Abrão Assad deu vida a Curitiba moderna

Com mais de 50 edifícios projetados, prêmio nacional de arquitetura, 40 anos como professor e sendo o primeiro brasileiro a ganhar o prêmio IF de Design, Assad tem legado marcado na história da capital paranaense como o arquiteto de presença em toda a cidade
Por Beatriz Moschetta Santos, Júlia Araújo e Raquel Wrege | Foto: Raquel Wrege
Nascido em 1940, Abrão Assad é um renomado arquiteto curitibano formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) que se destacou pelo seu estilo arquitetônico inovador que combina funcionalidade e modernidade. Responsável por vários projetos icônicos da capital paranaense, incluindo edifícios residenciais, comerciais e institucionais que redefiniram a paisagem urbana da cidade , o profissional se mantém relevante nos estudos de Arquitetura e Urbanismo das universidades.
Apesar de seu primeiro projeto ter sido o Edifício Sede da Petrobras no Rio de Janeiro em 1970, ao longo de sua trajetória o arquiteto encheu a cidade de Curitiba com obras notáveis como o Palácio Avenida, um símbolo do centro da capital, a sede do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, e o Edifício Banestado, que é uma das torres mais altas de Curitiba e serviu como sede do Banco do Estado do Paraná. Também foi responsável por diversos edifícios residenciais funcionais e ao mesmo tempo estéticos, como o Barão do Rio Branco e o Moreira Garcez, um dos primeiros arranha-céus da capital, e o Cine Ribalta, um antigo cinema com capacidade de mil lugares.
Assad também foi o autor do Teatro Paiol. Originalmente, um paiol de pólvora construído em 1906, o edifício foi transformado em teatro em 1971. O projeto de conversão preservou a estrutura histórica enquanto a adaptou para o novo uso cultural, se tornando um marco de Curitiba. Em 2022, a Prefeitura de Curitiba fez a recuperação do teatro que teve custo de R$463 mil. A instituição afirmou que a reforma na parte externa era necessária e urgente por conta de problemas no telhado, graves infiltrações e risco de colapsar a estrutura. Assad deixou claro seu posicionamento contra as mudanças através de uma carta e teve apoio de internautas que concordaram que a pintura feita na parte externa, substituiu as características originais do edifício. Essa foi a última vez que o arquiteto veio a público comentar sobre suas obras.
A arquiteta especialista em ambientações, Graziela Tonhozi, fala sobre Assad ter um legado na área desde quando ela fez seu curso de Arquitetura. “Ele era referência de criatividade, visão urbanística, inovação, além de ser um desenhista incrível!”. Ela visitou a Casa Assad, uma de suas obras menos conhecidas mas muito apreciada pelos arquitetos da cidade, onde Abrão mora até hoje com sua família.”Tive a honra de conhecer sua casa. Maravilhosa! Uma “caixa” sem nenhuma parede reta internamente e integrada no terreno arborizado.”
Abrão Assad é visto como uma figura inspiradora para muitos arquitetos por conta de seus “espaços integrados”, o arquiteto e urbanista Jeferson Demeterco, admira a técnica de Abrão. “O uso de materiais como o eucalipto, acrílico, a preocupação com a integração da arquitetura com o meio ambiente, os espaços urbanos, mobiliário urbano, circulação urbana, parece que ele tinha a intenção de fazer da cidade uma agradável como uma sala de estar, isso combina com a imagem de Curitiba.”
Demeterco vê a capital paranaense como um catálogo de obras de Abrão e sua equipe. Ele também acredita que o nome Assad merece mais divulgação, tendo sua assinatura muitas vezes atrás do ex-prefeito e arquiteto, Jaime Lerner com quem trabalhou em diversas ocasiões, moldando o urbanismo de Curitiba. “É, ele sempre foi muito reservado, mas pra mim ele é realmente um dos maiores arquitetos do Brasil.”
Sua prática profissional não foi a única contribuição para a cidade, Abrão também teve uma influência significativa para o campo acadêmico como professor na UFPR, influenciando as novas gerações de arquitetos com sua visão e como um dos fundadores do curso de Arquitetura e Urbanismo.
A estudante de Arquitetura e Urbanismo da UFPR, Júlia Celestino Andrioli, acredita que as ideias de Assad inspiraram o Brasil e marcaram positivamente a história da capital paranaense. “Gosto bastante das obras dele, apesar de serem muito diferentes entre si, elas contribuem em conjunto para a identidade visual de Curitiba”
Estações-Tubo, modernidade e sustentabilidade
A capital paranaense é reconhecida nacional e internacionalmente por um elemento essencial do sistema de transporte público, as estações-tudo. Abrão Assad, junto com outros arquitetos e urbanistas, se envolveu no desenvolvimento desse conceito inovador de transporte. A participação dele foi crucial na integração das estações com o tecido urbano, garantindo que elas atendessem às necessidades de mobilidade e também contribuíssem para a estética e funcionalidade da cidade.
O sistema BRT de Curitiba, incluindo as estações-tubo, serviu como modelo para diversas cidades ao redor do mundo, como Bogotá (TransMilenio) e outras cidades na América Latina, Ásia e África. As estações-tubo são estruturas cilíndricas de vidro e metal, elevadas do solo, com rampas de acesso que permitem que os passageiros entrem nos ônibus no mesmo nível do piso dos veículos, reduzindo o tempo de embarque e desembarque. Elas são fechadas e equipadas com portas automáticas, melhorando a segurança e o conforto dos usuários. Esse sistema, que foi influenciado pelas decisões do arquiteto, garantiu a ele em 1992 o prêmio do IF Design Award na categoria de Design de Produtos, sendo o primeiro brasileiro a ganhar.
Confira aqui uma galeria de fotos das obras de Abrão Assad em Curitiba:
https://drive.google.com/drive/folders/1uoBmtGcGPy9I-FBEvEQcWFjJ_KKvmvcg?usp=sharing