Casos de dengue afetam turismo e aumentam o desemprego no estado

por Breno Gallina
Casos de dengue afetam turismo e aumentam o desemprego no estado

Fila de espera para atendimento. Foto: Breno Zottis Gallina

Em março, o governo do Paraná decretou emergência em saúde pública. A medida pode resultar em um crescimento no desemprego e falta de investimento internacional

Por Breno Galina | Fotos: Breno Galina

Desde agosto de 2023, época determinada como Período Sazonal 2023/2024 pela Secretaria de Saúde do estado, os casos de dengue no estado estouraram. Chegaram a 113.194 casos confirmados e 60 óbitos pela doença. Esses números ultrapassaram o último período sazonal 2022/2023 por 39.266 casos confirmados. Os dados foram publicados no boletim epidemiológico do dia 19 de março. Somente na semana entre 12 e 19 de março foram 40.487 casos relatados, sendo 22.222 confirmados.

Enquanto em outros estados os casos das demais arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti, a Zika e a Chikungunya, são mais comuns, o Paraná demonstra menor presença das duas doenças. Nenhum caso de Zika foi oficialmente confirmado nesse Período Sazonal, e um houve um total de 91 casos confirmados de Chikungunya. Nenhuma das duas doenças possui casos de óbitos relacionados a elas. Essa falta de casos não deve ser confundida com segurança, entretanto, vendo que a epidemia de dengue está atualmente no seu auge.

O economista e coordenador do curso de Economia da PUCPR, Jackson Teixeira Bittencourt, apontou que a epidemia de dengue se espalha e afasta diversos profissionais do trabalho. Por isso, é possível que algumas empresas parem por falta de mão de obra qualificada que, dependendo do mercado, não é substituível. Tais afastamentos podem levar a uma queda da produtividade dessas empresas, se não o congelamento inteiro em casos mais sérios. Isso irá impactar diretamente a renda regional.

Bittencourt explica que o setor turístico paranaense será profundamente afetado, em especial as praias do estado. Os principais turistas do litoral do Paraná, que são os nossos vizinhos da Argentina, podem deixar de visitar as praias, cortando o lucro do setor de turismo do estado. 

O professor também revela que, devido ao alto número de casos da doença, em combinação com as novas políticas de comércio do governo, possíveis investimentos vindos do exterior podem ser adiados para um futuro mais economicamente estável. A mudança abre brecha para que possíveis investidores procurem outros locais mais atrativos. Esses fatores podem levar a um maior nível de desemprego regional, o que criaria um ciclo de menor renda que leva para menos consumo o que gera menos impostos para a coleta do governo, diminuindo a riqueza geral do país. A presença de casos tem um caráter heterogêneo, com momentos de maior intensidade da doença seguidos de quedas em casos (como visto em 2013 a 2016, e 2017 a 2018, respectivamente).

Coordenador Jackson Bittencourt.
Foto por Breno Gallina

Fortalecimento da presença de Dengue no estado 

A dengue, historicamente, se torna mais presente durante épocas de calor e umidade elevada. O início desde ano foi predominado pela presença do fenômeno meteorológico conhecido como “El Niño”, que gera alta precipitação, especialmente no outono. Além disso, os efeitos do aquecimento global intensificam a instabilidade meteorológica, agravando os focos do mosquito Aedes aegypti.  

Um estudo publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia apontou que, entre 2012 e 2021, os casos de dengue se tornaram mais comuns em anos mais recentes, especialmente 2020, com um índice de mais de 500 casos por 100.000 habitantes. O estudo também aponta que o surgimento da COVID-19 pode ter pressionado o Sistema Universal de Saúde para realocar funcionários da saúde, levando a uma epidemia durante essa época. Em cima disso, casos se tornam mais comuns onde existe um alto nível de urbanização em conjunto ao desmatamento de vegetação (padrão visto em metrópoles em desenvolvimento).

Tanto esse estudo quanto o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde apontam que a região Norte e Noroeste foram as regiões do estado mais profundamente afetadas na última década. O litoral do estado também apresentou um alto índice de dengue, com cidades como Paranaguá apresentando mais de 500 casos por 100.000 habitantes. Essa proporção de casos é o limite entregue pela Secretaria de Saúde do estado, e é o padrão em 129 municípios, contando com Maringá, Londrina e Guaratuba. 

Conclusões desse estudo, assim como estudos da FIEMG e da visão de Jackson Bittencourt, apontam que o principal culpado para os surtos e epidemias de arboviroses é a má gestão das finanças públicas e planejamento, particularmente de prefeituras e governos regionais.

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