Paraná é o Terceiro Estado com Maior Número de Assassinatos de Pessoas Trans em 2023

por Mariana Uniati
Paraná é o Terceiro Estado com Maior Número de Assassinatos de Pessoas Trans em 2023

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Apesar de números alarmantes a violência contra mulheres trans ainda é um assunto negligenciado

Por Mariana Uniati | Foto: Mariana Uniati

Cerca de 84,4% da população LGBTI+ de Curitiba e região já sofreu descriminalização nas ruas, pela família ou no trabalho, segundo um estudo conduzido pelo Grupo Dignidade. Com isso, a prefeitura junto às ONGs e ativistas trabalham para tentar diminuir esses casos e trazer um ambiente mais seguro e acolhedor para pessoas transexuais. Entretanto, o Brasil seguiu pelo 15º ano consecutivo como o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo, com um aumento de 10% dos casos de violência em 2023 comparado ao ano de 2022, além de liderar também o consumo de pornografia trans nas plataformas de conteúdo adulto. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), o Paraná em 2023 registrou 12 casos de assassinato de pessoas trans, o que configurou o Estado em terceiro lugar no ranking nacional.

Mesmo sendo considerado crime enquadrado na lei 10.948 200, vários casos de LGBTFobia ainda ocorrem em Curitiba, o que resulta na baixa expectativa de vida das pessoas trans. Na média geral da população alcança os 75 anos, para as pessoas trans, esse número é reduzido para apenas 35 anos. É necessário destacar a importância de políticas públicas que assegurem os direitos da comunidade LGBTQIA+ junto com todos os setores da sociedade. 

O Deputado e ativista David Antunes, que também faz parte da comunidade LGBT, afirma que grande parte da violência começa não só dentro de casa, mas também na escola. Muitas jovens são colocadas para fora de casa muito cedo, com idades entre 14 e 15 anos. Em média, 95% dessa população não consegue terminar o Ensino Médio, e acabam indo para a prostituição. Uma realidade cruel mas que muitas vezes acaba sendo o único recurso para sobreviver.

Ele aponta a necessidade de uma Casa de Acolhimento para essas pessoas, onde disponibilize total suporte, que muitas vezes são negligenciadas pelas famílias, como concluir o ensino médio, iniciar um curso profissionalizante, ter um emprego, e finalmente, reintegrar essa pessoa à sociedade. Já que ainda existe falta de políticas públicas efetivas, apesar dos feirões de empregabilidade voltadas a pessoas trans. A sociedade precisa inserir mais essas pessoas e cobrar os direitos básicos assegurados por lei, como ter a educação, saúde e segurança pública.

David Antunes, ativista e deputado gay

 “Apesar de todos os perrengues, elas tentam se unir para vencer essa sociedade que é machista, homofóbica e transfóbica”, diz David Antunes.

O engajamento de toda comunidade é necessária para denunciar esses casos e garantir condições dignas à população. Caroline Silva, mulher trans e ativista, destaca que uma das maiores violências é quando são impedidas de usar o banheiro de acordo com a identidade de gênero, o que leva a violência física e a descriminalização. Resultado de visões preconceituosas que retratam as pessoas trans como ameaças à família. Por isso é necessário separar a questão da influência de ideologias religiosas e garantir a aplicação eficaz das leis contra a LGBTfobia.

Ela também relata que essa situação acontece muito pela falta de abertura para conversar sobre o assunto, por conta da escassez de informação e também da intolerância de muitas pessoas. Esse preconceito enraizado na nossa sociedade, acaba levando muitas vezes a uma visão errada das pessoas trans. Que acabam sofrendo da falta de apoio até mesmo dentro da própria comunidade LGBTQIA+,  perpetuando ainda mais a discriminação.

Caroline Silva, ativista e mulher trans

“A partir do momento que tivermos mais oportunidades para mulheres trans, acredito que vamos ter uma mudança geral no quadro de violência, prostituição e de marginalidade”, afirma Caroline.

No Sistema Único de Saúde (SUS) no Paraná, ainda é um desafio encontrar profissionais capacitados para atender pessoas trans. Mesmo com a instalação de lugares  como o Centro de Pesquisa e Atendimento a Travestis e Transexuais (CPATT) e o Ambulatório Municipal que dá o suporte a travestis, mulheres e homens trans, ainda tem problemas enfrentados nesse caminho. São medidas mínimas que poderiam auxiliar o enfrentamento à transfobia.

Projeto que inclui: Autoestima e Confiança

O mês da visibilidade trans tem como objetivo sensibilizar a comunidade, além de fortalecer o empoderamento da comunidade trans. Promovido pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), essa iniciativa representa um momento histórico na batalha pelos direitos trans e no combate à transfobia. Com isso muitos projetos acontecem ao longo desse mês que promovem união e representatividade. 

Corine Verona, ativista e mulher trans

Corine Verona, uma mulher trans, cabeleireira e ativista da causa, conta um pouco de sua trajetória. Além de sua atuação como cabeleireira e defensora dos direitos trans, ela também tem um projeto que oferece cortes de cabelo gratuitos durante o mês da visibilidade trans e também durante o mês do orgulho em junho, contribuindo para a promoção da inclusão e da autoestima da comunidade. Somente durante o mês de janeiro, reconhecido como o mês da visibilidade trans, com o dia 29 celebrando essa data, Corine ofereceu mais de 100 cortes de cabelo gratuitos. Além disso, ela também conversa abertamente com as pessoas sobre suas dificuldades e vivências, criando um espaço inclusivo e acolhedor para a comunidade  LGBTQIA+.

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