Com mercado de brechós em alta; Curitiba é referência entre garimpeiros

Agência de pesquisa aponta que o consumo de roupas em brechós já é uma tendência em busca de economia e sustentabilidade e o mercado de Curitiba já se mostra preparadoPor Isadora Gomes de Abreu | Fotos: Isadora Gomes de Abreu
O Paraná está em quinto lugar no ranking de estados brasileiros com mais brechós, de acordo com levantamento do SEBRAE. Hoje no Brasil existem cerca de 11 mil negócios ativos, segundo o SEBRAE, que também estima que esse mercado tenha crescido no Brasil em 48,85% entre 2020 e 2021. Consumidores de moda “second-hand” enxergam no brechós um alinhamento com valores mais éticos e sustentáveis possibilitando compras com mais economia. O Paraná está em quinto lugar no ranking de estados brasileiros com mais brechós, segundo levantamento do SEBRAE. O estudo “A (re)descoberta da moda seminova no Brasil” do grupo BCG estima que o mercado de itens de moda usados pode crescer de 15% a 20% até 2030.
A Associação Brasileira de Indústria Têxtil (ABIT) estima que a indústria da moda gera cerca de 174 mil toneladas de resíduos têxteis por ano e cerca de 50 bilhões de dólares são desperdiçados em peças que nunca serão usadas ou recicladas. Os medidores de impactos causados pela indústria da moda têm gerado preocupação entre consumidores. Gigantes das pesquisas de mercado como a WGSN e o Euromonitor definem como ‘Eco-econômicos’ e Sustentáveis os consumidores dos próximos anos.
A professora Neide Schulte é pesquisadora do departamento de moda da Universidade do estado de Santa Catarina (UDESC) e consumidora do ‘Second-hand’ explica que os brechós são um estágio essencial na moda circular. “É uma forma de aumentar o tempo de vida de uma peça, utilizando de processos que demandam menos energia para que a peça continue circulando e até se adaptando a diferentes formatos e funções”. Neide também expressa uma preocupação com o descarte de roupas no Brasil: “Estamos longe de um ideal de encaminhamento de matérias para reciclagem, faltam políticas de incentivo”
Com todo o desgaste ambiental, a indústria da moda precisa encontrar uma maneira de se manter relevante em meio ao desejo dos consumidores. Segundo a Associação Brasileira dos comercializadores de energia (Abraceel), 72% dos brasileiros abriram mão de outras compras somente para poder arcar com os gastos energéticos. O impacto excede as barreiras ambientais e chega também em pautas sociais de condições de trabalho. Pautados em uma crise financeira e cansados do desgaste socioambiental causado pela indústria da moda, a nova geração de consumidores tem procurado alternativas mais sustentáveis e baratas, encontradas no mercado de segunda mão.
O ‘Dig for Fashion’ é um dos brechós mais procurados de Curitiba nos últimos tempos. Claudine faz parte da equipe de marketing e concorda que a procura do público está de fato maior. “Nossa, total! Arrisco dizer que a pandemia foi um dos gatilhos principais para a grande onda dos brechós nos últimos anos. Foi a pandemia que reforçou nosso compromisso com um sentido de preservação, tanto em aspectos sócio-ambientais e culturais nos deixou levando algumas questões mais a sério”. Ela também reforça que acredita que brechós podem ser ambientes grandes, com peças variadas, preços acessíveis e um atendimento “cool”, para popularizar a moda sustentável cada vez mais pela cidade.
As redes sociais e a geração Z
Outro fator que tem contribuído como acelerador deste mercado são as redes sociais. Popularizados pela nova geração de usuários, termos como “Thrifting” e “garimpar” já fazem parte do vocabulário de consumidores de brechó. O modelo cresce nos negócios e nas redes sociais, nas quais a hashtag #Brechós já conta com 6,7 milhões de publicações.
A professora Neide observa que as compras em brechós são mais populares entre a geração Z e que a influência das redes sociais desempenha um grande papel neste comportamento: “Percebo uma geração que procura mais viver experiências do que bens materiais. Muitas vezes a compra de segunda mão te dá uma experiência de usar algo dos anos 70, 80 e imaginar como as pessoas da época viviam, quem ou quais eram as pessoas que passaram por essa roupa até ela chegar ali”.
Ana Laura tem 19 anos e conta que se sentiu mais motivada a procurar brechós quando viu algumas influenciadoras digitais frequentando esses espaços no ano passado. “Sistematizei na minha cabeça uma regra quando quero comprar roupas novas. Primeiro dou uma olhada nos brechós. Assim, acabo pagando bem menos e fico até com menos peso na consciência”.