Cresce busca por consumo de moda sustentável entre jovens de Curitiba

Com jovens impulsionando o mercado de revenda de roupas, a Geração Z representa mudança de mentalidade no consumo de moda
Por: Ana Maria Marques e Isabela Tamura | Foto: Adobe Stock
As buscas por alternativas de consumo sustentável de moda em Curitiba têm aumentado, especialmente entre o público mais jovem, devido à maior preocupação desse grupo na adesão de práticas ecológicas atreladas à indústria da moda e à retenção de impactos ambientais. O evento “Boqueirão Fashion”, que ocorreu nos dias 11, 12 e 13 de junho, captou a atenção dos curitibanos para o mundo do design de moda e, consequentemente, pôde proporcionar uma reflexão sobre os impactos ambientais causados pela indústria têxtil.
O comprometimento de jovens adultos com a prática de consumo sustentável é atestado pelo relatório “Resale Report 2023”, da ThredUp, que destaca que a moda de segunda mão está se tornando cada vez mais popular entre os jovens, especialmente a Geração Z. O relatório também aponta que o mercado de revenda de roupas deve crescer 127% até 2026, com o público mais novo impulsionando grande parte desse crescimento.
A prática de comprar roupas usadas se tornou comum entre os jovens, além de ser uma forma crescente de consumo de roupas desde 2020, levando em consideração que as atividades relacionadas à brechós cresceram 11,08%, na pandemia, segundo estimativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Um exemplo disso é a influencer digital formada em design Nicole Catherine, de 22 anos. Nicole adota o consumo de itens de brechós e a prática do upcycling de peças há seis anos, transformando roupas antigas em novas criações, conservando estilo e personalidade. Seu conhecimento e interesse pelo upcycling não apenas influenciam suas escolhas pessoais, mas também inspiram seus seguidores. A influenciadora utiliza suas redes sociais para compartilhar conteúdos de como fazer o upcycling e mostrar como é possível transformar roupas de forma criativa e sustentável.
O consumo responsável e a preocupação com a propagação de poluentes originados pela indústria têxtil não se restringem apenas à compra e ao uso de peças. O orofissional de Comunicação com pós-graduação em criação para Design de Moda Vinicius Schane atuou como orientador da “Residência criativa”, oficina que iniciou as atividades do Boqueirão Fashion 2024, e enxerga a sustentabilidade além do produto final. “É preciso pensar na sustentabilidade, além dos aspectos do material e do descarte, valorizando a produção e os detalhes que envolvem o processo e principalmente, as pessoas”. Vinicius ainda reforça que “a ideia de sustentabilidade intrínseca a esse processo, está na reflexão sobre a responsabilidade das nossas escolhas ao criar”.
Impactos ambientais da indústria da moda no cenário curitibano
No Brasil, o mercado da moda brasileiro terminou o ano de 2023 com 6,55 bilhões de peças comercializadas. Em contrapartida, de acordo com um levantamento feito pela ONU em junho de 2023, a produção de roupas gera entre 2% a 8% do volume global de emissões de carbono.
Mesmo com a adesão de uma nova mentalidade de consumo por parte dos consumidores, a pesquisadora e especialista em sustentabilidade Fátima de Carvalho aponta uma preocupação ao destacar a falta de controle no descarte de resíduos da indústria têxtil. “Em Curitiba, o nosso maior impacto ambiental é o problema dos resíduos depois do descarte das peças, além dos resíduos pós produção como retalhos, peças piloto não utilizadas e estoques não vendidos. Não existe uma coleta seletiva específica para isso na cidade, nem a triagem, nem a reciclagem. Geralmente, as empresas contratam uma terceirizada que leva para fornalhas de cimenteiras, isso quando não vão para aterros sanitários”.
Uma alternativa para reparar os impactos propagados, que atualmente tem sido incluída nos hábitos de consumo sustentável, é a compra de peças usadas. Fátima explica que o consumo responsável de roupas e principalmente a duração das peças é um dos principais meios de se conter a propagação de impactos ambientais na indústria da moda. “A prática mais sustentável, séria e importante, é mudar o comportamento de consumo; ou seja, comprar peças de roupas que vão durar e serem usadas por muito tempo, porque ,quanto mais tempo você usa, menos impacto ambiental você causa”, recomenda a especialista.