 anos apresentaram o maior percentual de pessoas que se declararam homossexuais ou bissexuais (4,8%).
De acordo com uma pesquisa realizada, na América Latina, pela Luminate Group em 2023, 59% dos entrevistados no Brasil defendem o aumento da participação representativa LGBT+ na política, sendo destaque entre outros países participantes do relatório, como Argentina (55%), seguido por Colômbia e México, ambos com o percentual de 51%. Vale destacar, que as mulheres brasileiras compõem 65% das apoiadoras do país.
Curitiba tem 16 candidatos LGBTQIA+
Segundo o TSE, na capital paranaense, entre os 761 candidatos, apenas 16 são autodeclarados LGBTQIA+. Para Giovane Soares, drag performer de Curitiba, a comunidade tem conquistado, a passos lentos, avanços. Entretanto, a falta de representantes afeta a possibilidade de haver vozes ativas voltadas para a comunidade, que garantam inclusão e justiça. “Os candidatos devem abordar sobre nossa segurança pública e com isso fazer valer nossos direitos, pois muito se diz sobre isso, porém, quando sofremos LGBTfobia pouco se é feito”, afirma.
Sobre a importância de representantes LGBTQI+ ocupando cargos políticos, Giovane ressalta a relevância em trazer cada vez mais políticas públicas dirigidas ao público LGBTQIA+. “Seria uma forma de dar mais visibilidade para as coisas que enfrentamos.”
Entidade cria campanha “VotoComOrgulho”
Como forma de monitorar a participação de candidatos LGBTQIA+ nas eleições, foi criado em 2020 pela União Nacional LGBT+ o “Programa VotoComOrgulho”, com o objetivo de mapear as candidaturas da comunidade e aliados à causa. Nele é possível que os candidatos se inscrevam, concordando em aderir às propostas do programa, adquirindo um selo nas fotos de campanha e sua candidatura divulgada no site oficial.
Além disso, também é possível conferir as principais propostas de políticas públicas e de legislações no âmbito municipal que possam contribuir para a causa. Há também a possibilidade de qualquer pessoa enviar denúncias a respeito de discursos de ódio e fake news contra a população LGBT+, focando no combate de discursos homofóbicos contra as candidaturas.
Em paralelo, o grupo VoteLGBT+, em parceria com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), criou a campanha “Cidades LGBT+”, o qual realiza diversas atividades, como o mapeamento e divulgação de lideranças, produção de dados, incidência em partidos políticos, campanhas de sensibilização e suporte contínuo às lideranças. No site oficial, é possível cruzar dados específicos de cada região, filtrando os candidatos por partido e identidade. Ao selecionar um candidato, é possível ver suas prioridades para o mandato.
Combate às desigualdades
“Políticos LGBT+ ajudam a educar o público, reduzir preconceitos e fortalecer a democracia ao refletir a diversidade da sociedade e garantir que diferentes vozes sejam ouvidas”, afirma Gabriele Pinheiro, membro da direção da UNALGBT PR. “A presença de políticos LGBT+ aumenta a visibilidade das causas da comunidade ao ampliar a plataforma para suas preocupações, garantir cobertura midiática, propor políticas específicas, formar alianças, educar o público e desafiar estereótipos. Isso não só promove maior conscientização e aceitação, mas também inspira outros a se engajar e apoiar as causas LGBT+”.
A organização, criada em 2015 com o objetivo de levantar pautas a respeito das lutas LGBT+, ainda debate sobre a necessidade de políticas públicas no nível municipal sensíveis às necessidades específicas, que ainda carecem de atenção. Segundo a entidade , os direitos da comunidade estão ameaçados por políticas e práticas discriminatórias, como a falta de leis que protejam contra discriminação no emprego e na habitação, a restrição ao acesso a cuidados médicos adequados e especializados, incluindo saúde mental e tratamento para identidade de gênero, restrições na adoção e na obtenção de direitos parentais, a dificuldade em alterar documentos oficiais, além de enfrentarem vulnerabilidade a crimes de ódio e assédio, devido à falta de políticas eficazes e respostas adequadas das autoridades.
“A pouca inclusão de pessoas LGBT+ em cargos de liderança e conselhos consultivos limita sua representação e voz na política. Esses desafios evidenciam a necessidade urgente de políticas municipais que garantam proteção e inclusão para a comunidade LGBT+”, diz Gabriele.
Sete em cada dez pessoas no Brasil concordam que a desigualdade é o problema mais crucial ou um dos mais importantes enfrentados pelo país. Para 75% dos brasileiros, a responsabilidade de diminuir a desigualdade no país deve ser assumida pelo governo. Outra categoria que também se destaca no Brasil são as pessoas gays, lésbicas e bissexuais. 35% dos brasileiros, considera que esse grupo sofre tratamento desigual ou injusto, segundo os dados da Ipsos Equalities Index 2024. De acordo com pesquisa, também realizada pela Ipsos, em 2023 os brasileiros apontaram os LGBT+ como o grupo mais discriminado, seguido de mulheres e pessoas com deficiência.